23 junho 2004

Valerá a pena?

Uma das angústias que me têm assolado nos últimos tempos, prende-se com a decisão de ser ou não candidato a uma Câmara, repetindo a experiência de 2001.
Por um lado, acho que devia ser. Gosto da minha terra e gostava de ajudar a virar uma página negra do meu concelho.
Por outro lado, acho que não devo ser. Gosto do que faço e de muitas coisas que posso vir a fazer, não sendo autarca.
Mas há mais. Em rigor, há apenas dois tipos de autarcas: os sérios e os desonestos. Tal como diz a minha mãe, que me conhece bem, eu não tenho jeito para ser desonesto. O que significa que, sendo presidente de uma Câmara, estaria a dar um passo atrás na minha vida.
Há mais, ainda. Não me suponho ser presidente da Câmara por mais de 8 anos. Sendo eu um profissional liberal, que farei ao fim desses 8 anos, quando os meus clientes já nem do meu nome se lembrarem? Só terei uma solução: continuar na política. E fazer tudo para assegurar o meu lugar na política a todo o custo, para garantir a sobrevivência. E, assim, estaria a ser igualzinho a todos aqueles que combato.
Raio de vida!

4 comentários:

Primo de Amarante disse...

Conhece o argumento de Pascal para provar a necessidade de viver de harmonia com a existência de Deus?!...
Talvez este argumento o ajude a resolver o enigma.

Kamikaze (L.P.) disse...

Não percebi bem esta:
"Em rigor, há apenas dois tipos de autarcas: os sérios e os desonestos. Tal como diz a minha mãe, que me conhece bem, eu não tenho jeito para ser desonesto. O que significa que, sendo presidente de uma Câmara, estaria a dar um passo atrás na minha vida."

Quanto ao dilema: se a utopia ainda o anima, vá em frente, é de pessoas HONESTAS COM CORAGEM de enfrentar as dificuldades que o país precisa. Mas antes pondere se este não será, do ponto de vista da sua vida pessoal, um convite certo na hora errada. Se for, não fique com remorsos de recusar...

Primo de Amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Primo de Amarante disse...

"Til" fez a sintese da aposta de Pascal. Só lhe faltou acrescentar «e ganhará o reino de Deus". Como depreendo que o carteiro é agnóstico, o "reino de deus" é a metáfora que serve para dizer que não há "fim da história", pois são possíveis as utopias. Como sabe "ser utópico" é empenhar-se em realizar aquilo que nas actuais circunstâncias parece impossível.
De facto, para quem lê a "Visão" desta semana ("Teia de Narciso" pp.54,55,56) recorda outros "polvos" como o do Marco, o de Braga, etc. E, ao mesmo tempo, recorda o que dizia há tempos Orlando Gaspar de Assis e este daquele. E, certamente interrogar-se-á: por que aparecem os dois juntos nestes "sobressalto cívico" de que fala Assis?!... Diz-se que já está assegurado na Câmara do Porto (se o PS a ganhar)um lugar de vereador do urbanismo para o filho de Gaspar e a senhora mais empenhada na luta gasparina terá um lugar, na cota para mulheres,de deputada. Também se estranha que Mário de Almeida (o autarca de Vila do Conde) tenha desistido da corrida contra Assis.Há quem garanta que o filho de Mário de Almeida já tem assegurado um lugar no secretariado de Assis, o que lhe permite vir a ser deputado. Tudo isto, naturalmente, a bem da nação e, como "sobressalto cívico".
Ficamos, assim, com a sensação de que são "todos iguais e todos diferentes" e que certas palavras em certos políticos (como "sobressalto cívico" são ocas:perdem todo o seu sentido. Mas, mesmo assim, estou com Kamikaze: é preciso dizer que a utopia não morreu.