13 outubro 2008

CRISE, POLÍTICOS, ADMINISTRADORES, REGULADORES, MULTINACIONAIS DA AUDITORIA, RATING

O que mais se tem ouvido aos mentores do sistema financeiro que ruiu é que aquilo que o mundo, agora, precisa é de soluções para a crise e não de identificar as causas nem os responsáveis.

A política dos governos, a começar pelo governo americano, logo replicada pelos governos europeus, resolveu abrir os cofres públicos e colocá-los ao serviço do sistema financeiro que durante anos viveu (e vive!) faustosamente, que se auto remunerou e bonificou, que se fazia (faz) transportar em jactos privados ou em helicópteros particulares, que concedia férias em resorts a amigos e familiares, que dava crédito em função de duvidosos critérios, que atribuía chorudas e antecipadas aposentações, etc, etc.

Pois bem, quantos CEO, de empresas falidas ou de bancos, foram penalizados pela crise que geraram? Muita gente, milhares e milhares, perdeu empregos e poupanças que aplicaram na bolsa ou em fundos aconselhados por consultores financeiros. E os responsáveis pela crise, aqueles que usaram em proveito particular da confiança que accionistas e particulares lhe delegaram? Esses irão continuar a usufruir de todas as mordomias, durante os próximos tempos um pouco mais resguardados, para mais adiante aparecerem com o esplendor de sempre, para gáudio do povo e dos políticos, que até conferirão, a um ou outro, o grau de comendador.

Mas se aos administradores, banqueiros e gestores de sociedades financeiras ou mesmo de fundos imobiliários que ficcionaram resultados, que promoveram transacções virtuais, que inflacionaram activos e distorceram a informação que disponibilizaram para o mercado, se a esta gente nenhuma responsabilidade se exige (porque o que importa agora é buscar soluções), porque também nada se exige (nem se fala) às empresas de auditoria? E o que dizer do comportamento escandaloso das empresas de rating? Quem conhece o nome das multinacionais da auditoria e de rating, que aferiam e validavam as contas das empresas falidas ou das que não faliram porque os governos estão a injectar recursos públicos para as salvar?

Depois, temos, ainda, as entidades reguladoras, responsáveis pela supervisão e fiscalização, não só das transacções na bolsa, como da fiabilidade da informação financeira que sustenta os movimentos de capitais. Como a prática mostrou, estas entidades falharam em toda a linha. Ou não falharam e foram coniventes com a especulação. Em qualquer dos casos, os responsáveis por essas entidades estão a contas com algum processo ou continuam, calma e serenamente, a exercer a sua acção pseudo fiscalizadora?

Por todo o lado, em todo o mundo, tudo permanece como estava. As mesmas pessoas, o mesmo sistema, os mesmos reguladores, as mesmas multinacionais de auditoria, as mesmas empresas de rating, os mesmos alinhamentos e as mesmas conivências. O que faltava a essa gente era dinheiro fresco. Os governos acabam de lhe assegurar que têm dinheiro à ganância, sem custos acrescidos nem perda de bem-estar.

Como é óbvio, todos os governos vão dizer que o que estão a fazer é para bem de todos nós. E até (numa pequeníssima quota parte) pode ser. Só custa a entender é porque esse dinheiro público não apareceu mais cedo para os governos pagarem o que devem às PME, para romperem o ciclo de pobreza e criarem melhores condições de vida para as pessoas/contribuintes, que vão pagar a manutenção de um sistema financeiro que se mostrou não confiável.

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