11 fevereiro 2009

Estes dias que passam 142


Afinal o senhor bispo mantém o que disse. Convenhamos que só lhe fica bem. Sª Reverência (espero que seja este o tratamento adequado mas se não for paciência...) acha que não houve gás nem fornos crematórios. E que os judeus, esses matadores de Jesus, nem foram assim tão atingidos. Duzentos mil no máximo, segundo sábias contas feitas lá nas terras patagónias onde tantos cavalheiros de bem, injustamente acusados, passavam o resto dos seus dias esperando ver-se livres do Wiesenthal e dos de Israel (que gente tão vingativa, vê-se logo que são judeus!).
O lefebvriano bispo (que reintegraria a Igreja Católica nessa qualidade apesar de ter sido ordenado por quem o não podia fazer) disse ao Papa que não. Que para renegar as suas opiniões teria de re-estudar toda uma série de questões e que tal tarefa parecia não estar na (sua) ordem do dia.
Ou, por outras palavras, um bispo “cismático” derrota com meia dúzia de afirmações toda uma estratégia do Vaticano. Porque, e este é o ponto central, não foram os cismáticos a pedir o re-ingresso na Igreja oficial mas sim esta que se propôs absorvê-los apesar de, como tudo indica, esse grupo estar não só contra o que foi determinado pelo concílio Vaticano II mas, pior ainda, representar uma clara incursão do fascismo na Igreja. A menos que se considere de somenos a negação do Holocausto. Pessoalmente entendo que quem nega esta evidência é fascista, isto é está de acordo com os mandantes e executantes dessa política infame de aniquilamento de uma inteira religião pelo expedito meio de acabar com os seus praticantes. E mesmo com os não praticantes desde que filhos netos ou afins e familiares de judeus. São quatro “bispos” entre aspas e umas dezenas de milhares de simpatizantes. A maioria gente idosa mas com penetração em alguns meios mais jovens. Geograficamente dividem-se pela França e países vizinhos na sua imensa maioria. É duvidoso que, por exemplo, tenham representantes em Portugal. O país está demasiadamente descristianizado para alimentar estas dissidências integristas. Cá, os desiludidos com o catolicismo viram-se para os Adventistas do 7º Dia e para as Testemunhas de Jeová. E começam a aparecer mórmons e seitas brasileiras. Há mesmo um pequeno grupo de ortodoxos de obediência grega ou russa ainda que, em obediência aos princípios da autonomia ortodoxa, isso seja pouco visível. É de supor que estes novos grupos religiosos tenham até mais praticantes do que as tradicionais Igrejas Protestantes já estabelecidas em Portugal.
De todo o modo, a Igreja católica portuguesa fora o problema da crise de vocações e da falta cada vez maior de sacerdotes debate-se mais com a pouca afluência ao ofício dominical do que com o integrismo. Em Portugal, a Igreja pode não ter a força da sua congénere espanhola, mas o facto é que também não cria os anti-corpos que esta suscita quase diariamente no país vizinho.
Pessoalmente, sinto-me bem com esta Igreja que não frequento, de que não comungo ideais ou estratégias mas com quem consigo conviver sem me sentir pressionado mesmo quando se debatem questões de sociedade que no resto da Europa católica levantam enorme alvoroço. Em Portugal, nunca se levantaria a tempestade italiana a propósito de uma Eluanna presa durante mais de metade da sua (não) vida a um aparelho. Penso que isto é um bom sinal de coexistência de uma Igreja e de uma sociedade formalmente católica mas bastante laicizada.
Mas voltemos ao “bispo” rebelde. E sem querer pôr especialmente em causa o Papa há que convir que as coisas não correram bem. O Vaticano correu um risco desnecessário e, mais do que isso, pode vir a ser prejudicado na sua alegada tentativa de estabelecer relações mais distendidas com os mundos muçulmano e judaico. Levantou problemas na Alemanha, terra natal do Papa Ratzinger, onde as susceptibilidades são naturalmente muito vivas. E apareceu como uma rendição frente ao grupo integrista. Pouco importa se não era assim porque foi assim que foi vista a reintegração dos lefebvrianos. Eu sei que haverá quem diga que isto é uma análise apressada (pode ser) e que não toma em linha de conta todos os vectores (concedo) mas a opinião pública também não tem tempo para grandes estudos e maiores análises.
E nestes tempos de reinado do efémero é nessa arena que a Igreja defronta o mundo.

2 comentários:

Mocho Atento disse...

Foi levantada a sanção canónica da excomunhão, mas não foram integrados aqueles bispos na comunhão da Igreja. Não pertencem à Igreja Católica.

JSC disse...

Ao comentário do nosso Mocho Atento acrescento que as questões que têm sido colocadas acerca da decisão do Vaticano têm por origem motivações políticas, enquanto que aquela decisão terá assentado em motivações de índole religiosa.

Já agora refiro o quão de interessante tem um estudo de opinião que uma organização judia realizou e cuja conclusão aponta para o aumento de anti-semitismo em alguns países europeus. A noticiazinha de ontem dá hoje lugar a profundos artigos de opinião, que apontam as gentes europeias como próximas do sr do bigodinho.

O que não questionam é a oportunidade da sondagem/estudo. Tão-pouco falam dos porquês das pessoas responderem desfavoravelmente? Será que já se assimilou que quem não concordar com a política israelita é porque é anti-semita?