JVC tire sa révérence
É verdade. O blog “meubloconotas” sai de cena. Não devia, digo eu, mas o João Vasconcelos Costa está já noutra, como me escreve.
Muitos dos meus leitores conhecerão este blog, fruto da inteligência (muita), da cultura (idem) do João. E de mais algumas pessoas que o entusiasmo do João arregimentou para a (boa) causa do ensino universitário e não só.
Eu sou amigo do João desde há décadas. Conheci-o através do meu irmão, quando ambos andavam em Medicina em Coimbra. Depois, como era norma do tempo, passaram-se para Lisboa onde continuaram a dar-se. Parece que se juntavam no velho “Bocage”, poiso do José Gomes Ferreira, do Abelaira e de mais alguns poetas e escritores. Imagino o que aqueles jovens estudantes estúrdios diriam dos “notáveis” que partilhavam o seu espaço.
Voltei a saber do João sempre que havia um desses vírus novos e tropicais. A televisão ia desencantar o senhor Professor Doutor para explicar a coisa. O João desempenhava o seu papel com segurança e rigor numa linguagem desarmantemente simples. O raio do homem tinha a vocação do Ensino (com letra grande) metida na pele.
Reencontrámo-nos fisicamente nas sessões dos “Estados Gerais” onde fazíamos uma perninha independente no Conselho Coordenador. Foi um tempo de esperança, igual a tantos outros por onde andámos empenhados e arriscando o canastro. Que o João, além de grande aluno, foi um dos homens fortes da R.I.A. em meados de sessenta (não sei mesmo se não terá sido seu Secretário Geral) e ao mesmo tempo estava metido até às orelhas no partidão. Isso no tempo em que a repressão era a sério e em que as denúncias e as traições além de serem frequentes eram o pão nosso de cada dia.
Um gajo destes, doublé de grande leitor, de imparável cozinheiro (com livro publicado: uma Bíblia para os gourmets!), dotado daquele humor açoriano que se temperou pelas europas, tinha por força que abrir um blog. Que teve (e tem) leitores fervorosos e dedicados para quem a notícia do fecho é uma má notícia.
Bem sei (ele já se tentou justificar) que há o cansaço, a ideia que poucos leitores se interessam pelo que dizemos, a concorrência feroz do dia a dia, o risco de termos de comentar constantemente a espuma do tempo, sei lá que chatices mais. Também sei que ele vai abrir uma coisa que me descreveu como um portal (que é que será isso?) onde poderá escrever textos longos sem receio que os leitores abandonem ao fim de dois parágrafos. Ou seja, o João vai continuar no éter, na estratosfera, nesta bolha, enfim nesta coisa de que não percebo patavina, mas tudo isso e o seu charme, o seu rigor, a sua indignação, as suas cóleras vulcânicas (ou não fosse ele dos Açores...), o seu humor, as suas frechadas sempre argutas e a acertar no alvo, não são suficientes para que não nos sintamos mais sós, mais desacompanhados.
Eu não sei se tenho muitos ou poucos leitores. Parece que há uma maneira de o saber mas, como sabem as leitoras gentis, eu sou um ignorante absoluto desta geringonça. A estimável Kamikaze, administradora deste blog considera-me um caso perdido mas, como toda e qualquer mulher bonita, ampara-me como se ampara um filho um pouco atontado. Com uma diferença: eu já não cresço. Ou melhor cresço para os lados, que o pneu está viçoso.
Pois bem, apesar de só saber dos leitores pelos comentários e pelos mails cá vou continuando a distribuir maravalhas, indignações e críticas con un palo dando y a Dios rogando. Também me canso, me farto, me irrito. Também sou tocado pela imortal deusa da preguiça (espero que haja uma no panteão grego, tão cheio de deuses oportunos e oportunistas), também descreio desta cruzada que o não é que eu para cruzadas já dei, fechei a loja há muito e não vai ser agora que a reabro. Desconfio de cruzadas, diga-se em boa verdade, mesmo (e sobretudo) das mais seráficas e inocentes. No outro extremo há sempre alguém que se lixa e eu não vim para redimir os humanos nem para servir de Vichinsky. Estou aqui como mera testemunha deste tempo armado de um computador MacBook Pro e da minha indignação. E do meu entusiasmo pelos livros, pelas pessoas e, já agora, por Mozart.
Percebo todavia que o JVC não pense da mesma maneira. Chateou-se e vai embora. Ou nem isso: vai para outra, mais séria, mais “portal” (seja lá isso o que for). Mas vai com, a minha saudade a minha amizade e a minha admiração: pelo que escrevia, como escrevia, pela elegância, pela ironia e pela vontade de ser útil. Raios partam os açoreanos...
Como prova de que sou um desastrado isto hoje sai tudo sublinhado. Juro que não estava assim no rascunho. As ilustrações reportam-se ao JVC himself e a dois (entre vários) livros que ele perpetrou: a ler sem falta!
É verdade. O blog “meubloconotas” sai de cena. Não devia, digo eu, mas o João Vasconcelos Costa está já noutra, como me escreve.
Muitos dos meus leitores conhecerão este blog, fruto da inteligência (muita), da cultura (idem) do João. E de mais algumas pessoas que o entusiasmo do João arregimentou para a (boa) causa do ensino universitário e não só.
Eu sou amigo do João desde há décadas. Conheci-o através do meu irmão, quando ambos andavam em Medicina em Coimbra. Depois, como era norma do tempo, passaram-se para Lisboa onde continuaram a dar-se. Parece que se juntavam no velho “Bocage”, poiso do José Gomes Ferreira, do Abelaira e de mais alguns poetas e escritores. Imagino o que aqueles jovens estudantes estúrdios diriam dos “notáveis” que partilhavam o seu espaço.
Voltei a saber do João sempre que havia um desses vírus novos e tropicais. A televisão ia desencantar o senhor Professor Doutor para explicar a coisa. O João desempenhava o seu papel com segurança e rigor numa linguagem desarmantemente simples. O raio do homem tinha a vocação do Ensino (com letra grande) metida na pele.
Reencontrámo-nos fisicamente nas sessões dos “Estados Gerais” onde fazíamos uma perninha independente no Conselho Coordenador. Foi um tempo de esperança, igual a tantos outros por onde andámos empenhados e arriscando o canastro. Que o João, além de grande aluno, foi um dos homens fortes da R.I.A. em meados de sessenta (não sei mesmo se não terá sido seu Secretário Geral) e ao mesmo tempo estava metido até às orelhas no partidão. Isso no tempo em que a repressão era a sério e em que as denúncias e as traições além de serem frequentes eram o pão nosso de cada dia.
Um gajo destes, doublé de grande leitor, de imparável cozinheiro (com livro publicado: uma Bíblia para os gourmets!), dotado daquele humor açoriano que se temperou pelas europas, tinha por força que abrir um blog. Que teve (e tem) leitores fervorosos e dedicados para quem a notícia do fecho é uma má notícia.
Bem sei (ele já se tentou justificar) que há o cansaço, a ideia que poucos leitores se interessam pelo que dizemos, a concorrência feroz do dia a dia, o risco de termos de comentar constantemente a espuma do tempo, sei lá que chatices mais. Também sei que ele vai abrir uma coisa que me descreveu como um portal (que é que será isso?) onde poderá escrever textos longos sem receio que os leitores abandonem ao fim de dois parágrafos. Ou seja, o João vai continuar no éter, na estratosfera, nesta bolha, enfim nesta coisa de que não percebo patavina, mas tudo isso e o seu charme, o seu rigor, a sua indignação, as suas cóleras vulcânicas (ou não fosse ele dos Açores...), o seu humor, as suas frechadas sempre argutas e a acertar no alvo, não são suficientes para que não nos sintamos mais sós, mais desacompanhados.
Eu não sei se tenho muitos ou poucos leitores. Parece que há uma maneira de o saber mas, como sabem as leitoras gentis, eu sou um ignorante absoluto desta geringonça. A estimável Kamikaze, administradora deste blog considera-me um caso perdido mas, como toda e qualquer mulher bonita, ampara-me como se ampara um filho um pouco atontado. Com uma diferença: eu já não cresço. Ou melhor cresço para os lados, que o pneu está viçoso.
Pois bem, apesar de só saber dos leitores pelos comentários e pelos mails cá vou continuando a distribuir maravalhas, indignações e críticas con un palo dando y a Dios rogando. Também me canso, me farto, me irrito. Também sou tocado pela imortal deusa da preguiça (espero que haja uma no panteão grego, tão cheio de deuses oportunos e oportunistas), também descreio desta cruzada que o não é que eu para cruzadas já dei, fechei a loja há muito e não vai ser agora que a reabro. Desconfio de cruzadas, diga-se em boa verdade, mesmo (e sobretudo) das mais seráficas e inocentes. No outro extremo há sempre alguém que se lixa e eu não vim para redimir os humanos nem para servir de Vichinsky. Estou aqui como mera testemunha deste tempo armado de um computador MacBook Pro e da minha indignação. E do meu entusiasmo pelos livros, pelas pessoas e, já agora, por Mozart.
Percebo todavia que o JVC não pense da mesma maneira. Chateou-se e vai embora. Ou nem isso: vai para outra, mais séria, mais “portal” (seja lá isso o que for). Mas vai com, a minha saudade a minha amizade e a minha admiração: pelo que escrevia, como escrevia, pela elegância, pela ironia e pela vontade de ser útil. Raios partam os açoreanos...
Como prova de que sou um desastrado isto hoje sai tudo sublinhado. Juro que não estava assim no rascunho. As ilustrações reportam-se ao JVC himself e a dois (entre vários) livros que ele perpetrou: a ler sem falta!
1 comentário:
Dizia o Octávio na Bocage, muitas vezes: "Cá vem o José Gomes cuidadosamente despenteado!". A nossa mesa típica era do Octávio, do vosso tio e minha, muitas vezes também o Quintela.
Há um pequeno lapso cronológico no teu texto exagerado, que levo à conta da amizade. Embora com muita actividade associativa e política logo nos meados dos 60s, só tive responsabilidades associativas mais relevantes (presidente de medicina e secretário-geral da RIA) lá para 67 ou 68. Isto até tem a sua importância, porque das coisas de que me mais me lembro, com uma pontinha de orgulho, foi a participação associativa na ajuda às vítimas das cheias de 67, em cuja organização e coordenação participei muito activamente
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