11 janeiro 2009

Expedição

Hoje não me apetece falar da crise. Também não me vou preocupar com o frio nem com o medo que rdp.s e tv.s vão espalhando a pretexto de nada.
Não sei porquê, mas ocorreu-me que o arrasamento programado de Gaza se destina a construir um imenso campo de futebol. Talvez um estádio com catacumbas, apetrechadas para recuperar os jogadores lesionados na refrega do jogo. É isso. Hoje o que vou é pensar em futebol. Talvez comprar a Bola ou pesquisar na net notícias sobre o chuto na bola. Se tivesse a mestria de Camilo José Cela bem poderia escrever os novos Contos de Futebol e pôr-me a fazer prognósticos. O problema é que hoje, como no tempo de Cela, “o mundo anda muito agitado e a cada dia que passa é mais difícil fazer prognósticos” Então o que é que acha da época das transferências? Acha que os gajos vão aguentar a pressão? É provável que sim, apesar de tudo. Estão a cair-lhe em cima e a organização dos árbitros nunca mais recebe os relatórios. A equipa do outro lado está muito desfalcada, aliás aquilo até nem é bem uma equipa, é um amontoado desorganizado, com muitos treinadores. Um jogo assim não faz sentido. O prognóstico não é saber o resultado. É saber qual o dia do funeral. Não sou adepto deste jogo. É como iniciar um jogo de xadrez em que um dos adversários só dispõe de peões. Um absurdo, mas que os regulamentos toleram. Alguns adeptos poderão pensar que este jogo tem lógica e que limpa a alma dos vencidos. Por isso agitam planos e palavrões sob os quais se escondem as sociedades comerciais que vendem os bonés, os very lights e gerem as equipas em confronto. Depois há o inefável papel dos intermediários. Quem são esses? Ah! Não sabe? Pois bem, são os portadores do formol e das drogas que fazem secar as consciências ao mesmo tempo que fazem mexer as pernas e lançar mais longe o sangue das claques. Nunca se sabe bem quem são e qual o seu poder real para poder fazer parar o jogo, apenas se sabe que aparecem e desaparecem com as luas. Depois, fica um rasto ou lastro de caretos, como que a mostrar a descontinuidade da vida. Morre-se por que se é civil e morre-se por outra coisa qualquer. Morre-se em qualquer idade, mas nunca se morre na idade certa. Como se sabe, os futebolistas vêm de todo o lado, mesmo da Etiópia ou da Gronelândia, terra que Cela pode ter percorrido durante a Segunda Guerra Mundial, para captar a grande sabedoria sobre o frio, como mostra o que escreveu: “um homem em hibernação rejuvenesce em função directa do quadrado do frio que conseguir suportar, expresso em graus centígrados, dividido pela raiz quadrada do seu ângulo facial, expresso em graus, minutos e segundos”. Ainda segundo Cela, este Teorema “é de grande utilidade nas indústrias carniças e na expedição de futebolistas para confins longínquos”.

Sem comentários: