«nós, os que nos dedicamos de alma e coração à Justiça não devemos ceder à tentação de nos deliciarmos com a efemeridade que representa uns tantos minutos ou horas de referência mediática, a alguns dos nossos problemas, mas sim persistir sempre na busca de soluções sólidas e estruturadas para o que está diagnosticado como zonas menos eficientes do nosso modelo jurídico, nomeadamente ao nível do penal e processo penal que é o mundo que tange de forma mais visível e imediata com a segurança colectiva, por um lado, e a liberdade individual, por outro.(...)
Um homem sem família e sem trabalho está no grau máximo da exclusão e esta é o primeiro passo para a prática de actos ilícitos que conduzem necessáriamente à nossa insegurança colectiva e à inevitável perda de liberdade individual do excluído. Parece, assim, ser inquestionável que a recuperação de muitos dos que passaram para lá da linha da licitude aconselha que se aposte de forma muito convicta e perseverante numa metodologia sancionatória que, sem por em causa a nossa segurança colectiva, invista no homem enquanto ser social e elemento trabalhador e útil para a comunidade.»
16 julho 2004
Anjinho ?
Nada sei do nóvel Ministro da Justiça, a não ser que ainda é Presidente do Conselho Distrital do Porto da O.A., era apoiante de Rogério Alves como candidato a Bastonário, pertenceu durante cerca de 10 meses ao CSM (obrigado Direitos), é militante do PSD e, para além do mais que consta do discurso que proferiu em 1 de Março de 2004, subscreveu esta prosa onde perpassam alguns laivos de estilo humanista:
Se as palavras servem, como relembra o Compadre Esteves, para «transmitir o sentido do ser, a melodia da existência», estou tentada a conceder-lhe o benefício da dúvida, nem que seja por uma semana. Meus caros amigos nortenhos: quid juris? Irá o Mano Manel apodar-me, mais uma vez (e já com condescendência) de "anjinho"?
Marcadores: kamikaze (L.P.), política
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25 comentários:
Bem, não vale a pena esconder - muito menos de mim própria - que as palavras transcritas foram proferidas numa conferência sobre o alargamento da aplicação territorial da medida de "vigilância electrónica", que creio ser praticamente consensual...
Posso acrescentar que é amigo de estrada de Rui Rio e, ambos, com Agostinho Branquinho, eram considerados o grupo dos "críticos" no tempo em que Luís Filipe Menezes dominava o PSD do Porto. Filho de advogado, irmão de advogados...
Quanto ao naco de prosa, vou reler pela terceira vez. Estou com a inteligêmcia embotada.
Acaabo de ouvir Mário Bettencourt Resendes, no Expresso da meia-noite da SIC Notícias, dizer que J.P. Aguiar Branco tanto podia ser do PS como do PSD (oops!acho que era "no bom sentido") e que se demitiu da vice-presidência do PSD já no consulado de Durão Barroso, por este não lhe ter dado apoio na demarcação que fez das declarações de Alberto João Jardim sobre a nova legislação sobre consumo de estupefacientes. Lembro-me da essência da discursata do Sr. Alberto João, mas está-me a escapar o que terá levado Aguiar Branco a querer que, por causa delas, a OA lhe instaurasse um processo disciplinar. Bem, não custa imaginar...
Com este currículo está decidido: vou mesmo conceder-lhe o estado de graça!
Meu caríssimo Tomás
Que haja vontade de realização e tom... (bem, aquilo que precisa ter o próximo presidente do SMMP)já não é nada pouco, se essas qualidades estiverem ao serviço de boas ideias!
(cont.) Bem sei que o voluntarismo não faz milagres, mas ajuda...
bem, pensava eu que a entrevista referenciada no post dava aumas pistas, eh eh eh...
Não sei se J.P. Aguiar Branco vai ser um bom Ministro, também não sei que ligações tem com Branquinho que, no meu entender está a kilómetros de distância de J.P.A.B., sobre o ponto de vista intelectual e, à falta de melhor expressão,rigor. Sei que J.P.A.B é um homem de convicções, de palavra e que honra os compromissos. Foi convidado pela Associação dos Amigos do Marco (que surgiu como sobressalto cívico contra F.T) para falar sobre a "JUSTIÇA", numa altura em que o PSD e o CDS/PP estavam coligados (pela mão de Filipe Meneses) no apoio a F.T. Sofreu pressões de todo o tipo para não comparecer e na própria altura em que se derigia para a sala de conferências surgiu um dirigente do PSD que o pressionou a não participar no debate. Resistiu e correspondeu às expectativas. Isto foi presenciado por mim.
Devo também acrescentar que o mesmo sucedeu com Rui Rio, que procedeu de forma idêntica.
Estranho que o Irmão Manel ainda não tivesse posto aqui nenhum comentário. Talvez esclarecesse a Kamikase.
Carissimo(a): Estou num outro paradigma -- o de admirar pessoas que não tomam as palavras como armadilhas. E admiro que na política ainda haja pessoas fazem das palavras a manifestação(espelho)das suas próprias convicções.
"Portar bem" é um conceito moral. A coerência com convicções, diz respeito ao carácter. E embora estes registos não sejam muito diferentes, privilegio o carácter.
Ó marinquieto: provocou, provocou e agora que o Compadre lhe respondeu com sinceridade e à altura (digo eu, que concordo com ele) moita carrasco?
Faço a devida vénia, mas discordo da opinião de Pinto Nogueira quanto a "tanto fazer". Se assim fosse, porque se preocuparia ele em ter intervenção cívica (e tem muita!)?
No dia em que já não tivermos uma réstea de esperança, que nos resta? Até o Carteiro, no momento mau como cobras raivosas que vem vivenciando, nos brindou com um poema de Gedeão, ofertando Dez réis de esperança...!
Não se pode dizer abertamente -- pode haver escutas! Mas, só para nós, o P.N. é um guerrilheiro: o seu lema está no que disse, um dia,Vaneigem: "Quando deixarmos no vestiário a última recusa, tornámo-nos no mais imbecil dos conformistas".
É ou não verdade, carissimo P.N?!...
Carissimo(a)marinquieto (o carissimo não tem conotação paternalista!): abriu uma discussão apaixonante. Precisávamos de precisar conceitos, porque podemos falar das mesmas coisas, mas fazer interpretações diferentes. Começa logo pelo conceito "ideologia". Então, as convicções não fazem parte de um sistema de crenças e esse não será ideológico?!... "Ética" e "moral", como sabe, têm a mesma raiz conceptual. A ética das convicções é inseparável da ética da responsabilidade (Max Weber). Não é presumível que quem não tenha convicções possa ter responsabilidades. A outra questão, questão fundamental, é a de sabermos se há só um sistema de crenças (ideologia)justo e perfeito ou se há diferentes modos de ver o mundo (ideologias). Pessoalmente, não quero impor como único o meu sistema de crenças ou modo de ver o mundo, muito embora para mim seja o melhor (tenho convicções!), mas posso confrontá-lo com outros sistemas e aprendo com os meus erros; isto é, posso mudar de convicções se descobrir que estou errado. Pois, sou responsável pelas consequências das minhas convicções.
Se não privilegiarmos a coerência com as convicções que moral ou ética podemos esperar dos comportamentos?!...
Só mais uma consideração. As convicções alimentam-se do princípio da tenacidade: teimamos com as nossas convicções, porque elas fazem parte das nossas crenças que incorporam os nossos valores (medidas de escolha).Mas, o princ.da tenacidade tem de estar aberto ao confronto. De contrário, caímos num fundamentalismo. Por outro lado, convicções sem o princípio da tenacidade não são convicções, mas pensamento light. É o pensamento light que alimenta os media, a política espectáculo, a permissividade, o hedonismo,o pragmatismo e a "idelogia" como conjundo de ideias manipuladoras.
Não me refiro à conotação manipuladora do significado de ideologia e, por isso, não me refiro a programas (como, p.ex. é entendido nos hoteis brasileiros). Os programas, no meu entender, são o caminho que deve seguir um projecto. E este obedece a finalidades que traduzem convicções. Neste sentido, os progamas são inseparáveis das pessoas, cumprindo, dentro de um sistema de crenças, o princípio ético de Kant. "O homem deve ser sempre tratado como um fim e nunca como um meio".
O problema reside no sistema de crenças e é este que devemos debater, para o corroborar, o corrigir ou refutar.Cada vez se torna mais importante a comunicação; ou melhor, uma ética da argumentação (ser capaz de responsavelmente corrigir ou abandonar convicções que claramente foram refutadas).
Comadre marinquito(a):(Não me soa este tratamento lá muito bem!)
O “confronto político-sindical" (também fui dirigente sindical) não pode passar ao lado da “arena filosófica”. É o nosso modo de ver a vida, os outros e o mundo que nos cria deveres cívicos (lutar por uma determinada organização do Estado) e sindicais (lutar pela defesa dos interesses da profissão).
Não vale a pena ter preconceitos em relação à FILOSOFIA. Desde que o “logos” se tornou palavra de homem (rompendo com a palavra dos deuses “mithos”), a Filosofia (racionalidade crítica) é o único recurso para pensar a vida, o sindicato, a história, a arte, o amor, a ciência, a política, etc. Não há outra forma, quer queiramos ou não! Precisamos de um conhecimento adquirido pela reflexão critica e esse é o conhecimento filosófico. A crise sindical, política, a falta de valores, etc. estão na desvalorização da FILOSOFIA. Mas, logo que começamos a fazer esta análise entramos no terreno da filosofia. E, plagiando Sócrates, quem sabe que há uma crise já modificou a crise e está mais próximo de a resolver.
O pragmatismo é pragmatismo, vem na linha de outras correntes como o utilitarismo, o hedonismo, etc. São, se quiser “filosofias” do desencanto ou do imediato (e, neste último sentido todos precisamos dele, mas só para o imediato). Têm como critério de avaliação da vida o útil, o interesse, o que “funciona” num determinado contexto, o que agrada. O pragmatismo não é light na medida em que é teorizável. Mas nas suas consequências (porque não é gerado por um projecto de vida) é gelatinoso (e, neste sentido, light). Falta-lhe o hard da utopia, do sonho que, no dizer de Gedeão, comanda a vida.
Este debate, como é patente, espelha duas concepções do mundo. Pelas considerações de cada um de nós se configuram valorações e critérios de um sistema de crenças ou modo de ver. A importância deste debate está na reflexão a que ele nos obrigou. E pensar pela segunda vez o que tínhamos pensado é entrar no espírito da filosofia. E é com este espírito que vamos aprofundando as nossas convicções, modificando os nossos modos de ver e, de certa forma, compreendendo-nos melhor. Como vê precisamos da FILOSOFIA para sermos mais autênticos, corrigindo ou corroborando o ponto de vista que traduz o nosso “sistema de crenças”.
As minhas saudações revolucionárias, comadre sindicalista.
Vamos ver se a ligação à net não cai nos próximos dois minutos como me vem acontecendo. À cautela, serei breve.
Diz o compadre Esteves: " O pragmatismo não é light na medida em que é teorizável. Mas nas suas consequências (porque não é gerado por um projecto de vida) é gelatinoso (e, neste sentido, light). Falta-lhe o hard da utopia, do sonho que, no dizer de Gedeão, comanda a vida."
Ora parece-me que esta asserção comporta contradições. Porque é que o pragmatismo é incompatível com o tal projecto? Com a filosofia no sentido que penso ter sido por si usado? Isso seria concluir que quem pensa e tem projectos não pode pensar também na maneira mais eficaz de os levar à prática, o que pode passar - e passa quase sempre - pela definição do momento e meios mais oportunos. Tem de ser assim, se queremos agir e não apenas filosofar (sem sentido pejorativo). Então na vida política e na vida sindical ainda é mais assim! E neste sentido o pragmatismo pode ser bem hard, como diz marinquito! E não significa abdicar das convições, da ideologia, nem passar a ser gelatinoso!
E pronto, por ora é só, não sei quando poderei voltar a acompanhar este aliciante debate.
Caríssima kamikase:
1º. Uma contradição não é uma incompatibilidade.
2º. Não podemos confundir fins com meios. O projecto situa-se na ordem dos fins, compõem-se de metas. O critério de avaliação das metas de um projecto de vida, por exemplo, não pode ser determinado pelas circunstâncias. Quem tem um projecto de vida sabe para onde vai e não subordina o seu rumo a interesses circunstanciais. O pragmatismo diz respeito a meios e o seu critério é o que é mais oportuno num determinado contexto. Ora, o que é mais oportuno pode ser o que subverte os fins. Uma coisa é a luz que ilumina numa direcção, outra coisa é virar a lanterna para um lado ou para o outro. E quem usa a lanterna (pragmaticamente) para a virar para um lado ou para o outro pode perder o rumo que traçou.
Não concorda comigo!?...
Espero que ainda vá a tempo da sua resposta.
Esqueci-me desta achega. Repare que para atingir determinados fins tem todos os meios são legitimos. O pragmatismo, por sua própria natureza relativista, não diz respeito aos fins. Por isso,se diz que não tem finalidades nem programa: é a filosofia da pos-modernidade.
Queria dizer "nem todos os meios são legitimos".
Muitas vezes confunde-se "pragmatismo" com "bom-senso". Pode haver em certo pragmatismo bom-senso, mas são conceitos que têm sentidos diferentes.
Compadre, ontem já não fui a tempo.
Mas não, não concordo consigo. Sem a tal inteligência prática de que bem fala marinquieto, o mais provável é nunca se atingirem os fins!
E com isto estamos mesmo a mudar de página... e eu ainda com problemas de acesso.
Pode chamar ao pragmatismo inteligência prática como outra coisa qualquer. Mas a inteligência prática (há quem tenha estudaddo este assunto, p.ex.,Sternberg) liga-se ao mundo da vida, a um fundo cultural que a aprendizagem, a nossa relação interactiva com o mundo, as pessoas, etc., nos deu. O pragmatismo é um conceito que vem da filosofia americana e que define, sobretudo, critérios de acção. Surgiu com a ideia de que a filosofia como concepção do mundo tinha terminado (fim da história=fim da Filosofia). É interessante ler as origens do pragmatismo em John Murphy. Hoje, no "Público" vem um artigo de José Vitor Malheiros (S.Bento "light") que implicitamente define bem o pragmatismo ligado á política.
Posso parecer pretensioso, mas sobre o "vale-tudo" tive, há anos, no "Público" , um debate interessante com E.Prado Coelho, a propósito do "Adeus à Razão" de Paul Feyerabend.É um tema que me interessa aprofundar em debate. Quanto ao pragmatismo, a intrepretação que dele faço nunca foi a do "vale-tudo", mas a do "só vale o que me dá proveito".
Coloco o pragmatismo ao lado do nihilismo, do zapping, do pensamento "light", da febre de novidade, do jogo caleidoscópio de impresões da política espectáculo. E porquê?!... Porque desvaloriza a constãncia, a coragem, a paixão, a persistência, o rigor, o compromisso, a vontade, a solidariedade, o debate, as finalidades determinadas por intenções e a coerência com as mesmas.
Não esquecer que o pragmatismo está associado ao que Alain Finkielkraut chamou "A derrota do pensamento".
Penso que não se trata de confusão, mas de precisar conceitos. A distinção entre político-sindical e filosófica não faz, no meu entender, qualquer sentido.O pragmatismo tem uma génese e está estudado. O valor dos conceitos não está só no uso, mas também no pensamento que estruturam, desde a sua génese. Quando as palavras perdem o seu sentido original, são usadas como meras etiquetas. E, então, o debate (sobre etiquetas) deixa de ser aberto e, consequentemente, sem interesse. Talvez esotérico!...
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