A crise actual veio dar à evidência a volatilidade do emprego. Todos os dias se anunciam a extinção de centenas ou milhares de postos de trabalho. Os trabalhadores, que produziam riqueza a troco de um ordenado, são mandados para o desemprego porque o que produzem já não dá o lucro esperado. Durante anos e anos inventaram-se fórmulas que conduziram à precariedade do emprego. O emprego seguro e estável foi substituído pelos contratos a termo, até que se chegou ao conceito ultra-moderno da flexisegurança.
Os mentores deste caminho bem nos diziam que era a evolução necessária para defender e aumentar o mercado de trabalho. Todos aceitaram entrar no jogo e mesmo que algumas organizações sindicais levantassem a voz, não lhes era dado grande crédito. “Estão a fazer política”, diziam os políticos.
Casos como o da Qimonda e outros, onde está aplicado muito dinheiro público, permite-nos questionar: O que vale o trabalho? Como é que o trabalho se transformou numa coisa perversa, que deixa as pessoas abandonadas à sua sorte, mesmo que em redor se sinta algum movimento incómodo ou mesmo alguma solidariedade militante, de quem não pode dar muito mais que isso.
Nestas ocasiões, a preocupação dos políticos é mostrarem-se muito inquietados. Quando no governo, dizem que estão a criar muitos empregos ou a tomar medidas que irão gerar mais emprego. Os da oposição dizem que essas medidas não bastam e que assim não se vai lá. Quando a oposição toma o lugar do governo, inverte-se o discurso, mas na essência mantém-se o pouco valor dado ao trabalho.
De facto, o trabalho só tem valor se gera lucro: Contudo, não pode ser um lucro qualquer, tem de ser o lucro esperado, aquele que o empregador (outro termo moldado aos dias de hoje) entende como adequado. Então, se o lucro não está a ser o adequado, o empregador, quando tem a dimensão da Quimonda, pode dirigir-se aos políticos e chantagear: se não injectarem mais alguns financiamentos (podem ser sob a forma de subsídios, formação, juros bonificados, isenções fiscais, etc) fechamos as portas e vai tudo (ou quase) para o desemprego. Mais uma vez, o que está em causa não é o valor do trabalho ou assegurar o emprego. O que está em causa é o montante de lucro em jogo.
O modelo de desenvolvimento económico e social trouxe-nos até aqui. O Século em que acabamos de entrar, com a crise que o acompanha, mostra que o modelo ruiu. Talvez tudo não passe do prenúncio de uma nova era, que até poderá ser ainda mais ficcional se convencerem a maioria que não é preciso trabalhar para ser feliz.
23 janeiro 2009
O que vale o trabalho?
Marcadores: economia/finanças, JSC, política
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3 comentários:
Só pode ser uma nova era. A fórmula que mostro exemplarmente neste seu post está gasta. É tempo de em peias, as pessoas que vivem do seu trabalho dizerem acabou.
Se o mercado financeiro, remunera os capitais parados a 2 ou 3%, não queiram porque o investem e correm riscos, passar a ganhar 30 ou 40% em cada ano, à custa do suor das pessoas.
Os lucros têm que ser controlados e a a riqueza gerada repartida.
Para manter tudo como está pretendem-nos convencer que o que a crise mostrou é a necessidade de melhorar os mecanismos de controlo e de supervisão. Ou seja, prometem fazer o que é evidente, para que nada mude de essencial. Na verdade, como diz, o que é necessário é mudar de modelo, com outra lógica de apropriação e de redistribuição do bem-estar, com outros valores éticos e morais.
A pergunta é: quem é que nestes últimos tempos tem tentado enterrar toda e qualquer segurança nos contratos de trabalho? quem é que tem tentado alargar até limites indecorosos a precaridade? quem é que tem andado a pregar a flexibilidade?
E mais não digo...
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