Algumas perguntas
Até onde se pode ir numa luta de “libertação nacional”? Em tempo de guerra será lícito recorrer a todas as formas de luta, incluindo nestas o terrorismo, a tortura ou o assassínio selectivo de dirigentes políticos, de líderes sindicais ou de personalidades que, de um modo ou de outro, simbolizem a Nação aos olhos dos seus concidadãos?
Sem respondermos a estas questões que, na minha pobre e modesta opinião, são essenciais, não vale a pena determo-nos no conflito israelo-palestiniano.
Mesmo se entendermos (e eu faço parte desse grupo) que Israel vive em democracia, será que a defesa natural das fronteiras, da vida e bens dos seus cidadãos (judeus, árabes, drusos e outros) passa por castigar duramente os lançadores clandestinos de rockets artesanais?
Por outro lado, será lícito que, em nome de uma pátria palestiniana (e eu faço parte do grupo de pessoas que entende que deve existir, com as mesmas garantias internacionais de Israel um país palestiniano, governado por palestinianos, sem tutelas de qualquer espécie, mormente as actuais) se possa bombardear a terra do “inimigo sionista” com foguetes que não conseguem mais do que um percurso errático e por isso caem em qualquer sítio, matando indiferentemente militares ou civis, árabes ou judeus, homens ou mulheres crianças ou velhos?
Claro que, na conturbada história dos últimos noventa anos (isto é da história que acompanha as migrações massivas de sionistas (uso a expressão no seu exacto e histórico sentido sem a carregar de semânticas recentes e injuriosas) para a Palestina transformada em mandato britânico, podem reconhecer-se variados movimentos terroristas judeus (“Stern”, “Irgun”) que infligiram numerosas baixas quer às tropas da potência mandatária quer a cidadãos árabes indefesos. Não é menos verdade que, desde que começou a emigração judaica para “Eretz Israel” (em consonância com a famosa “Declaração Balfour” que nada mais era do que uma promessa ilegítima e ilegal de um governo imperial que dispunha de terras alheias como se de próprias se tratasse), houve resistências desencontradas por parte da população árabe. Desde o famoso “mufti” de Jerusalém até aldeãos despossuídos ou ameaçados ameaçaram e tentaram atacar o que consideravam como invasores. A Palestina não era uma terra vazia. Estava habitada, tinha instituições políticas tradicionais, herdadas do império turco e, há que salientá-lo, sempre permitira a existência de comunidades judias mesmo que durante séculos tais comunidades fossem escassíssimas.
É aliás falsa a ideia de que houvera uma expulsão massiva e praticamente total dos hebreus pelos romanos. Houve efectivamente pequenas deslocações forçadas de parte das populações da região mas nada que permita dar à diáspora esse significado apocalíptico que nos séculos XIX e XX foram propagandeadas.
Boa parte, senão a imensa maioria, dos judeus europeus não tinha raízes médio-orientais, não eram semitas e a fé que professavam derivava sobretudo de conversões ocorridas na alta idade média. Por outro lado, é sabido que em todos os países do médio oriente existiam sólidas populações de religião judaica (Iraque, Irão, Marrocos para não ir mais longe). Sabe-se também que durante esse longuíssimo período as relações inter-comunitárias foram pacíficas. De resto, foram os países de tradição muçulmana os maiores (e melhores) acolhedores dos judeus expulsos da península ibérica. Muito mais do que a Holanda, por exemplo.
É verdade que há uma oração, ou um refrão judaico “para o ano em Jerusalém” que se usou em toda a Europa e que adquiriria particular sentido dramático durante os pogroms de leste e as perseguições no ocidente. Todavia, esse pio desejo, nunca foi acompanhado, até ao segundo decénio do século XX, por migrações significativas para a terra de Israel.
Entretanto, há que reconhecê-lo, desde que o Estado de Israel foi proclamado, nunca mais houve paz na região. A primeira guerra, ocasionada, é verdade, por uma desorganizada e heteróclita invasão de tropas árabes, teve como resultado não só a derrota desses invasores mas, sobretudo a expulsão de dezenas (quiçá centenas) de milhares de civis palestinianos. A operação de expulsão (eventualmente genocida) chamou-se “Vassoura de Ferro” e e tinha por objectivo táctico limitar o avanço dos invasores e por finalidade estratégica a limpeza étnica de territórios atribuídos a Israel.
São os descendentes desses expulsos, criados em campos de refugiados, que constituiram e constituem a maioria dos candidatos a guerrilheiros, a terroristas, a suicidas. E isso também tem de ser tido em linha de conta.
Israel, de 48 até hoje, alargou ilegitimamente as suas fronteiras, ocupou e ocupa territórios ilegalmente, muniu-se de armas atómicas e criou o mais forte exército da região. E se é verdade que tem cidadãos árabes não menos verdade é que estes se sentem cidadãos de segunda. Por todas as razões mas sobretudo porque não conseguem deixar de observar o que se passa nos territórios ocupados, na agressividade dos ultra-ortodoxos, no movimento das colónias de povamento, que paulatinamente transformam a Transjordânia num xadrês de povoamento judaico que torna impossível a vida dos anteriores habitantes.
O Hamas é uma caricatura miserável das verdades reveladas no Corão. É uma associação criminosa que alimenta o ódio contra o judeu enquanto tal muito mais do que a ira contra o ocupante. Pior: tenta transformar uma população relativamente laica numa outra rigorista e islamizada até o extremo. A sua política militar é aventureira, não olha a meios, despreza a vida dos cidadãos que pretende defender, aceita a monstruosa teses dos mártires pela liberdade, doutrina crianças e adolescentes para o sacrificio supremo. O lançamento de foguetes é uma provocação estúpida e perigosa sobretudo num momento em que os israelitas se preparam para eleições ao mesmo tempo que a inação americana natural num país que se prepara para mudar de presidente muito em breve faz prever uma resposta contundente. E pior que isso: a acção descontrolada do Hamas pode modificar os previsiveis resultados eleitorais israelitas, ajudando o regresso da direita pura e dura ao governo. Como se a ideia fosse: quanto pior, melhor!
É isto, ou é também isto, que está em jogo.
d'Oliveira
Até onde se pode ir numa luta de “libertação nacional”? Em tempo de guerra será lícito recorrer a todas as formas de luta, incluindo nestas o terrorismo, a tortura ou o assassínio selectivo de dirigentes políticos, de líderes sindicais ou de personalidades que, de um modo ou de outro, simbolizem a Nação aos olhos dos seus concidadãos?
Sem respondermos a estas questões que, na minha pobre e modesta opinião, são essenciais, não vale a pena determo-nos no conflito israelo-palestiniano.
Mesmo se entendermos (e eu faço parte desse grupo) que Israel vive em democracia, será que a defesa natural das fronteiras, da vida e bens dos seus cidadãos (judeus, árabes, drusos e outros) passa por castigar duramente os lançadores clandestinos de rockets artesanais?
Por outro lado, será lícito que, em nome de uma pátria palestiniana (e eu faço parte do grupo de pessoas que entende que deve existir, com as mesmas garantias internacionais de Israel um país palestiniano, governado por palestinianos, sem tutelas de qualquer espécie, mormente as actuais) se possa bombardear a terra do “inimigo sionista” com foguetes que não conseguem mais do que um percurso errático e por isso caem em qualquer sítio, matando indiferentemente militares ou civis, árabes ou judeus, homens ou mulheres crianças ou velhos?
Claro que, na conturbada história dos últimos noventa anos (isto é da história que acompanha as migrações massivas de sionistas (uso a expressão no seu exacto e histórico sentido sem a carregar de semânticas recentes e injuriosas) para a Palestina transformada em mandato britânico, podem reconhecer-se variados movimentos terroristas judeus (“Stern”, “Irgun”) que infligiram numerosas baixas quer às tropas da potência mandatária quer a cidadãos árabes indefesos. Não é menos verdade que, desde que começou a emigração judaica para “Eretz Israel” (em consonância com a famosa “Declaração Balfour” que nada mais era do que uma promessa ilegítima e ilegal de um governo imperial que dispunha de terras alheias como se de próprias se tratasse), houve resistências desencontradas por parte da população árabe. Desde o famoso “mufti” de Jerusalém até aldeãos despossuídos ou ameaçados ameaçaram e tentaram atacar o que consideravam como invasores. A Palestina não era uma terra vazia. Estava habitada, tinha instituições políticas tradicionais, herdadas do império turco e, há que salientá-lo, sempre permitira a existência de comunidades judias mesmo que durante séculos tais comunidades fossem escassíssimas.
É aliás falsa a ideia de que houvera uma expulsão massiva e praticamente total dos hebreus pelos romanos. Houve efectivamente pequenas deslocações forçadas de parte das populações da região mas nada que permita dar à diáspora esse significado apocalíptico que nos séculos XIX e XX foram propagandeadas.
Boa parte, senão a imensa maioria, dos judeus europeus não tinha raízes médio-orientais, não eram semitas e a fé que professavam derivava sobretudo de conversões ocorridas na alta idade média. Por outro lado, é sabido que em todos os países do médio oriente existiam sólidas populações de religião judaica (Iraque, Irão, Marrocos para não ir mais longe). Sabe-se também que durante esse longuíssimo período as relações inter-comunitárias foram pacíficas. De resto, foram os países de tradição muçulmana os maiores (e melhores) acolhedores dos judeus expulsos da península ibérica. Muito mais do que a Holanda, por exemplo.
É verdade que há uma oração, ou um refrão judaico “para o ano em Jerusalém” que se usou em toda a Europa e que adquiriria particular sentido dramático durante os pogroms de leste e as perseguições no ocidente. Todavia, esse pio desejo, nunca foi acompanhado, até ao segundo decénio do século XX, por migrações significativas para a terra de Israel.
Entretanto, há que reconhecê-lo, desde que o Estado de Israel foi proclamado, nunca mais houve paz na região. A primeira guerra, ocasionada, é verdade, por uma desorganizada e heteróclita invasão de tropas árabes, teve como resultado não só a derrota desses invasores mas, sobretudo a expulsão de dezenas (quiçá centenas) de milhares de civis palestinianos. A operação de expulsão (eventualmente genocida) chamou-se “Vassoura de Ferro” e e tinha por objectivo táctico limitar o avanço dos invasores e por finalidade estratégica a limpeza étnica de territórios atribuídos a Israel.
São os descendentes desses expulsos, criados em campos de refugiados, que constituiram e constituem a maioria dos candidatos a guerrilheiros, a terroristas, a suicidas. E isso também tem de ser tido em linha de conta.
Israel, de 48 até hoje, alargou ilegitimamente as suas fronteiras, ocupou e ocupa territórios ilegalmente, muniu-se de armas atómicas e criou o mais forte exército da região. E se é verdade que tem cidadãos árabes não menos verdade é que estes se sentem cidadãos de segunda. Por todas as razões mas sobretudo porque não conseguem deixar de observar o que se passa nos territórios ocupados, na agressividade dos ultra-ortodoxos, no movimento das colónias de povamento, que paulatinamente transformam a Transjordânia num xadrês de povoamento judaico que torna impossível a vida dos anteriores habitantes.
O Hamas é uma caricatura miserável das verdades reveladas no Corão. É uma associação criminosa que alimenta o ódio contra o judeu enquanto tal muito mais do que a ira contra o ocupante. Pior: tenta transformar uma população relativamente laica numa outra rigorista e islamizada até o extremo. A sua política militar é aventureira, não olha a meios, despreza a vida dos cidadãos que pretende defender, aceita a monstruosa teses dos mártires pela liberdade, doutrina crianças e adolescentes para o sacrificio supremo. O lançamento de foguetes é uma provocação estúpida e perigosa sobretudo num momento em que os israelitas se preparam para eleições ao mesmo tempo que a inação americana natural num país que se prepara para mudar de presidente muito em breve faz prever uma resposta contundente. E pior que isso: a acção descontrolada do Hamas pode modificar os previsiveis resultados eleitorais israelitas, ajudando o regresso da direita pura e dura ao governo. Como se a ideia fosse: quanto pior, melhor!
É isto, ou é também isto, que está em jogo.
d'Oliveira
1 comentário:
Esperava-se que esta ofensiva acontecesse antes da tomada de posse de Obama. Era desoladoramente previsível.
Se acrescentarmos a isto que estamos a nível mundial numa crise muito séria e que a indústria do armamento dos Estados Unidos tem um peso brutal na economia deste país, é de prever o pior para o próximo ano quanto ao desencadear de guerras por todo o lado.
Além disso, o petróleo, com o início dos ataques israelitas começou logo a subir.
Entretanto assistimos a uma comunidade internacional cheia de declarações e pedidos de tréguas. Enquanto as palavras vão sendo noticiadas as pessoas vão morrendo.
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