09 agosto 2004

K7 pirata

Do desassossego que se apoderou do governo neste caso das K7s pirata (ao ponto de a sua gestão ter sido assumida directamente pelo 1º Ministro), não posso deixar de tirar – acompanhada, seguramente, por muitos outros vulgares cidadãos - as seguintes ilações (entre outras, que neste post não vêm ao caso):
- se a eventual violação do segredo de justiça por Adelino Salvado só muito dificilmente poderá ser provada nos tribunais, face à ilicitude da utilização do meio de prova chave – as K7s pirata (é só lembrar a lei e a interpretação dela feita no caso Negrão, com contornos aparentados);
- e se, ainda assim, a “incontinência verbal” de Salvado o levou ao isolamento político de que este “se chora” na sua carta de demissão (sendo que o actual ministro ainda há bem pouco lhe manifestara toda a sua confiança política, mantendo-o no cargo de director da PJ);
- então é porque Salvado meteu ainda mais água do que de costume, arriscando-se hipotéticos salva-vidas a ser arrastados com ele na enchurrada, por não terem tomado em tempo a atitude adequada face à grave prevaricação de tão “alto responsável”.

Dizia ontem o Venerável Irmão Manuel na GLQL:
”Adelino Salvado não se pode demitir muito menos o seu pedido de demissão pode ser aceite. Adelino Salvado demitir-se agora é a prova cabal de que o crime e o terrorismo compensam, é a completa cedência a esta nova forma de terrorismo cínica, brutal e absolutamente anti-democrática.”

E pergunto eu (que, ao contrário do sempre bem informado mano, deste assunto apenas sei o que vou lendo em linhas e entrelinhas de jornais e blogs):
E a inversa, não será também verdadeira?
Na minha perspectiva, independentemente do conteúdo das K7s (que desconheço) e da especulação sobre as motivações que estarão por detrás do espoletamento deste novo imbróglio no processo Casa Pia (que, sem aquele conhecimento,me parece um exercício meramente diletante), não havia outra saída para Salvado e este levou demasiado tempo a perceber que, desta vez, não tinha mesmo salvação.

E não será pela falta do desembargador à frente da PJ que a justiça ficará mais descredibilizada … talvez antes pelo contrário.

9 comentários:

Anónimo disse...

ELES CAEM SEMPRE DE PÉParece que o simpático e consensual director da PJ está por um fio. Isto quando conversas suas sobre o processo Casa Pia, aparentemente pouco salubres, já entraram na pouco invejável categoria de segredos de Polichinelo.
Mas não fiquem em cuidados pelo senhor: em breve, estará estacionado numa confortável sinecura qualquer, enquanto não abre uma vaga para ministro. Duvidam? Ora lembrem-se lá então da edificante história do agora ministro Fernando Negrão, que, há uns anos, também caiu em desgraça por ter comunicado a jornalistas operações da PJ, mesmo antes delas terem lugar.
Aliás, os técnicos da PJ só têm tanto trabalho a instalar escutas telefónicas porque não há por aí mais gente com o espírito comunicativo e altruísta dos seus directores...

PS. Nem de propósito: "O ministro da Segurança Social, Fernando Negrão, afirmou hoje que o Governo 'está atento' à polémica em torno do alegado furto de gravações de conversas no âmbito do processo Casa Pia".

Manuel disse...

Cara Kamikaze, por estas horas escrevo o epitáfio do Salvado para a Loja... Quanto ao seu prognóstico de que pior é impossível, bem talvez se surpreenda...

Kamikaze (L.P.) disse...

Claro que é sempre possível pior, nem eu disse o contrário. Mas você não apregoa que se rege e a sociedade, os políticos, enfim, todos os cidadãos, se deviam reger por princípios, que já chega de jogos de interesses e tácticas de conveniência? Essa do mal o menos ainda antes do (mais) malestar confirmado... E mesmo que estivesse/esteja, Salvado não podia ficar, era o descrédito total, era demais até para este "pobre país o nosso"!
Digo eu, que tenho a vantagem de estar pouco informada do que se passa nos bastidores.

Manuel disse...

Cara Kamikaze,

dê uma olhada aqui. Se fosse tudo tão simples...

Kamikaze (L.P.) disse...

reality shock" ou "reality check"...(in GLQL)(...)
Nos comentários, e noutras paróquias, há quem veja uma contradição entre o que escrevi sobre o processo de demissão de Adelino Salvado e a minha linha de pensamento habitual. Que fique claro, não há rigorosamente qualquer contradição.

O que sucedeu com Adelino Salvado faz lembrar muito da história do Watergate, tal como Nixon o único crime porque Adelino Salvado foi "punido" foi ter sido "apanhado".
"Apenas" apanhado, e tal é um não julgamento amoral e irresponsável que paradoxalmente branqueia todos os seus actos. Adelino Salvado foi parar ao mesmo saco que Fátima Felgueiras, a mentora do único saco azul autárquico do país (cadê os outros ? não os há?) , foi apanhado e subitamente passou à categoria de descartável, para que tudo continue na mesma.
Quanto ao resto mesmo depois da "elegante" carta de despedida dele mandada por fax da PJ para tudo quanto é redação até lhe agradeceram os notáveis serviços em prime-time. Eu não critico a queda do Salvado per se nem tenho pena dela, choca-me é a gratuitidade e inconsequência substantiva da mesma, isso mais a alegria de quem se sente meramente vingado. Salvado não pode, não deveria digo, ser mais uma árvore que serve para esconder a floresta.
Não "gostando" do Salvado tenho princípios, e por via disso independentemente do que o Salvado tenha feito a terceiros por princípio civilizacional não é correcto - penso eu - fazer-lhe, como fizeram, rigorosamente o mesmo qjue ele fez a outros, e o que lhe fizeram, a forma como foi literalmente enxotado, não se faz a um cão - por princípio... (...)

Anónimo disse...

N'A Capital"Ainda às 18 horas de ontem, Adelino Salvado pedia garantias políticas para se manter no cargo ao ministro da Justiça, Aguiar-Branco. Garantias que não lhe foram concedidas, mau grado o esforço que Paulo Portas terá feito para que Adelino Salvado se mantivesse no lugar. Até ao último momento, Adelino Salvado resistiu à demissão. (...)
Recorde-se que a queda de Adelino Salvado, considerada como inevitável pelos meios policiais, assenta num processo que de algum modo afectou a sua posição: o processo da Casa Pia. Foi a partir de uma divulgação da suas conversas em off com um profissional de Informação do Correio da Manhã com vocabulário e considerações pouco condizentes com um magistrado com a sua responsabilidade, que a sua posição começou a tornar-se mais frágil. Para cúmulo, sabe-se hoje que a cassete ou CD com as suas e outras conversas terão chegado não só a alguns órgãos de Comunicação Social, bem como terão sido vendidos a pessoas cujo nome se ignora, ainda que comecem a correr várias versões sobre as pessoas interessadas nesta compra e sobre os eventuais vendedores. (...)

Kamikaze (L.P.) disse...

N'A Capital"O nome mais falado para substituir Adelino Salvado na direcção da Polícia Judiciária é Abrantes Mendes, 52 anos, antigo desembargador em Évora e, actualmente, advogado de sucesso. Abrantes Mendes, do PSD, foi já director-geral do Ministério da Justiça e é filho do falecido dr. Abrantes Mendes, personalidade muito prestigiada, que foi secretário do Supremo Tribunal de Justiça. Muito ligado ao Sporting, é próximo do desembargador Branquinho Lobo, actual director nacional da PSP. Mantém boas relações com Marques Vidal e com o inspector Sousa Martins."

NOTA: Abrantes Mendes já deixou a advocacia há algum tempo, para voltar a desempenhar funções no TR Évora, como juiz desembargador.

Anónimo disse...

No DN: (...)
"Foi há duas semanas que começaram a circular os primeiros boatos que davam conta de conversas telefónicas entre Adelino Salvado e o jornalista Octávio Lopes. As informações foram ganhando consistência, até que, no sábado, vários órgãos de comunicação social tornaram público que o então director da PJ era uma das figuras que participavam nessas conversas.

Durante o fim-de-semana, o Governo recolheu elementos mais sólidos sobre o teor das conversas, sendo que o ministro de Estado e da Presidência, Nuno Morais Sarmento, terá sido dos primeiros a defender a demissão de Adelino Salvado, acompanhado por alguns ministros próximos de Santana Lopes. Todos concordavam que, caso viesse a público o teor das conversas, a posição de Salvado era insustentável e poderia criar embaraço ao Governo.

Na coligação, só o CDS/PP defendia a continuidade de Adelino Salvado, fosse qual fosse o cenário. Paulo Portas terá sido o maior defensor desta tese.

Anónimo disse...

Público,11 de Agosto
(http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1200951&idCanal=21)

"A demissão do ex-director nacional da Polícia Judiciária Adelino Salvado terá sido motivada por referências ao líder demissionário do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, nas conversas gravadas pelo jornalista do "Correio da Manhã", avança a edição de hoje do "Jornal de Notícias".

Segundo o mesmo diário, o Governo de Santana Lopes comprovou que o antigo director nacional da Polícia Judiciária foi responsável por "fugas de informação selectivas" e violou o segredo de justiça no âmbito do processo Casa Pia, adiantando ao jornalista do "Correio da Manhã" informações que, segundo o próprio Adelino Salvado, constariam do processo.

Mas os elementos do Governo terão descoberto que o ex-director da PJ facultou informações que não constavam do inquérito, ao contrário do que o próprio quis fazer crer. Perante isto, os governantes consideraram que à fuga de informação e à violação do segredo de justiça se juntava a manipulação deliberada dos factos, que tem consequências políticas.

As queixas dos socialistas, que deram origem à tese da cabala na sequência da detenção de Paulo Pedroso e das suspeitas lançadas sobre o líder do PS, Ferro Rodrigues, tiveram eco junto do Governo, que já estava na posse das gravações há mais de uma semana, antes mesmo de o caso ter sido tornado público."
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Ainda que Adelino Salvado só tenha sido demitido por TER SIDO APANHADO, como defende Manuel da Grande Loja do Queijo Limiano, será que havia outra alternativa? Parece evidente que NÃO!
O que não põe em causa que os propósitos de quem quer que seja que esteve na origem da colocação em circulação das gravações visem muito mais longe que o já então a prazo director da PJ. E há que denunciá-lo, como faz Maanuel, mas a sua defesa da manutenção de Salvado nas presentes circuntâncias tira credibilidade e coerência às suas posições.
Coisa que só ele não parece perceber.