01 janeiro 2009

Au Bonheur des Dames 162


Ano que sai, ano que entra…

Uf! Sair saí mas cheira-me que ainda as vou amargar. Eu explico: em vésperas de fim de ano nem eu nem a CG estávamos com disposição para almoçar em casa. A quarta-feira é o único dia em que a nossa empregada sai ao meio-dia certo e por isso raras vezes há tempo para preparar qualquer coisa. De modo que resolvemos ir por um peixinho grelhado num dos inúmeros restaurantes de Matosinhos.
Estávamos mesmo a entrar na rua do Sul para nos enfiramos na Casa de Pasto Teresa (que entre os seus fieis tem o casal Zé M. Zé A. a quem se manda a respectiva conta de beijos e abraços) quando o honrado Bora deu o bafo. Nem para tras nem para a frente. Estacou e, záz, apagou-se. Honra lhe seja que cumprira 98 ou 99% do percurso que lhe competia.
A CG, que se tem por entendida em automóveis, mania mansa que não se pega – pelo menos a este vosso criado – crocitou qualquer coisa que tresandava a perigo extremo ou avaria terrífica. Eu, mais ignorante e por isso mais feliz, declarei que ia telefonar para o ACP e para o senhor Monteiro, mecânico que me atura, e que, portanto o melhor era almoçar na paz do Senhor (eu sei, eu sei que sou pouco de igrejas e similares mas que querem: antes a paz do Senhor que a de Bush ou outra do mesmo teor…). A CG olhou-me com o ar do professor bondoso que vê o aluno mentecapto a escorregar na asneira que dá chumbo certo (com ou sem dona Lurdes…), encolheu os ombros, sacudiu metafóricamente o pó das botas, rapou de um cigarro e acendeu-o.
Eu fiz os telefonemas acima anunciados e dediquei-me á árdua tarefa de almoçar.
Intervalemos para exclarecer o alcance dos conhecimentos automobilísticos da CG. Ela conta que sempre teve muito ouvido para motores, que sempre trazia o carro na ponta da unha, pneus á pressão certa, macaco e demais pertences bem arrumados, cinzeiros vazios, enfim uma espécie de santa Rita de Cássia na vertente padroeira dos impossíveis (que a santinha também protege as mulheres que apanham do marido…). Eu quando oiço esta malta que vê rallies e corridas de fórmula 1 (só as partidas resmunga a CG, as partidas é que é. E há sempre uns desastres…, rematou) fico logo de pé atrás. Regra geral são eles quem tem os desastres porque, obviamente há uma besta que ultrapassou, não quis ser ultrapassado, desviou, não desviou, enfim há sempre alguém que fez com que o acidente ocorresse e atingisse estes “fangios” de bairro. Aliás fazem-me lembrar o meu sobrinho Manuel, quando era pequeno. O malandrim teria dois anos e meio, três no máximo e era vê-lo cercado de dezenas de carrinhos a brincar aos desastres. Atingiu o seu record absoluto numa vez em que encenou um mega desastre com todos os carrinhos, duas panelas, um barco à vela e a locomotiva de um comboio eléctrico que lhe tínhamos dado nesse Natal. E pedia por favor à parva da empregada um frasco de sumo de tomate para o sangue!!! Claro que agora estuda ciencias humanas!… Estão a ver o género?
Voltando à vaca fria: o pronto do socorro do ACP lá apareceu e depois de um breve exame que metia uma maquineta estilo computador de bolso, o mecânico perguntou-se me eu tinha metido combustível. Estão a ver o tipo, não?
Claro que meti, respondi. Atestei o depósito.
Continuou: e meteu mesmo gasóleo? Nova e imperiosa (e ofendida) afirmativa. O homem, pelo sim, pelo não resolveu cheirar o depósito. É gasóleo, anunciou-me pesaroso.
Naquela altura do campionato eu já tinha percebido que me tinha na conta de um nabo absoluto com carta comprada ou falsificada capaz de tudo para arruinar a fama de uma marca de automóveis e, paralelamente ser a vergonha dos sócios do ACP.
Encurtando razões, descontando as restantes e desconfiadas perguntas a que respondi com candura, verdade e concisão (¡!!?*#%&), lá consegui provar a minha inocência graças aliás a ter-se verificado que era a bomba do combustível que “não puxava”.
Resumindo: carro na oficina, mcr apeado e conta gorda a anunciar-se para a próxima semana deste já novo e desastrado ano.
Valeu-me a estrela dos condutores obrigados (como eu, que sempre sonhei ter motorista particular. E governanta! ): o nosso fantasmático camarada incursionista Simas Santos num gesto moscovitamente generoso nos convidou para passar o ano em casa dele. Ai que bem que se comeu. E que se conversou. E que saudades de um queijo de Nisa que obviamente já não cabia nos buchos repletos dos convivas.
Queridas leitoras que me aturam, severos cavalheiros que me julgam, meninas e meninos, público em geral e povo: que este ano de 2009 desminta a maioria das previsões pessimistas que eu mesmo (até eu, mihi quoque…) aquí sinistramente fiz.
Que os deuses vos sejam propícios e vos cubram com os seus favores. E com queijo de Nisa, se não puder ser o de Serpa, o melhor de Portugal. E desculpem qualquer coisinha…


a ilustração de hoje ( que nos faz sonhar com um verão ainda longínquo...) vem da Bélgica, de Liége, se não erro, e trazia o misterioso título: meister werk of alinewa (sic). Por trás de tão extravagante designação adivinha-se a mão matreira de um oblíquo individuo que no século dava por Alexandre FS. Será? Bom ano também para ele para a Constanze e demais pessoal.

3 comentários:

O meu olhar disse...

Obrigada pela parte que me toca MCR. Um excelente ano também para si e que a conta do carro não lhe tire o ânimo!
Um abraço

josé disse...

Bom ano e boas prosas. Como esta.

Isto devia vir na última do Público.

Seria motivo para muitos comprarem o jornaleco, em vez de lerem as estopadas de um Miguel Gaspar ou de um Rui Tavares.
Intragáveis, pedantes às vezes e sem graça.

Eu sei que V. não se leva a sério nestes escritos- e é por isso mesmo que saem assim.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Bom ano. Bora lá!