20 janeiro 2009

Diário Político 99


The black man's burden


Há sessenta, setenta anos, esta imagem idílica (!!!) de África era moeda corrente. Um preto servia para isto mesmo: levar de "machila" o branco caçador de capacete colonial.
Hoje, pelo meia-dia de Washington, um eventual descendente destes carregadores, ou de outros quaisquer, é portador de uma carga de que Kipling nunca se terá lembrado: terá de governar a mais poderosa nação da Terra.
com uma diferença: no caso em apreço, Obama, não estará sozinho. Chamou para a tarefa homens e mulheres de várias cores, de várias raças, com diferentes opções políticas.
Convenhamos que o "fardo" deste homem negro (aliás mulato mas isso quer dizer cada vez menos, ou cada vez mais no sentido de tornar mais real, mais visível, mais credível o melting pot americano que faz parte do "american dream") é imenso e não fica atrás do que Kipling imortalizou num poema que não deixa de ter o seu mérito.
Assisti à tomada de posse no quentinho da minha casa e tive pena de não poder partilhar esse momento de intensa emoção com outras pessoas. subitamente recordei amigos portugueses, africanos, americanos que conheci por esse mundo e com os quais partilhei indignações e esperanças. muitos deles foram já levados pela rasoira mas gostariam de ter visto esta "inauguration".
Digamos que Barack Hussein Obama carrega um outro fardo: as ilusões, as esperanças, a juventude de um punhado de rapazes e raparigas que nos anos sessenta tomaram partido, entusiasmaram-se, agiram, cometeram erros, cairam e levantaram-se, vezes e vezes, porque finalmente acreditavam que um dia o sonho de Martin Luther King se cumpriria. E agora que se dão os primeiros passos dessa promessa, subitamente, eu e esses queridos fantasmas estamos felizes mas ansiosos, felizes mas preocupados, preocuados mas confiantes de que o futuro pode ter começado hoje.
Permitam a um ateu, tolerante mas ateu, esta pobre frase: God bless Obama! God bless us! Yes, we can!

1 comentário:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Começa hoje a era Obama. Depois do espectáculo, que também é necessário para afagar os "states", vêm os tempos difíceis. A nível nacional e internacional. Que venha em boa hora, mister Barack Obama!