A Reengenharia, no domínio das organizações, nasceu com o propósito reorganizar, reformular, redimensionar, racionalizar e reorientar as empresas para o mercado, tornando-as mais competitivas e lucrativas pela optimização da relação proveitos-custos.
Durante anos e anos os gurus da reengenharia venderam a receita e impuseram as suas regras. No essencial, a técnica consistia em reduzir os custos, metaforicamente equiparados a “gorduras”. Para tanto, eliminavam-se departamentos, fundiam-se empresas ou vendiam-se segmentos de mercado, culminando sempre com um significativo número de despedimentos, proporcional ao objectivo definido para a redução de custos.
Ainda hoje temos por cá alguns gestores seguidores desta metodologia. A receita dá sempre resultado porque é mais que certo que toda e qualquer organização aguenta dois três anos em turbulência interna, tempo suficiente para os accionistas verem que as medidas deram resultado, uma vez que tudo passa a ser medido em função da redução de custos. Três, quatro anos é o tempo que esses gestores passam à frente de uma empresa. Depois saltam para outra e outra.
A vida das empresas tornava-se cada vez mais complexa, o equilíbrio financeiro também. Começaram a aparecer “gurus” a darem receitas miraculosas. Sempre pagos a peso d’oiro. A bolsa tornou-se como que a medida de uma economia virtual, onde as sociedades de risco, fundos disto e daquilo funcionavam livres e desregulamentados, em nome do mercado e da economia global.
Os Estados, por sua vez, influenciados por gurus internos e externos e cada vez mais dominados pelos grandes grupos económicos, pouco intervinham no funcionamento da economia ou descuravam mesmo a desregulamentação, quando não eram agentes activos na constituição de grupos dominantes, através do mecanismo das privatizações e das parcerias público-privadas, medidas alicerçadas no princípio ideológico do “Estado mínimo”.
O problema, o grande problema, que nenhum homem da reengenharia ou guru anteviu, é que o caminho estava armadilhado e com tantas facilidades concedidas a um mercado sempre guloso, este acabou por cair numa crise tremenda, que só não é maior (ainda) porque os governos (BCE incluído) estão a usar o dinheiro dos contribuintes para salvar algumas das empresas, sem que entenda, muito bem, porquê umas e não outras.
Neste processo, a que o director do Público ousa qualificar de “reestruturação do sector financeiro”, (se tudo se passasse nos países do eixo do mal seria “fracasso do sistema” ou qualquer coisa bem pior) ficaram de fora os arautos da reengenharia e os gurus, também nada se diz quanto às responsabilidades dos decisores políticos e dos executivos das empresas falidas. Quanto a estes, o Público de hoje apresenta os “bónus”, em montante de muitos milhões de euros, que alguns gestores receberam, referentes ao ano de 2007, apesar da ameaça de falências das respectivas empresas.
Entretanto, as dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores, que perderam ou vão perder o emprego, têm sempre como alternativa “encontramo-nos na sopa dos pobres”, a exemplo da mensagem que um trabalhador da Lehman Brothers deixou registada na fotografia do CEO da empresa.
Como diria o outro, É a vida!
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