03 novembro 2008

...É a Crise, Estúpido!

I

O Ministro das Finanças disse que a nacionalização do BPN tinha “como objectivo assegurar aos depositantes que os seus depósitos estão assegurados”.

Este objectivo do MF foi traduzido pelo Diário Económico, assim: “Governo nacionaliza BPN para salvar sistema financeiro”.

O Diário Económico, como sempre, sabe do que escreve.

Mas o MF anunciou, ainda, que o Governo vai ajudar a Banca com mais 4 mil milhões de €€, para melhorar a solvabilidade do sistema financeiro.

Esta medida foi traduzida pelos analistas financeiros como “o Governo estar a ajudar à recapitalização da Banca”.

II

Aquela notícia – a nacionalização do BPN e a disponibilidade concedida à banca para usarem 4mil milhões de €€ dados pelo Governo – foi acompanhada de uma outra, pela qual o MF anunciou que o Estado, finalmente, vai pagar o que deve às empresas, no montante de 2,5 mil milhões de €€ (cerca de 50% do valor agora disponibilizado para a banca, a quem o Estado nada deverá de relevante).

III

A junção destas duas medidas tem o seu quê de interessante e de curioso, que me leva a imaginar o seguinte diálogo:

- MF: Eh! Pá! Temos que intervir no BPN senão aquilo desmorona-se e vai ter um efeito dominó nos outros bancos;
- PM: Efeito dominó? Como assim?
- MF: Pois é, os bancos estão interligados, cobrem os riscos uns dos outros, logo se um vai à falência os outros levam por tabela, o que pode ser muito complicado porque alguns estão com uma solvabilidade muito baixa. Depois, há o efeito sobre os depositantes, não só os do BPN, também os dos outros bancos que ao verem que os do BPN perderam os seus depósitos irão a correr levantar as suas poupanças. Será uma espiral…
- PM: Eh! Isso é complicado. O que sugeres?
- MF: Vamos anunciar a nacionalização do BPN, mas deixamos de fora a SLN e a Companhia de Seguros, para dar confiança ao mercado.
- PM: Mas esses activos não deveriam responder pelo buraco dos 700 milhões? Então nacionalizamos o quê?
- MF: Nacionalizamos o buraco que o BPN apresenta e nacionalizamos os direitos que os depositantes têm sobre o banco.
- PM: Pois, já estou a imaginar o que nos vão chamar. … Mas, isso não vai ser complicado de explicar aos contribuintes?
- MF: Sim e não. Se apresentarmos a nacionalização do BPN num pacote de apoio à economia, penso que será fácil, até porque dilui o impacto da nacionalização.
- PM: E qual é esse pacote?
- MF: Por exemplo, podemos anunciar que o Estado vai disponibilizar recursos para os bancos melhorarem a sua solvabilidade e, ao mesmo tempo, dizer que o Estado vai pagar o que deve às empresas.
- PM: Mas eu disse há dias que na actual conjuntura é muito complicado pagar o que se deve às empresas, porque isso iria implicar um forte aumento dos encargos da dívida pública, que já são muito pesados, como é que agora vou contornar isso?
- MF: Temos que nos socorrer da crise. A crise devora-nos e todos temos que tomar, em cada momento, as medidas certas. O que era correcto fazer ontem pode não ser hoje. O que parece certo agora pode não o ser amanhã. Mas não vão dar muita importância a essa declaração, o que vão relevar é o facto do Estado se propor pagar o que deve.
- PM: Isso é verdade e se alguém criticar a medida sempre poderemos dizer, O que queriam? Que não pagássemos? E como é que vamos anunciar tudo isto?
- MF: Porque não um Conselho de Ministros Extraordinário? Já no Domingo, depois convoca-se o Vítor e faz-se uma conferência de imprensa.
- PM: Parece-me bem, além do mais é dia de finados e de futebol.

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