Uma semana igual a tantas outras
S.ª Ex.ª não mentiu. Simplesmente não se lembra. Assinou ou não assinou? Sei lá. Mas está lá a assinaturazinha... Bem, estar, está, mas uma pessoa assina tanto papel... E a maior parte das vezes isso é puramente maquinal. Pensamos estar a dar um autógrafo e pimba, aí vai disto: está a assinar-se um contrato. E S.ª Ex.ª não se lembra... Eu também não. Também, valha a verdade, nunca fui a Porto Rico, bem que teria gostado, aquilo é tudo praias, bancos, loiras e morenas de ressuscitar um morto (e só Deus sabe quanto preciso de ser ressuscitado...). E empresas de informática doentinhas, pálidas, murchas, que hoje valem um balúrdio e amanhã o papel das acções nem para limpar o dito cujo serve. E também não vendi nem comprei empresas mesmo daquelas das que não valem meio pataco. Minto: vendi quando jogava o monopólio. Mas isso foi há tantos anos que o crime, se crime era, prescreveu.
S.ª Ex.ª ao não se lembrar de coisa alguma entra naquela categoria catatónica dos relapsos da memória. Que dia é hoje? Não sei. E ontem? Esqueci-me. E amanhã? O futuro a Deus pertence e quem sou eu para tentar perscrutar os caminhos do Senhor.
S.ª Ex.ª perguntado se é Conselheiro de Estado, conselheiro amoroso ou apenas o Leal Conselheiro abreviado para uso de adolescentes retardados e da Ministra respectiva, respondeu que nada disso, era tão só o concelho de Mortágua... ou (hesitação sorridente) Aigues Mortes. Mais tarde, mais modesto, negou tais palavras e assumiu-se como “freguesia”...
Em suma, tudo como dantes, quartel general em Abrantes.
2
Os jornais noticiam severamente uma forte dissonância entre as previsões do nosso sábio e experiente governo e os resultados da contracção do PIB. Até os mais pessimistas ficaram surpreendidos. Engano, queridas paroquianas. Engano. Eu, que sou um blogger a soldo das potências das trevas, não fiquei surpreendido. Também não fiquei feliz, cabe dizer, mas não fiquei surpreendido e quem me lê fielmente (ora tomem lá!, só leram em diagonal e agora queixam-se) sabe que me gastei até ao tutano em agoirentas predições que agora se mostram horrivelmente reais. Achei, e acho, que as etéreas criaturas que nos (des)governam não merecem mais crédito que o Zandinga. São amadores. Amadores fraquinhos, seja dito. Principiantes, mesmo. E esta gente que quer fazer comboios de alta velocidade e outras bizarrias. Vê-se que em pequenos ninguém lhes fez a caridade de um comboio eléctrico, mesmo dos baratinhos. Agora vingam-se. Ele é TGV para aqui, para acoli e mesmo para Vigo. E Vigo, porquê? Já cá há o El Corte Inglês e vendem-se em qualquer praça os pimentos do Padron (unos pican otros non). Há por aí umas alminhas inocentes que acham que estas e outras despesas trarão para Portugal inumeráveis benefícios. Outras almas mais dadas à libertinagem juram que o tal comboio irá aumentar a predominância das praças espanholas sobre as portuguesas. Ou, por outras palavras: o tal Noroeste peninsular serve para favorecer ainda mais os hermanos espanhóis à custa de uma série de papalvos lusitanos que se julgam inteligentes.
E agora a verificação do erro de previsão. Vão dizer que é a crise, olá se vão. Qual crise qual quê! O tanas e o badanas. A burrice supina é só nossa, muito nossa. Ou melhor, deles, desse estouvado grupo de governantes que, contra todas as probabilidades e a mais elementar prudência, andaram por aí a armar-se ao pingarelho. Cotejem as suas declarações de, por exemplo, há dois meses atrás. Basta ir a uma biblioteca e pedir uma colecção de jornais referente a esse período. E digam-me depois se o que leram não parecia a a história da Branca de Neve travestida em lobo do Capuchinho Vermelho.
3 De repente o país entrou em polvorosa. Um porta-voz da Conferencia Episcopal disse, e isso está gravado, um par de coisas sobre o hipotético casamento dos homossexuais. Aqui para nós, se de facto acreditam no que dizem, já o deveriam ter dito por alturas da proposta do BE há um par de meses. A menos que, e isso é compreensível, não levassem o BE muito a sério. Ou que, e isso é ainda mais compreensível, soubessem que o P.S. entendia que essa proposta era aberrante, redundante ou fracturante (risquem o que não interessar). E de facto o Ps votou contra. Agora, ainda nem seis meses passados, é a favor. Como? Porquè? Pois não se sabe. De repente a proposta derrotada aparece como uma “bandeira” do novo congresso que se avizinha. Parece que o P.S. não dorme condoído com a sorte dos homossexuais impedidos de convolar em justa núpcias diante de um cavalheiro do registo civil. O P.S. viu a luz enquanto entrava no túnel da crise e das próximas eleições. Em momentos deste género, o P.S. “reencontra-se” e encontra milagrosamente o que ele pensa ser os ideais de esquerda. Se é que o casamento dos homossexuais ainda tem essa categoria. Países e parlamentos bem mais à direita do que é suposto ser o nosso partido socrático já há muito que admitem este casamento mesmo que ele se não destine à procriação...
Os senhores bispos já mandaram dizer que não estavam a forçar ninguém e muito menos a pregar uma cruzada contra o P.S.. E nissp foram pressurosamente ajudados por comentadores que asseveram que a Igreja portuguesa reconhece que a César o que é de César. E que, ainda por cima, belo argumento, a Igreja sabia que não tinha força nem capacidade para mobilizar eleitores contra a nefanda medida.
Tem força, claro. Só que, no caso em questão, os paroquianos, ou uma grande parte, esmagadora parte, se está nas tintas. Dois homens ou duas mulheres a tentar viver juntos não suscita grande surpresa e, muito menos, grande reparo. As pessoas têm mais problemas e mais instantes, a resolver. A única coisa estranha é a Igreja ignorar isso. Todavia, um punhado de federações socialistas já veio pedir que a medida seja alvo de referendo. Quando não querem decidir, pimba!, toma lá referendo. Parece que o dr. Mário Soares também se comoveu com esta novidade. Também ele acharia que o casamento é para os heterossexuais. Ou pelo menos, o que é mais crivel, entenderá que Lisboa vale uma missa, o mesmo é dizer que mais vale ter a Igreja por perto do que contra.
O dr. Almeida Santos entretanto arriscou uma palavrinha, modesta e cautelosa, sobre a eutanásia e sobre o reconhecimento do testamento vital. Oh que tumulto! E as pressões não se fizeram esperar. O dr. Santos meteu a viola no saco e as pessoas que querem evitar a si próprias e á família o espectáculo de um fim de vida degradado, sórdido, doloroso que se lixem. Notem bem que não discutir isto é condenar-nos à não vida daquela desgraçada italiana que penou meia vida carregada de isquemias e chagas até há meia dúzia de dias. Ninguém quer matar um inocentinho, como já se dizia no caso do aborto, apenas se exige que deixem morrer com dignidade e sem sofrimento próprio e dos familiares quem isso antecipadamente pede.
Andam por aí uns guardiões de um templo que querem impor a todos os outros a sua Weltanschaung, o seu modo de ver o mundo e participar dele. Se for assim, e é assim, então devemos começar a pronunciar-nos sobre questões de fé e sobre a vida interna da Igreja.
Em Portugal a questão religiosa morreu há um bom par de anos. Morreu primeiro quando o excesso republicano inventou o “delírio religioso”, morreu depois quando uma certa versão do salazarismo mais torpe entendeu defender um Estado nacional-católico. Mas volta e meia ressurge nestas discussões como se subitamente se olhasse para a vizinha Espanha onde a militância religiosa tem amotinado multidões sobre temas tão normais quanto o do ensino da educação cívica. Será assim? Quererão alguns portugueses importar o Monsenhor Rouco Varela e a nova cruzada que ele tenta pôr de pé?
4 Um tribunal da relação deu o golpe de misericórdia na bambochata dos apitos. Lendo os excertos do acordão, fica-se com a penosa ideia de que o Ministério Público meteu os pés pelas mãos, produziu uma prova nula ou tão pobre que mereceu um arraial de bordoada. A violência dos termos do acórdão é aterradora. E faz-nos temer pela nossa segurança e pela garantia de competência que soi atribuir-se ao MP (ou a algum MP) e isso, desculpem que o diga, corrói a própria base do sistema democrático em que vivemos e queremos viver. E faz-nos pensar nesta outra coisa: se em vez de procurar estar continuamente na ribalta mediática algumas personalidades do MP se preocupassem em instruir com seriedade, competência e bom senso os processos que lhes são atribuídos? Perdiam em visibilidade negativa o que todos ganharíamos em boa justiça.
S.ª Ex.ª não mentiu. Simplesmente não se lembra. Assinou ou não assinou? Sei lá. Mas está lá a assinaturazinha... Bem, estar, está, mas uma pessoa assina tanto papel... E a maior parte das vezes isso é puramente maquinal. Pensamos estar a dar um autógrafo e pimba, aí vai disto: está a assinar-se um contrato. E S.ª Ex.ª não se lembra... Eu também não. Também, valha a verdade, nunca fui a Porto Rico, bem que teria gostado, aquilo é tudo praias, bancos, loiras e morenas de ressuscitar um morto (e só Deus sabe quanto preciso de ser ressuscitado...). E empresas de informática doentinhas, pálidas, murchas, que hoje valem um balúrdio e amanhã o papel das acções nem para limpar o dito cujo serve. E também não vendi nem comprei empresas mesmo daquelas das que não valem meio pataco. Minto: vendi quando jogava o monopólio. Mas isso foi há tantos anos que o crime, se crime era, prescreveu.
S.ª Ex.ª ao não se lembrar de coisa alguma entra naquela categoria catatónica dos relapsos da memória. Que dia é hoje? Não sei. E ontem? Esqueci-me. E amanhã? O futuro a Deus pertence e quem sou eu para tentar perscrutar os caminhos do Senhor.
S.ª Ex.ª perguntado se é Conselheiro de Estado, conselheiro amoroso ou apenas o Leal Conselheiro abreviado para uso de adolescentes retardados e da Ministra respectiva, respondeu que nada disso, era tão só o concelho de Mortágua... ou (hesitação sorridente) Aigues Mortes. Mais tarde, mais modesto, negou tais palavras e assumiu-se como “freguesia”...
Em suma, tudo como dantes, quartel general em Abrantes.
2
Os jornais noticiam severamente uma forte dissonância entre as previsões do nosso sábio e experiente governo e os resultados da contracção do PIB. Até os mais pessimistas ficaram surpreendidos. Engano, queridas paroquianas. Engano. Eu, que sou um blogger a soldo das potências das trevas, não fiquei surpreendido. Também não fiquei feliz, cabe dizer, mas não fiquei surpreendido e quem me lê fielmente (ora tomem lá!, só leram em diagonal e agora queixam-se) sabe que me gastei até ao tutano em agoirentas predições que agora se mostram horrivelmente reais. Achei, e acho, que as etéreas criaturas que nos (des)governam não merecem mais crédito que o Zandinga. São amadores. Amadores fraquinhos, seja dito. Principiantes, mesmo. E esta gente que quer fazer comboios de alta velocidade e outras bizarrias. Vê-se que em pequenos ninguém lhes fez a caridade de um comboio eléctrico, mesmo dos baratinhos. Agora vingam-se. Ele é TGV para aqui, para acoli e mesmo para Vigo. E Vigo, porquê? Já cá há o El Corte Inglês e vendem-se em qualquer praça os pimentos do Padron (unos pican otros non). Há por aí umas alminhas inocentes que acham que estas e outras despesas trarão para Portugal inumeráveis benefícios. Outras almas mais dadas à libertinagem juram que o tal comboio irá aumentar a predominância das praças espanholas sobre as portuguesas. Ou, por outras palavras: o tal Noroeste peninsular serve para favorecer ainda mais os hermanos espanhóis à custa de uma série de papalvos lusitanos que se julgam inteligentes.
E agora a verificação do erro de previsão. Vão dizer que é a crise, olá se vão. Qual crise qual quê! O tanas e o badanas. A burrice supina é só nossa, muito nossa. Ou melhor, deles, desse estouvado grupo de governantes que, contra todas as probabilidades e a mais elementar prudência, andaram por aí a armar-se ao pingarelho. Cotejem as suas declarações de, por exemplo, há dois meses atrás. Basta ir a uma biblioteca e pedir uma colecção de jornais referente a esse período. E digam-me depois se o que leram não parecia a a história da Branca de Neve travestida em lobo do Capuchinho Vermelho.
3 De repente o país entrou em polvorosa. Um porta-voz da Conferencia Episcopal disse, e isso está gravado, um par de coisas sobre o hipotético casamento dos homossexuais. Aqui para nós, se de facto acreditam no que dizem, já o deveriam ter dito por alturas da proposta do BE há um par de meses. A menos que, e isso é compreensível, não levassem o BE muito a sério. Ou que, e isso é ainda mais compreensível, soubessem que o P.S. entendia que essa proposta era aberrante, redundante ou fracturante (risquem o que não interessar). E de facto o Ps votou contra. Agora, ainda nem seis meses passados, é a favor. Como? Porquè? Pois não se sabe. De repente a proposta derrotada aparece como uma “bandeira” do novo congresso que se avizinha. Parece que o P.S. não dorme condoído com a sorte dos homossexuais impedidos de convolar em justa núpcias diante de um cavalheiro do registo civil. O P.S. viu a luz enquanto entrava no túnel da crise e das próximas eleições. Em momentos deste género, o P.S. “reencontra-se” e encontra milagrosamente o que ele pensa ser os ideais de esquerda. Se é que o casamento dos homossexuais ainda tem essa categoria. Países e parlamentos bem mais à direita do que é suposto ser o nosso partido socrático já há muito que admitem este casamento mesmo que ele se não destine à procriação...
Os senhores bispos já mandaram dizer que não estavam a forçar ninguém e muito menos a pregar uma cruzada contra o P.S.. E nissp foram pressurosamente ajudados por comentadores que asseveram que a Igreja portuguesa reconhece que a César o que é de César. E que, ainda por cima, belo argumento, a Igreja sabia que não tinha força nem capacidade para mobilizar eleitores contra a nefanda medida.
Tem força, claro. Só que, no caso em questão, os paroquianos, ou uma grande parte, esmagadora parte, se está nas tintas. Dois homens ou duas mulheres a tentar viver juntos não suscita grande surpresa e, muito menos, grande reparo. As pessoas têm mais problemas e mais instantes, a resolver. A única coisa estranha é a Igreja ignorar isso. Todavia, um punhado de federações socialistas já veio pedir que a medida seja alvo de referendo. Quando não querem decidir, pimba!, toma lá referendo. Parece que o dr. Mário Soares também se comoveu com esta novidade. Também ele acharia que o casamento é para os heterossexuais. Ou pelo menos, o que é mais crivel, entenderá que Lisboa vale uma missa, o mesmo é dizer que mais vale ter a Igreja por perto do que contra.
O dr. Almeida Santos entretanto arriscou uma palavrinha, modesta e cautelosa, sobre a eutanásia e sobre o reconhecimento do testamento vital. Oh que tumulto! E as pressões não se fizeram esperar. O dr. Santos meteu a viola no saco e as pessoas que querem evitar a si próprias e á família o espectáculo de um fim de vida degradado, sórdido, doloroso que se lixem. Notem bem que não discutir isto é condenar-nos à não vida daquela desgraçada italiana que penou meia vida carregada de isquemias e chagas até há meia dúzia de dias. Ninguém quer matar um inocentinho, como já se dizia no caso do aborto, apenas se exige que deixem morrer com dignidade e sem sofrimento próprio e dos familiares quem isso antecipadamente pede.
Andam por aí uns guardiões de um templo que querem impor a todos os outros a sua Weltanschaung, o seu modo de ver o mundo e participar dele. Se for assim, e é assim, então devemos começar a pronunciar-nos sobre questões de fé e sobre a vida interna da Igreja.
Em Portugal a questão religiosa morreu há um bom par de anos. Morreu primeiro quando o excesso republicano inventou o “delírio religioso”, morreu depois quando uma certa versão do salazarismo mais torpe entendeu defender um Estado nacional-católico. Mas volta e meia ressurge nestas discussões como se subitamente se olhasse para a vizinha Espanha onde a militância religiosa tem amotinado multidões sobre temas tão normais quanto o do ensino da educação cívica. Será assim? Quererão alguns portugueses importar o Monsenhor Rouco Varela e a nova cruzada que ele tenta pôr de pé?
4 Um tribunal da relação deu o golpe de misericórdia na bambochata dos apitos. Lendo os excertos do acordão, fica-se com a penosa ideia de que o Ministério Público meteu os pés pelas mãos, produziu uma prova nula ou tão pobre que mereceu um arraial de bordoada. A violência dos termos do acórdão é aterradora. E faz-nos temer pela nossa segurança e pela garantia de competência que soi atribuir-se ao MP (ou a algum MP) e isso, desculpem que o diga, corrói a própria base do sistema democrático em que vivemos e queremos viver. E faz-nos pensar nesta outra coisa: se em vez de procurar estar continuamente na ribalta mediática algumas personalidades do MP se preocupassem em instruir com seriedade, competência e bom senso os processos que lhes são atribuídos? Perdiam em visibilidade negativa o que todos ganharíamos em boa justiça.
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