“Presente!”
Facetta nera
Bell’abissina
Aspeta e spera
Che già l’ora s’avvicina
Corre com insistência entre alguns pequenos génios provinciais uma ideia peregrina: os deputados são do partido e tudo devem ao partido. Sobretudo obediência, muita e cega obediência. Porque é o partido que os escolhe, é o partido que os propõe sempre numa ranchada, é o partido que eventualmente os elege com os votos de “muito povo” que, provavelmente, também pertencerá ao partido. Os deputados sentam o sim senhor no parlamento para dizerem “sim senhor” a toda e qualquer bojarda que passe pela cabecinha louca que manda no partido. Não o fazerem é colaborar objectivamente com a oposição, seja nas grandes como nas pequenas questões. Como nos saudosos tempos do senhor Enver Hodja, ou de qualquer dos seus santos iluminadores chame-se ele Lenin, Stalin ou Brejnev. Também aí o partido, confundido com o Estado, com a polícia politica, com a nomenklatura e outras aberrações que deram no que deram, era tudo e os seus deputados nada.
Pratiquemos um pouco nesta elucubração : se os deputados estão ali para levantar e sentar o dito cujo ao estalido de dedos ou do knut da direcção parlamentar, se só falam a favor da proposta do partido que os pariu, para que é que são necessários tantos? Não bastaria, digamos, uma dúzia, dúzia e meia, vá lá um quarteirão de criaturas divididas consoante a percentagem de votos? E poupava-se um dinheirão (que até poderia ser dividido pelos deputados remanescentes… em vez de depois se ter que lhes arranjar prebendas compensatórias como acontece amiúde) e até se poupava em espaço. Que um deputado é muito espaço perdido: ele é gabinetes, sala grande para todos, passos perdidos, parking enfim um horror! Um horror!
Aliás, só não se percebe uma coisa: se os deputados são do partido e não da populaça votante, por que é que os dividem por distritos? Assim como assim já é uma maçada identificar os deputados, já não digo de Lisboa ou do Porto, mas tão só os de Braga, Coimbra ou Aveiro. A gente vai e lê a lista desses presuntivos ínclitos filhos da Nação: conhece o primeiro, talvez o segundo, com dificuldade o terceiro e depois é o deserto dos tártaros. Uma multidão de criaturas desconhecidas, absolutamente fungíveis e, a la rigueur, desnecessárias.
Fazia-se uma lista nacional com fins meramente informativos e a gente votava nas setas, na estrelinha, na foice, na rosa e nos restantes depauperados signos. Ou, em vez disso, aparecia à votação o candidato a primeiro ministro e, depois de eleito, arranjava não só os ministros e secretários de Estado mas também os deputados necessários indicados a dedo (como aliás agora ocorre) sem a tonta despesa da mediação de uma eleição que só promete aos eleitores uma coisa: os deputados nunca se responsabilizarão perante eles.
E, convenhamos, está bem. Os eleitores não percebem patavina dos negócios de Estado, das subtilezas das finança públicas ou da complicação que é o Serviço Nacional de Saúde. O eleitor quer é o papo cheio, o subsídio de desemprego, a escola a funcionar vinte e quatro horas sobre vinte quatro horas que é preciso arrumar os filhos em qualquer parte, o hospital à porta de casa e menos impostos.
Se o eleitor se junta a outros e protesta, é porque está feito com um sindicato que está infiltrado pelos bolchevistas, pelos anarco-sindicalistas, pelos corporativistas ou por outros istas desde que não sejam os meros arrivistas que esses não protestam, não querem votos em deputados independentes, sobretudo em deputados dependentes da vontade dita popular.
Aqui estamos, aqui chegámos. Como noutras épocas, e à sombra de eleições cada vez mais restritas, se chegou aos gauleiters, aos kapos, aos gulags e a outras coisas de menor importância. Que se saiba a maioria do povo punha a pata no ar de mão estendida ou punho cerrado e aí vai disto: longa vida ao pai dos povos, heil, heil chefe bem amado, Salazar estás nos nossos corações. E para quem protestar bastam uns safanões dados a tempo…
D’oliveira fecit
Ano 120º do nascimento do nosso “António”, do igualmente nosso Adolph, 130º ano do nascimento do Yossip Djugatchivilli , pai dos povos que está vivo nos nossos corações, e 116º ano do nascimento de Benito, o abençoado, o “canibal dos padres”, o “verdadeiro herético”.
* este texto deveria ser iniciado com uma citação dos deveres do bom filiado da Mocidade Portuguesa que se não encontrou. Em troca – e para melhor – aqui fica o estribilho de “Facetta nera” hino italiano dos anos de Benito
Pratiquemos um pouco nesta elucubração : se os deputados estão ali para levantar e sentar o dito cujo ao estalido de dedos ou do knut da direcção parlamentar, se só falam a favor da proposta do partido que os pariu, para que é que são necessários tantos? Não bastaria, digamos, uma dúzia, dúzia e meia, vá lá um quarteirão de criaturas divididas consoante a percentagem de votos? E poupava-se um dinheirão (que até poderia ser dividido pelos deputados remanescentes… em vez de depois se ter que lhes arranjar prebendas compensatórias como acontece amiúde) e até se poupava em espaço. Que um deputado é muito espaço perdido: ele é gabinetes, sala grande para todos, passos perdidos, parking enfim um horror! Um horror!
Aliás, só não se percebe uma coisa: se os deputados são do partido e não da populaça votante, por que é que os dividem por distritos? Assim como assim já é uma maçada identificar os deputados, já não digo de Lisboa ou do Porto, mas tão só os de Braga, Coimbra ou Aveiro. A gente vai e lê a lista desses presuntivos ínclitos filhos da Nação: conhece o primeiro, talvez o segundo, com dificuldade o terceiro e depois é o deserto dos tártaros. Uma multidão de criaturas desconhecidas, absolutamente fungíveis e, a la rigueur, desnecessárias.
Fazia-se uma lista nacional com fins meramente informativos e a gente votava nas setas, na estrelinha, na foice, na rosa e nos restantes depauperados signos. Ou, em vez disso, aparecia à votação o candidato a primeiro ministro e, depois de eleito, arranjava não só os ministros e secretários de Estado mas também os deputados necessários indicados a dedo (como aliás agora ocorre) sem a tonta despesa da mediação de uma eleição que só promete aos eleitores uma coisa: os deputados nunca se responsabilizarão perante eles.
E, convenhamos, está bem. Os eleitores não percebem patavina dos negócios de Estado, das subtilezas das finança públicas ou da complicação que é o Serviço Nacional de Saúde. O eleitor quer é o papo cheio, o subsídio de desemprego, a escola a funcionar vinte e quatro horas sobre vinte quatro horas que é preciso arrumar os filhos em qualquer parte, o hospital à porta de casa e menos impostos.
Se o eleitor se junta a outros e protesta, é porque está feito com um sindicato que está infiltrado pelos bolchevistas, pelos anarco-sindicalistas, pelos corporativistas ou por outros istas desde que não sejam os meros arrivistas que esses não protestam, não querem votos em deputados independentes, sobretudo em deputados dependentes da vontade dita popular.
Aqui estamos, aqui chegámos. Como noutras épocas, e à sombra de eleições cada vez mais restritas, se chegou aos gauleiters, aos kapos, aos gulags e a outras coisas de menor importância. Que se saiba a maioria do povo punha a pata no ar de mão estendida ou punho cerrado e aí vai disto: longa vida ao pai dos povos, heil, heil chefe bem amado, Salazar estás nos nossos corações. E para quem protestar bastam uns safanões dados a tempo…
D’oliveira fecit
Ano 120º do nascimento do nosso “António”, do igualmente nosso Adolph, 130º ano do nascimento do Yossip Djugatchivilli , pai dos povos que está vivo nos nossos corações, e 116º ano do nascimento de Benito, o abençoado, o “canibal dos padres”, o “verdadeiro herético”.
* este texto deveria ser iniciado com uma citação dos deveres do bom filiado da Mocidade Portuguesa que se não encontrou. Em troca – e para melhor – aqui fica o estribilho de “Facetta nera” hino italiano dos anos de Benito
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