06 setembro 2004

Não, não é cansaço

Não, não é cansaço…
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo…
Não, cansaço não é…
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como…
Sim, ou por sofrer como…
Isso mesmo, como…
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(…)
Álvaro de Campos

2 comentários:

Silvia Chueire disse...

É lindo, o poema. Toca.

Primo de Amarante disse...

A nossa condição humana está marcada pela irremediável situação de haver mais coisas que nos unem do que as que nos dividem.