14 janeiro 2009

Estes dias que passam 135


O senhor Primeiro Ministro veio hoje à Assembleia anunciar solenemente que as dívidas dos hospitais vencidas e certificadas foram totalmente pagas.
Palmas.
O Senhor Primeiro Ministro veio dizer que o Estado se portou finalmente como pessoa de bem. Como, aliás se espera que o Estado se comporte. Isto, não é, exactamente, o pinhal da Azambuja. Ou não deveria ser.
O Senhor Primeiro Ministro cumpriu o seu papel e o dever que jurou cumprir quando solenemente tomou posse. Compete ao Governo de qualquer país, mesmo de Portugal, honrar pontualmente os seus compromissos. Aliás os cidadãos quando os não honram frente ao Estado, estão em apuros. Apuros sérios. Por isso, apesar de contrariados pagam pontualmente. Pelo menos o cidadão que estas vai escrevendo. Nada mais natural que o Estado pague na mesma moeda à sociedade civil.
Todavia, o Senhor Primeiro Ministro veio vangloriar-se por ter pago estes novecentos e muitos milhões de euros. Que há não sei quantos anos ninguém pagava... mas que agora sim, viu-se.
Conviria esclarecer S.ª Ex.ª de um par de coisas de somenos.
Primeiro é feio vir tirar desforço de outros por ter, quanto muito, cumprido a lei.
Segundo, convém não comparar demasiado não vá dar-se o caso, como se dá, de verificar que vários governos do mesmo Partido do Senhor Primeiro Ministro foram incumpridores. Pior: o actual Senhor Primeiro Ministro fez parte desses mesmos governos, ou seja, incumpriu.
Depois, com tanta comparação, ainda se arrisca a voltar a datas anteriores a 25/04/1974. E, se não estou em erro, esses governos pagavam a tempo e horas... Não cumpriam outros deveres do cargo mas lá pagar, pagavam.
Os senhores deputados que aplaudiram fervorosamente o Senhor Primeiro Ministro ficam agora com o ónus de o patear quando na Assembleia se verificar algum deslize do Governo. Só assim terão mérito esses aplausos.
Por exemplo: que dizem os senhores deputados à recente classificação de risco de Portugal cujo rating vai estar sob apertada vigilância nos próximos tempos? É que isto significa muito em juros a mais a pagar pela dívida pública... Para mais esclarecimentos façam o favor de ler o que se diz a pp 28 e ss no jornal “Público”.
Há dias em que mais vale o silêncio não vá uma má notícia ensombrar a que se pretende vender por boa.

*na gravura: uma caricatura política de Rafael Bordallo Pinheiro. O fundador da fábrica que está em risco de fechar.

2 comentários:

Troca Letras disse...

O sr. primeiro ministro, talvez tenha pago as dividas dos hospitais, mas o estado não são só hospitais – e muitas dividas a empresas ainda faltam pagar

Pagamico disse...

O Estado (somos todos nós) sempre foi pessoa de bem. Já não se dirá o mesmo daqueles que falam e agem em nome do Estado.