18 setembro 2004

Metrosexuais

Em comentário (ainda que não muito a propósito) ao meu último post - Pluralismo -, fala-se de um livro cujo título tem a ver com a (falta) de propensão das mulheres para os prazeres da carne. Também não muito a propósito, o comentário fez-me recordar a hilariante conversa que tive, ontem, num jantar de amigos, ainda que não muito próximos. Quatro homens e sete mulheres.
No princípio, falou-se das coisas da actualidade, da Casa Pia, pois, da crise do país, pois. Depois, a conversa descambou - uma das convivas decidiu introduzir o tema da metrosexualidade. Sim. Da metrosexualidade. Uma coisa que eu não sabia que existia. Ignorância minha, que nasci em Soalhães, em plena serra, a meio caminho entre o Marco e Baião, numa aldeia marcada pelo estigma de ser "a terra do mata-e-queima", onde, por ignorância, se queimou uma mulher viva para a expurgar do demónio. Andei por Coimbra, vivo e trabalho no Porto, tive uma passagem efémera por Lisboa, mas continuo ignorante em muitas coisas típicas da grande metrópole. E, daí, necessariamente, ignorante dessa coisa da metrosexualidade.
O que é, afinal, um metrosexual? Segundo a definição da minha amiga, é um homem que se trata. Que usa cremes contras as rugas, cremes hidratantes, que trata das unhas, que se depila cirurgicamente no peito, que arrasa os pêlos das costas, que arranja as sobrancelhas.
Um metrosexual tem direito, obviamente, a ser um metrosexual. Estamos entendidos? Obrigado.
Aquilo que me preocupou não foi que existam metrosexuais. Relevante, é que a minha amiga - uma moçoila, por sinal, muito bonita - não se imagina capaz de se apaixonar por um tipo que não se trate, no sentido que acima descrevo. Isto é: a minha amiga só consegue apaixonar-se por um metrosexual. Não resisti a mostrar-lhe as minhas unhas e os meus pêlos (do peito), em pleno restaurante. Olhou-me como se eu fosse um lobisomem!
Achámos todos muita piada. Mas, hoje, acordei mal-disposto. Afinal, as mulheres gostam de quê?

10 comentários:

Zu disse...

Caro Carteiro,
Tranquiliza-te. Há gostos para tudo neste mundo, pelo que não duvido que a tua amiga se interesse apenas por metrosexuais, mas não é essa a regra. Entre os homens que cheiram a cavalo e os que não suportariam cheirar senão a cremes e perfumes, fica um larguíssimo meio termo que, creio, é o que mais agrada à maioria das mulheres, que gostam de vocês lavadinhos, penteadinhos (ou mais ou menos artisticamente despenteados), com bom ar, mas detestam exageros nos cuidados. Eu, confesso, e ao contrário dessa tua amiga, seria absolutamente incapaz de me interessar por um homem que cuidasse das unhas ou da pele mais do que eu, ou fizesse às sobrancelhas o que eu sempre recusei fazer às minhas...

Anónimo disse...

Caro Carteiro,

Apesar de o mundo estar cada vez mais estranho eu suspeito, mas é só uma suspeita baseada em dados empiricos, que ainda haverá por aí mulheres que gostem de Homens, sendo que a sua amiga pelos vistos só gosta daqueles que se "auto-torturam" mais do que ela...

Um (bom) selvagem

Silvia Chueire disse...

É engraçado, Freud ao final da sua vida disse que do seu trabalho fizera o que havia a fazer, só uma pergunta ficara sem resposta e era : "o que quer uma mulher ?".
Não me aventuraria a responder esta pergunta como se fosse um paradigma. Mas diria numa resposta genérica : a mulher deseja o desejo do homem. Não apenas isto, claro. A despeito das preferências superficiais ( e pós,pós-modernas), e excluídas as neuroses, o que as mulheres querem é um homem que as ame, seja sensível, solidário, e bom parceiro sexual. Querem amar estes homens.
As pequenas escolhas de aparência são, em geral secundárias quando o afeto e o desejo se impõem.
Metrossexuais são, penso, a consequência do marketing cosmético, principalmente nas grandes cidades. E obviamente das mudanças do papel masculino e feminino nas sociedades. Esta mudança específica, creio, será menos radical do que estes tipos recentemente surgidos fazem crer.

Anónimo disse...

CARO CARTEIRO:
Cá por mim, nasci no Porto e vivi vinte anos em Lisboa. Também não sei o que é isso de metro....

Mas, carago, as mulheres querem o que os homens querem: poesia, amor, vida, tranquilidade, felicidade e ....fazer amor que é o MELHOR.

Anónimo disse...

Caro carteiro. Aí vai uma outra faceta do que podem as mulheres. Uma situação que no nosso país também podia ocorrer no masculino. Veja o que sucedeu a um jornalista que denunciou há anos uma situação inssólita protagonizada por uma juíza das varas cíveis de Lisboa.



Le ventre de "une"

La baronne, la N'drangheta et les juges de Calabre

LE MONDE | 15.09.04 | 14h35  •  MIS A JOUR LE 15.09.04 | 16h42
Rome de notre correspondant


Elle a vu la mort en face. Le pistolet qui venait de tuer son frère s'est enrayé au moment où le tueur de la mafia l'a pointé sur elle. C'était le 10 juillet 1991 à Reggio de Calabre. Un "contrat" contre deux irréductibles qui refusaient de payer leur tribut.
Depuis ce jour, la baronne Teresa Cordopatri dei Capece mène "sa" guerre contre la N'drangheta, la terrible organisation mafieuse de Calabre. Malgré les menaces de mort et pas moins de onze attentats, elle n'a cessé de témoigner, de dénoncer, abreuvant la justice d'informations, jusqu'à faire démanteler le clan des Mammoliti, qui avait commandité l'homicide de son frère. Depuis trente ans, cette famille mafieuse a tout tenté pour spolier les Cordopatri, vieille aristocratie du Sud dont la seule fortune est constituée de 1 200 pieds d'oliviers légués par Frédéric II au XIVe siècle.


Le courage de cette femme a ému l'Italie. Mais, aujourd'hui, Teresa Cordopatri, 71 ans, est une vieille dame indignée : "La justice m'oblige à me défaire des biens que ma famille avait réussi à soustraire à la cupidité mafieuse." Sa maison et ses meubles seront bientôt mis aux enchères pour payer les dommages et intérêts que d'ex-magistrats du tribunal de Reggio de Calabre lui réclament. La baronne a été condamnée à leur verser 200 000 euros pour "calomnie et diffamation".


Qu'a-t-elle dit de si terrible ? Que la justice était lente ? Qu'il y avait des dysfonctionnements au tribunal de Reggio de Calabre ? Que le procès de l'assassin présumé de son frère, identifié et arrêté il y a treize ans, tardait à venir ? Elle avait émis ses critiques dans une lettre adressée en 1995 au Conseil supérieur de la magistrature (CSM), garantie, à ses yeux, de confidentialité. Mais aucune enquête n'a été ouverte sur les pratiques du tribunal.


Son courrier est resté lettre morte. Les seuls échos qu'elle en a eus, ce sont ces plaintes de quatre magistrats, alors en poste en Calabre, qui se sont sentis visés. "Comment ont-ils eu accès à ce document envoyé au seul CSM ?", interroge l'avocat de Teresa Cordopatri. Victime de la mafia désormais sur le banc des accusés, la baronne est amère, mais pas abattue : "La massue de la justice pourra me tuer, mais elle ne réussira pas à m'intimider." Exactement comme les mafieux du clan Mammoliti.

Jean-Jacques Bozonnet

Anónimo disse...

Caro carteiro. Aí vai uma outra faceta do que podem as mulheres. Uma situação que no nosso país também podia ocorrer no masculino. Veja o que sucedeu a um jornalista que denunciou há anos uma situação inssólita protagonizada por uma juíza das varas cíveis de Lisboa.



Le ventre de "une"

La baronne, la N'drangheta et les juges de Calabre

LE MONDE | 15.09.04 | 14h35  •  MIS A JOUR LE 15.09.04 | 16h42
Rome de notre correspondant


Elle a vu la mort en face. Le pistolet qui venait de tuer son frère s'est enrayé au moment où le tueur de la mafia l'a pointé sur elle. C'était le 10 juillet 1991 à Reggio de Calabre. Un "contrat" contre deux irréductibles qui refusaient de payer leur tribut.
Depuis ce jour, la baronne Teresa Cordopatri dei Capece mène "sa" guerre contre la N'drangheta, la terrible organisation mafieuse de Calabre. Malgré les menaces de mort et pas moins de onze attentats, elle n'a cessé de témoigner, de dénoncer, abreuvant la justice d'informations, jusqu'à faire démanteler le clan des Mammoliti, qui avait commandité l'homicide de son frère. Depuis trente ans, cette famille mafieuse a tout tenté pour spolier les Cordopatri, vieille aristocratie du Sud dont la seule fortune est constituée de 1 200 pieds d'oliviers légués par Frédéric II au XIVe siècle.


Le courage de cette femme a ému l'Italie. Mais, aujourd'hui, Teresa Cordopatri, 71 ans, est une vieille dame indignée : "La justice m'oblige à me défaire des biens que ma famille avait réussi à soustraire à la cupidité mafieuse." Sa maison et ses meubles seront bientôt mis aux enchères pour payer les dommages et intérêts que d'ex-magistrats du tribunal de Reggio de Calabre lui réclament. La baronne a été condamnée à leur verser 200 000 euros pour "calomnie et diffamation".


Qu'a-t-elle dit de si terrible ? Que la justice était lente ? Qu'il y avait des dysfonctionnements au tribunal de Reggio de Calabre ? Que le procès de l'assassin présumé de son frère, identifié et arrêté il y a treize ans, tardait à venir ? Elle avait émis ses critiques dans une lettre adressée en 1995 au Conseil supérieur de la magistrature (CSM), garantie, à ses yeux, de confidentialité. Mais aucune enquête n'a été ouverte sur les pratiques du tribunal.


Son courrier est resté lettre morte. Les seuls échos qu'elle en a eus, ce sont ces plaintes de quatre magistrats, alors en poste en Calabre, qui se sont sentis visés. "Comment ont-ils eu accès à ce document envoyé au seul CSM ?", interroge l'avocat de Teresa Cordopatri. Victime de la mafia désormais sur le banc des accusés, la baronne est amère, mais pas abattue : "La massue de la justice pourra me tuer, mais elle ne réussira pas à m'intimider." Exactement comme les mafieux du clan Mammoliti.

Jean-Jacques Bozonnet

Zu disse...

Também dava jeito que os homens trouxessem livro de instruções, para dizer a verdade. Mas, por outro lado, perdia a piada toda...

Silvia Chueire disse...

Homens e mulheres têm um livro de instruções nos olhos, vê quem pode, quem tem a sensibilidade. E mostra quem quer, quem tem a coragem. Pessoalmente não creio que poder vê-lo tire a graça, ao contrário.

Anónimo disse...

O ambiente está homofóbico e muitos magistrados e magistradas não se revêem em tal ambiente. Cada um "rapa" o que lhe apetece, desde que não seja o dinheiro dos outros.

Anónimo disse...

Tem razão o Carteiro: e os advogados e advogadas, e os professores e as professoras, et coetra. Claro que todos têm direito a ter opinião sobre os "rapados", incluindo o Avelino do Marco.