A bandeira vermelha ou
Haja quem me explique
" ...E leveremo
La bandiera rossa, oooh!"
Canto dei battipali (Veneto)
Há três ou quatro meses o P.S. armou-a bem armada ao recusar votar o casamento dos homossexuais. Uma parte da bem-pensância crocitou destemperos e o resto da malta que ainda se interessa por política manifestou o seu pasmo.
Pessoalmente, a questão não me aquenta nem arrefenta. Nada tenho contra o casamento, com flor de laranjeira e tudo, apenas acho que se a palavra causa engulhos que se arranje outra desde que as consequências jurídicas do pacto entre os contraentes sejam mais ou menos idênticas à do casamento. E, também, sempre pensei que quem não tem cão caça com furão. Ou, por outras palavras: trata de estabelecer com o/a companheiro/a sentimental um contrato que ressalve os direitos que a convivência produz entre heterossexuais.
A oposição do P.S. à iniciativa do Bloco de Esquerda só teria explicação se o P.S. quisesse, naquele momento, manter a maioria absoluta piscando o olho a uma direita pudibunda. Não me passa pela cabecinha pensadora a ideia de que se tratou de uma birra... Tratou-se?...
Agora, que o P.S. percebeu que a direita não está para lhe fazer o frete mesmo se os socialistas se aplicaram diligentemente a levar a cabo um claro programa de direita (trapalhão, claro, mas de direita e daí os trabalhos da pobre dr.ª Manuela Ferreira Leite) e que a esquerda (dentro dele e fora) organizada ou não lhe está a jurar pela pele, eis que, num pinote acrobático põe o “engenheiro” Sócrates a defender temas eventualmente esquerdistas. E digo eventualmente porque tudo depende do modus operandi e, sobretudo, desse comezinho facto que é cumprir as promessas contidas num programa. Pessoalmente não confio no senhor “engenheiro” mesmo que o visse com uma corda ao pescoço. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento.
Também não confio nas senhoras e senhores que em tempos andavam babadas/os com o Manuel Alegre e, agora, que se está nas vésperas da escolha de deputados, se juntam num carnaval frenético à volta do secretário geral. Este género de derivas não são novidade em Portugal e, muito menos, no P.S.. Também não me apoquenta ver “ex-sampaístas” (se é que alguma vez o foram...) no mesmo carro alegórico.
O “sampaísmo” (de que tantas vezes me acusaram apenas por ser amigo do Jorge e almoçar com o grupo no snack-bar do hotel Florida) era algo mais sério, mais limpo e mais duradouro do que o súbito enlevo por Sampaio quando este vestiu a camisola de Presidente da República. Era, insisto, uma partilha de ideais, de preocupações muito mais do que uma ante-câmara do poder e de mordomias. Eu, que não era do P.S., e que o fui um escasso ano, via, e vejo, nesse grupo amável e rigoroso um amor pela política e pela cidadania que nada tem a ver com esta turbamulta ávida que se vira para o poder como o girassol para o astro-rei. E há ainda uma outra diferença: os sampaístas, Sampaio incluído, tinham profissões, ganhavam a vida fora da política, do parlamento e das empresas públicas. Em certos casos a assumpção de cargos políticos significou até um abaixamento de rendimento. Mostrem-me um destes neo-“ex-sampaístas” a quem tenha acontecido o mesmo. Um só!
Voltemos, porém, à vaca fria: esta esperada reviravolta do senhor “engenheiro” para a esquerda ocorre no momento em que todos os indicadores estão no vermelho, em que o movimento dos professores começa a não ser o único de contestação a uma política governativa hesitante, esdrúxula e conservadora. A maioria absoluta é já uma miragem num deserto que começa a mostrar-se bem pior do que aquele outro que o senhor ministro das finanças via em Alcochete. A crise chegou, as expectativas dos portugueses são escassas e as eleições, essa enorme maçada, estão à porta. De repente soou a trombeta do primeiro julgamento. Os cidadãos, que, nestes anos de maioria absoluta, o P.S. tratou como súbditos mal educados, têm uma palavrinha a dizer e três papelinhos a pôr na urna. Para as Europeias, para as Locais e para as Legislativas.
(Chegado a este ponto, eu até me atreveria a confidenciar que dentro de dias pode ocorrer um facto político importante. Não o faço mas peço às minhas curiosas e escassas leitoras e aos leitores que me aturam que guardem esta: o P.S. estuda, prepara um salto mortal. Depois falamos).
Portanto, toca de tentar reunir à esquerda. O Alegre? Mas ele é a alma do P.S.!!! Os críticos internos (?) e externos, como um tal mcr: é tudo boa gente, da família, na hora da verdade estarão connosco (O Tanhäuser e o Badanäuser, resmunga o mcr que à falta de ser rico já não é lorpa). A ver vamos, como dizia o cego. Eu não me fiaria assim tanto. E por isso vejo a maioria absoluta agora pedida muito tremida. Melhor: não a desejo. Não é a maioria absoluta que torna um governo melhor, sobretudo quando, como no caso em apreço, não passa de um grupo de farfalhudas luminárias que obedecem automaticamente a his master’s voice. E nem falemos do parlamento ou da sua maioria: aquilo parece de saldo. É duvidoso que por essa Europa fora se encontre um grupo assim tão cinzento, tristonho e incapaz: “Apparent rari nantes in gurgite vasto”..., cantava Virgílio, o latino, numa obra cujo simples nome deve ser um enigma para 90% dos parlamentares.
Vamos, pois, ter um Congresso do P.S. igual a tantos outros desde que se instalou a ideia de que aquilo menos do que um partido é um ajuntamento político “com sentido de Estado”, o mesmo é dizer, uma coisa que existe se há poder, pelo poder e para o poder. O devaneio esquerdista de agora, o casamento dos homossexuais nem a estes deve convencer tanto mais que ninguém percebe as causas da recusa de há meses. Aliás, como alguém hoje dizia, uma coisa é o congresso decidir outra o agendamento da proposta, o conteúdo dela e a sua votação em sede parlamentar.
Os partidos deveriam perceber, uma vez por todas, que os votantes os julgam eleitoralmente mais pela sua prática política quotidiana do que pela ideologia de que vagamente se reclamam. Então no caso do chamado “bloco central” isto é uma verdade absoluta, que diabo. Só assim os conseguimos, quando conseguimos, distinguir. Ou pensarão eles, os deputados que trinam maviosamente em São Bento, que as pessoas ao som da sua voz os seguem como os pássaros e as árvores a Orfeu? (esta também deve passar bem alto, demasiado..., por S Bento... Paciência e que siga a rusga, a leitora MJ Carvalho e o José M perceberão, com o que já me dou por satisfeito. E seguramente terei sido percebido pelo meu pequeno público que é para ele que escrevo).
A pergunta que cabe é pois a seguinte: a prática política destes quatro anos que agora se cumprem penosamente foi de esquerda? Teve êxito?
Da resposta dos (e)leitores sairá a sorte do P.S.
* a gravura da crónica poderá parecer estranha mas, de facto, a legenda diz o seguinte: "aqui tinha bandeira vermelha mas..." achei-a apropriada tanto mais que talvez obtenha mais leitores com o truque...
Pessoalmente, a questão não me aquenta nem arrefenta. Nada tenho contra o casamento, com flor de laranjeira e tudo, apenas acho que se a palavra causa engulhos que se arranje outra desde que as consequências jurídicas do pacto entre os contraentes sejam mais ou menos idênticas à do casamento. E, também, sempre pensei que quem não tem cão caça com furão. Ou, por outras palavras: trata de estabelecer com o/a companheiro/a sentimental um contrato que ressalve os direitos que a convivência produz entre heterossexuais.
A oposição do P.S. à iniciativa do Bloco de Esquerda só teria explicação se o P.S. quisesse, naquele momento, manter a maioria absoluta piscando o olho a uma direita pudibunda. Não me passa pela cabecinha pensadora a ideia de que se tratou de uma birra... Tratou-se?...
Agora, que o P.S. percebeu que a direita não está para lhe fazer o frete mesmo se os socialistas se aplicaram diligentemente a levar a cabo um claro programa de direita (trapalhão, claro, mas de direita e daí os trabalhos da pobre dr.ª Manuela Ferreira Leite) e que a esquerda (dentro dele e fora) organizada ou não lhe está a jurar pela pele, eis que, num pinote acrobático põe o “engenheiro” Sócrates a defender temas eventualmente esquerdistas. E digo eventualmente porque tudo depende do modus operandi e, sobretudo, desse comezinho facto que é cumprir as promessas contidas num programa. Pessoalmente não confio no senhor “engenheiro” mesmo que o visse com uma corda ao pescoço. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento.
Também não confio nas senhoras e senhores que em tempos andavam babadas/os com o Manuel Alegre e, agora, que se está nas vésperas da escolha de deputados, se juntam num carnaval frenético à volta do secretário geral. Este género de derivas não são novidade em Portugal e, muito menos, no P.S.. Também não me apoquenta ver “ex-sampaístas” (se é que alguma vez o foram...) no mesmo carro alegórico.
O “sampaísmo” (de que tantas vezes me acusaram apenas por ser amigo do Jorge e almoçar com o grupo no snack-bar do hotel Florida) era algo mais sério, mais limpo e mais duradouro do que o súbito enlevo por Sampaio quando este vestiu a camisola de Presidente da República. Era, insisto, uma partilha de ideais, de preocupações muito mais do que uma ante-câmara do poder e de mordomias. Eu, que não era do P.S., e que o fui um escasso ano, via, e vejo, nesse grupo amável e rigoroso um amor pela política e pela cidadania que nada tem a ver com esta turbamulta ávida que se vira para o poder como o girassol para o astro-rei. E há ainda uma outra diferença: os sampaístas, Sampaio incluído, tinham profissões, ganhavam a vida fora da política, do parlamento e das empresas públicas. Em certos casos a assumpção de cargos políticos significou até um abaixamento de rendimento. Mostrem-me um destes neo-“ex-sampaístas” a quem tenha acontecido o mesmo. Um só!
Voltemos, porém, à vaca fria: esta esperada reviravolta do senhor “engenheiro” para a esquerda ocorre no momento em que todos os indicadores estão no vermelho, em que o movimento dos professores começa a não ser o único de contestação a uma política governativa hesitante, esdrúxula e conservadora. A maioria absoluta é já uma miragem num deserto que começa a mostrar-se bem pior do que aquele outro que o senhor ministro das finanças via em Alcochete. A crise chegou, as expectativas dos portugueses são escassas e as eleições, essa enorme maçada, estão à porta. De repente soou a trombeta do primeiro julgamento. Os cidadãos, que, nestes anos de maioria absoluta, o P.S. tratou como súbditos mal educados, têm uma palavrinha a dizer e três papelinhos a pôr na urna. Para as Europeias, para as Locais e para as Legislativas.
(Chegado a este ponto, eu até me atreveria a confidenciar que dentro de dias pode ocorrer um facto político importante. Não o faço mas peço às minhas curiosas e escassas leitoras e aos leitores que me aturam que guardem esta: o P.S. estuda, prepara um salto mortal. Depois falamos).
Portanto, toca de tentar reunir à esquerda. O Alegre? Mas ele é a alma do P.S.!!! Os críticos internos (?) e externos, como um tal mcr: é tudo boa gente, da família, na hora da verdade estarão connosco (O Tanhäuser e o Badanäuser, resmunga o mcr que à falta de ser rico já não é lorpa). A ver vamos, como dizia o cego. Eu não me fiaria assim tanto. E por isso vejo a maioria absoluta agora pedida muito tremida. Melhor: não a desejo. Não é a maioria absoluta que torna um governo melhor, sobretudo quando, como no caso em apreço, não passa de um grupo de farfalhudas luminárias que obedecem automaticamente a his master’s voice. E nem falemos do parlamento ou da sua maioria: aquilo parece de saldo. É duvidoso que por essa Europa fora se encontre um grupo assim tão cinzento, tristonho e incapaz: “Apparent rari nantes in gurgite vasto”..., cantava Virgílio, o latino, numa obra cujo simples nome deve ser um enigma para 90% dos parlamentares.
Vamos, pois, ter um Congresso do P.S. igual a tantos outros desde que se instalou a ideia de que aquilo menos do que um partido é um ajuntamento político “com sentido de Estado”, o mesmo é dizer, uma coisa que existe se há poder, pelo poder e para o poder. O devaneio esquerdista de agora, o casamento dos homossexuais nem a estes deve convencer tanto mais que ninguém percebe as causas da recusa de há meses. Aliás, como alguém hoje dizia, uma coisa é o congresso decidir outra o agendamento da proposta, o conteúdo dela e a sua votação em sede parlamentar.
Os partidos deveriam perceber, uma vez por todas, que os votantes os julgam eleitoralmente mais pela sua prática política quotidiana do que pela ideologia de que vagamente se reclamam. Então no caso do chamado “bloco central” isto é uma verdade absoluta, que diabo. Só assim os conseguimos, quando conseguimos, distinguir. Ou pensarão eles, os deputados que trinam maviosamente em São Bento, que as pessoas ao som da sua voz os seguem como os pássaros e as árvores a Orfeu? (esta também deve passar bem alto, demasiado..., por S Bento... Paciência e que siga a rusga, a leitora MJ Carvalho e o José M perceberão, com o que já me dou por satisfeito. E seguramente terei sido percebido pelo meu pequeno público que é para ele que escrevo).
A pergunta que cabe é pois a seguinte: a prática política destes quatro anos que agora se cumprem penosamente foi de esquerda? Teve êxito?
Da resposta dos (e)leitores sairá a sorte do P.S.
* a gravura da crónica poderá parecer estranha mas, de facto, a legenda diz o seguinte: "aqui tinha bandeira vermelha mas..." achei-a apropriada tanto mais que talvez obtenha mais leitores com o truque...
7 comentários:
Mcr, sabe que não concordo consigo relativamente a muitas análises que tem feito sobre o Governo do Sócrates. No entanto, concordo em absoluto com esta sua análise. Parece haver, neste momento, uma consciência por parte de Sócrates que só consegue uma vitória confortável se se virar para a esquerda. Talvez daí o retomar desta questão do casamento dos homossexuais. De qualquer forma ele está a correr riscos com essa opção. Veja-se o aproveitamento que já foi feito pelo Publico sobre esse assunto tocando de imediato na tecla sensível que é a adopção.
Fiquei curiosa: golpe mortal??...
De facto, a agenda do "Público" é muito interessante.
Desculpem, acham que a culpa é do mensageiro?
O que é para si a Esquerda, hoje em dia?
Pergunta simples...
Se não se quiser incomodar um pouco sequer com uma eventual resposta satisfatória, adianto já a minha ideia:
É a que não é Direita...
E adiantando mais razões:
A única Esquerda digna desse nome, é a do PCP e a do BE.
Seguem o catálogo das ideias feitas pela Esquerda e é assim que deve ser.
São um anacronismo, mas até todos perceberem isso mesmo, teremos muito caminho a percorrer. Tanto como o que nos afasta da cauda dos europeus, porque é essa a razão principal de aí continuarmos porfiadamente, ao longo dos anos.
Depois, ao contrário do que sei que pensa por o ter escrito, não há "várias esquerdas".
Há uma, genuína, da Bayer. As tais outras, sáo outra coisa, mas Esquerda é que não devem ser.
O uso do conceito "várias esquerdas", serve para conforto afectivo. Para quem já não é de esquerda se recondortar na ideia que não mudou, não traiu, não abandonou. Só isso, quanto a mim. Por isso é que há tantos da esquerda em Portugal que de esquerda terão tanto como eu.
Social-democracia, para mim, serve como conceito adequado a quem já não pode ser de esquerda mas teima em dizer que ainda é.
Por isso, incluo no mesmo, o PS, o SD e até o CDS.
A Direita em Poirtugal não existe, pura e simplesmente.
E duvido que alguma vez tenha verdadeiramente existido.
Meu caro José
Não misturemos alhos com bugalhos: social democracia foi o nome adoptado pelos partidos aderentes às 1ª e 2ª internacionais. Com o aval de Marx. E o partido de Lenine até 14 chamava-.se Partido Operário Social Democrata Russo.
Depois passou a usar o nome de POSDR (bolchevique) para signidficar maioria em relação à corrente menchevique.
Depois da Revolução de 17, e cerca de 1920-21 quando se formou a 3ª internacional é que começou a usar-se çargamente o termo comunista. Os partidos comunistas satisfizeram as famosas 21 condições de adesão e usaram o nome.
A outra esquerda continuou a chamar-se social democrata ou só "socialista" (ou trabaslhista no caso inglês) Também se usava o nome de secção internacional (francesa, belga etc...) da Internacional operaria (p.ex: a SFIO que só mudou de nome com Miterrand)
Em casos muito contados (Italia) chegou a haver 3 partidos reclamando-se do socialismo :PSI, PSDI, PSIUP ao lado do comunista.
O PPD (verdadeiro nome) passou a PSD por mero ardil e porque o PS não quis por receio usar o nome natural PSDP que a fundação em terras germanicass aconselharia. E queria também ligar-se à tradição do falecido PSP morto de inanição sob Salazar.
Tentar meter o PPD e o CDS no saco social democrata só por ironia.
v acha que não há esquerda fora do PC e do bloco. É uma opinião que não é partilhada por um largo número de pessoas. V. acha que não há direita.
Pode ser que o CDS não a recubra totalmente, pode ser que Santana pudesse ajudar nessa missa, pode haver muita direita inorgânica mas isso não quer dizer que a não haja e em oposição à esquerda. Mesmo a este PS ou ao PS com esta direcção.
Mas há. como há esquerda fora do PC, pode crer. Mas isso parece-me tema para próximo texto. So help me God!
Houve um tempo em que se dizia que a Direita era estúpida. Depois apareceu o Lucas Pires que passou a corporizar a Direita inteligente. Agora o José decreta a extinção da Direita. Parece-me bem e coerente com quem tem um pensamento de direita. Apenas fica por explicar como é que garante a permanência da Esquerda se a Direita já não existe.
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