As fotografias nunca são inocentes
O meu caro Manuel Sousa Pereira mandou-me uma série de fotografias de Moçambique. Fotografias antigas, mais antigas do que eu, ou quase. Esta que se mostra relembra a praia da Polana tal qual a conheci em 54. Tratava-se de uma praia com protecção contra tubarões cercada como eventualmente se poderá ver por uma ampla barreira de arame. Ao meio havia uma torre de saltos. Entre a torre e a margem havia uma corda, recurso para quem se cansasse.
A praia era servida por um Pavilhão (era aliás assim que se chamava) onde havia, se bem me recordo vestiários, instalações sanitárias, um amplo restaurante com esplanada na varanda e(provavelmente) mais serviços de que só recordo um rudimentar posto de enfermagem.
Para alem da natural nostalgia, cumpre espreitar melhor a fotografia e reparar na ausência de crianças negras. Parece-me mesmo que nem mulatas aparecem. Em primeiro plano talvez haja uma menina indiana: está vestida com algo que é bem mais recatado do que os recatadíssimos fatos de banho femininos da altura.
A impressão que tenho é que esta fotografia é dos anos quarenta. Ou seja vinte e poucos anos antes de rebentar a guerra colonial.
Porventura está também aqui uma referência à origem da insurreição: quando a maioria dos cidadãos é invisível mesmo numa pequena praia gradeada por via dos tubarões, algo está mal. Claro que se poderá sempre dizer que os meninos negros não gostavam de mar; não gostavam de praias contra tubarões; não gostavam de se misturar com brancos; preferiam outros locais menos multitudinários; preferiam o mar livre e aberto e a aventura que isso necessariamente implicava.
Todavia, para o comum dos mortais fica a ideia de que talvez aqui funcionasse essa regra não escrita: proibido aos não brancos. Como na África do Sul vizinha, a do apartheid.
Só que os brandos costumes lusitanos ou luso-tropicais detestavam essa afirmação tão torpe e substituíam-na por um silêncio tão prenhe de negação que “até mesmo um rapazinho negro a percebia”.
A praia era servida por um Pavilhão (era aliás assim que se chamava) onde havia, se bem me recordo vestiários, instalações sanitárias, um amplo restaurante com esplanada na varanda e(provavelmente) mais serviços de que só recordo um rudimentar posto de enfermagem.
Para alem da natural nostalgia, cumpre espreitar melhor a fotografia e reparar na ausência de crianças negras. Parece-me mesmo que nem mulatas aparecem. Em primeiro plano talvez haja uma menina indiana: está vestida com algo que é bem mais recatado do que os recatadíssimos fatos de banho femininos da altura.
A impressão que tenho é que esta fotografia é dos anos quarenta. Ou seja vinte e poucos anos antes de rebentar a guerra colonial.
Porventura está também aqui uma referência à origem da insurreição: quando a maioria dos cidadãos é invisível mesmo numa pequena praia gradeada por via dos tubarões, algo está mal. Claro que se poderá sempre dizer que os meninos negros não gostavam de mar; não gostavam de praias contra tubarões; não gostavam de se misturar com brancos; preferiam outros locais menos multitudinários; preferiam o mar livre e aberto e a aventura que isso necessariamente implicava.
Todavia, para o comum dos mortais fica a ideia de que talvez aqui funcionasse essa regra não escrita: proibido aos não brancos. Como na África do Sul vizinha, a do apartheid.
Só que os brandos costumes lusitanos ou luso-tropicais detestavam essa afirmação tão torpe e substituíam-na por um silêncio tão prenhe de negação que “até mesmo um rapazinho negro a percebia”.
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