15 março 2009

Au Bonheur des Dames 175

O passado a bater à porta com fragor.

Sou um mau leitor de blogs. Por junto vou a três ou quatro no máximo e nem sempre diariamente. Todavia, é raro deixar escapar o agualisa do João Tunes por várias razões que não vem ao caso. E hoje, a propósito de um texto sobre as elites e o maoísmo dos anos 60 e 70 aparece uma fotografia da crise académica de Coimbra de 1969. Trata-se de uma fotografia da ocupação da sala 17 de Abril no edifício das Matemáticas nesse dia inaugurado com escândalo e desordem notórios por um presidente da república enxovalhado pela estudantada. A fotografia retrata um momento já posterior à saída precipitada das autoridades. Ora descubro, quarenta anos depois, com a nostalgia que calculam, o meu rosto sorridente. Confesso que não conhecia esta fotografia (ou não me lembrava dela) que, mais tarde, foi-me dito pela policia, era uma das provas que a policia encarregada dos processos de 69 contra os “agitadores” estudantis.
Quarenta anos depois, convém explicar que sou o rapazola que está á direita do estudante cuja cabeça parece aguentar o pau direito do cartaz “reintegração dos professores e alunos expulsos”.Se repararem bem eu ostento barba e bigode e sorrio. E não era para menos que aquele dia foi glorioso. Depois, as coisas complicaram-se um bocado, sobretudo a partir de Junho e da greve vitoriosa aos exames. Mas isso é outra história que alguma vez será eventualmente contada.
Mas esta fotografia ressuscitada, sei lá donde, por um blogger com quem me dou bem mas não conheço (!!!) pessoalmente perturba-me e comove-me. Quarenta anos! Foi mesmo há quarenta anos?

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6 comentários:

O meu olhar disse...

Deve ser uma emoção mcr, aparecer uma foto que desconhecia, com o seu rosto há quarenta anos! Consegui identificá-lo :)

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Uma vida recheada é uma vida que vale a pena! Um abraço, caro MCR

Praça Stephens disse...

Claro, Marcelo, estás tão visível e destacado...pois são, são mesmo 40 anos...
Osvaldo castro

M.C.R. disse...

Olá Vává!
Destacado não estou e visível relativamente pouco... De resto, naquela época, eu entendia, como ainda entendo, que mais vale estar confundido na multidão, com a multidão e pela multidão do que demasiadamente á vista. E, mesmo assim, como te lembrarás, as consequências foram o que foram: a mais longa estadia na Judite e a parca glória de ter sido o último estudante a ser libertado... Não que isso importe muito mas foi assim. Não tive nunca grande propensão para me pôr em bicos de pés. E disso tenho pago fartamente as consequências. Mas estava ali. E estive em tantos outros sítios que já nem me recordo bem. Como, de certeza, muitos muitíssimos da nossa geração. Agora, ao que parece, o ter estado (ou o ter sido...) é desvantagem, inconveniência ou prenúncio de "falta de carácter".
Um abraço Vává e "aguenta o berco" por aí se puderes ...e te deixarem.

*Osvaldo de Castro: membro da Direcção Geral da AAC em 1969. Incorporado por castigo em Mafra em finais do mesmo ano. devolvido à vida civil e aos seus colegas depois do acordo (honroso para os estudantes) com as autoridades políticas e académicas. E depois da queda do Ministro, claro...

Jorge Conceição disse...

Pelo nome e pelo aspecto na foto parece-me o Marcelo que conheci em Coimbra e com quem convivi em 63/64(ano da minha passagem pela Faculdade de Ciências da U. de Coimbra) e nas minhas visitas a Coimbra nos anos seguintes por alturas dos meus encontros com a minha namorada de então.

Esse Marcelo, originário de Moçambique, era estudante de Direito, companheiro habitual do Strecht e participou, como eu, numa tertúlia do Mandarim onde pontificava o Dr. Orlando de Carvalho (mis tarde Prof.) e na AAC reaberta no início de 1964. Mais tarde ainda tivemos alguns (poucos) cruzamentos político-partidários.

Na crise de 69 eu estudava então em Lisboa (IST), mas em 1970, já em Mafra, tive a possibilidade de conviver com vários estudantes da crise coimbrã que haviam sido incorporados compulsivamente.

Bom, se o Marcelo é o mesmo,isso dá-me uma grande alegria, pois gosto sempre de saber o paradeiro dos meus companheiros de antigas lutas.

Se não é, um abraço na mesma, pois nos irmanaram ou irmanam preocupações de mudança que não se desfizeram com o fim da juventude.

M.C.R. disse...

Saravah, Jorge Conceição

Esse Marcelo que te surge das brumas da memória só não é moçambicano apesar de lá ter vivido uns escassos (e felizes, há que dizê-lo) anos. Fora isso e algumas companhias e criaturas que se foram perdendo na voragem dos anos e dos percursos é o mesmo ou quase: mais qurtanta anos em cima, mais vinte quilos, a mesma indignação w a mesma não resignação. quiçá em tons mais moderados que o espectáculo do mundo e os cavalheiros de hoje também não merecem que uma pessoa se engasgue. Mas no fundo é o mesmo na medida em que alguém é o mesmo dezenas de anos depois.
Não sou nem quis ser deputado, não milito em qualquer partido, irrito-me com todos sobretudo com as da família a quem - como é sabido - não se perdoam traições. O resto é o que quiseres ler por aqui e que fala do que penso do que quero ou quis, do que sonho ou sonhei...