03 novembro 2008

estes dias que passam, 130

antes que o galo cante



Quem, como eu, escreve por aqui e passa a vida a tomar posição não deve deixar de registar a sua opinião sobre as eleições americanas. Não que os leitores não o tenham sabido, adivinhado ou pressentido, claro. 
Todavia, deixo aqui um voto de esperança (e só de esperança, porquanto embora esta votação nos afecte a todos, nós, os não norte-americanos, não temos direito de voto como eventualmente seria mais curial: sofremos os efeitos da política americana, para o pior e para o melhor mas não temos voz nesta matéria.): desejo que o candidato democrata Barak Hussein Obama ganhe esta eleição.
Sou, desde que me conheço um cidadão fascinado pela América. Pelo jazz, para começar, pelo cinema (e sobretudo pelo western e pelo musical, mas não renego as comédias de Capra, a subtileza de Allen, Scorcese, Welles (pai do filme que mais admiro: A sede do mal) e de mais um pancadão de realizadores), do romance desde Twain até Thomas Pinchon, de Runnyon a Faulkner, de Saroyan a Updike e paro porque a lista é demasiado longa. 
Tive oportunidade de estudar o Direito americano, a constituição exemplar que têm, li alguns dos grandes clássicos políticos e isso pesa muito na balança e no balanço final. Os Estados Unidos são um grande país pese embora uma série de características que não oculto (nem eles ocultavam, valha a verdade): o racismo, a arrogância, o desregramento capitalista, a puritanismo evangélico, a ignorância do que se passa no resto do mundo e o modo expedito com que trataram tantos países, mormente os latino americanos. 
Tenho um par de amigos americanos conhecidos na Alemanha, nos cursos de Direito Comparado, ou mais tarde cá em Portugal enquanto trabalhei para o Ministério da Cultura e por isso contactei os serviços culturais da embaixada americana. Desde uma freira católica que gostava de basebol e cerveja, a um estudante de filosofia que fora electricista durante anos por erro crasso do instituto de orientação profissional. Isto sem contar com um jornalista que fundou uma ópera na sua pequena cidade... e que ainda existe. 
Esta gente, aqueles escritores e artistas, os pais da Constituição americana (god bless Benjamin Franklin...) fazem-me crer que há uma América outra que apenas precisa  de quem a deixe aparecer à porta de casa.  
Os poucos dias que passei em Nova Iorque foram uma constante surpresa, um sentimento de pisar terra conhecida e são uma recordação de amabilidade, simplicidade e cultura. 
Tudo isto me tem feito interessar-me pelo que lá se passa, tentar perceber, fugir dos preconceitos e das ideias feitas.
Por isso gostaria de ver Obama eleito. Mesmo que seja um desejo pio. Espero poder festejar a sua eleição amanhã. E detestaria comentar a vitória (ou uma inesperada derrota) sem dizer antes que o galo cante por quem ergo o meu copo. 

*o título, que recorre ao Evangelho de Mateus, tem origem no nome de um livro de Cesare Pavese ("Prima che il gallo canti") que vergonhosamente li antes de ler a Bíblia. se fosse americano isto não ocorreria.

1 comentário:

O meu olhar disse...

Pois é mcr, felizmente ganhou Obama. Como sabe eu era apoiante de Hillary Clinton mas, naturalmente, entre ele e McCain era fácil a escolha. Deposito esperança na actuação de Obama apesar de não conhecer quase nada das propostas concretas. Há quem diga que nada vai mudar porque um homem só não faz a diferença. Todavia o Bush conseguiu fazer a diferença pela negativa. Obama fará certamente a diferença, pela positiva.