Neste e noutros blogs onde passaram o meu post "Pelos meninos de Beslan", colocaram-me alguma questões sobre a minha posição emocional sobre o assunto.
Logo aqui, empurram-me para uma entevista de El Mondo, onde um filólogo tchetcheno tentava justificar o massacre. E salientava o autor do comentário que era preciso reflectir sobre o outro lado do conflito. Reflecti. A conclusão é a que, sejam quais forem os lados do conflito, eu continuo do lado dos meninos de Beslan.
Na GLQL colocaram-me a seguinte questão: estaria eu disponível para apoiar a pena de morte para os assassinos de Beslan, caso fossem capturados vivos? Por princípio, sou contra a pena de morte. Reconheço que não consegui passar daqui. Mas cheguei a algum lado: se o que aconteceu com os meninos de Beslan acontecesse com os meus filhos, estou certo que esqueceria tudo quanto aprendi até hoje, abandonaria tudo e gastaria o resto dos meus dias a tentar exterminar os assassinos. E nem sequer seria uma questão de vingança - seria, "apenas", o não conseguir viver de outra forma.
Ainda na GLQL, deixaram outra "provocação": Quem criou esta gente que não é gente, também não é gente. É provável. Mas eu não sei quem criou esta gente. Mas há uma coisa que eu sei: não foram os meninos de Beslan que criaram esta gente que não é gente...
06 setembro 2004
Pelos meninos de Beslan II
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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5 comentários:
O que eu penso deixei-o expresso no comentário ao artigo de El Mondo: nada justifica o terrorismo. Condeno-o em todas as circunstâncias, na Palestina como na Irlanda, em Espanha como no Iraque ou na Rússia, vindo de onde e e quem vier. E apesar de saber que teria uma terrível tentação de, tal como tu, querer a vingança se fosse comigo, acredito que é preciso não nos tornarmos iguais a eles e, por isso, não nos deixarmos cegar por essa vontade.
É sempre um prazer ler os escritos do Carteiro (que não quer ser promoovido, pelo menos a chefe de estação :) e, para além da sensibilidaade que deles transparece e mesmo da forma em si mesma - ambas me agradam muito - estou muitas vezesem sintonia com o seu conteúdo. Mas desta vez subscrevo a mulher azul. Se sentimos que perdemos "a cabeça" e os princípios quando nos toca a nós, perdemos os argumentos.
Explicitando: afinal ser "gente que é gente" depende apenas do destino/circunstânciade cada um... Cá para mim, nem tanto ao mar nem tanto à terra!
Por quê dormes ?
Deitas tua cabeça no meu colo
e é exangue o teu rosto.
Meu filho, filho meu,
em que guerra,
em que insanidade dos homens,
morres?
Homens nada sabem
de uma criança a mover-se
no ventre feliz de uma mulher.
Ou da boca faminta no seio túrgido,
a alimentar-se livremente.
E depois,
tão pouco tempo depois,
a face lívida da minha dor.
A ferida aberta
no corpo que embalei.
O sangue derramado
do meu menino cujo sorriso
agora é esgar,
silêncio,
imobilidade.
São só minhas estas lágrimas .
Não há consolo.
Apenas essa voz lancinante,
esse urro, esse grunhido.
A atravessar-me corpo e alma.
Por que dormes, meu filho,
e não respondes?
Silvia Chueire
A questão não é simples, NADA simples, e na teoria é sempre muito bonito dizer que se oferece a outra face.
Dito isto, o ódio, a raiva - ainda que pessoal - funciona como um virús, e se nos deixarmos dominar por ele, pelo ódio e pela raiva, deixamos de ser particularmente diferentes "deles", dos terroristas. É certo que somos vítimas mas não é isso que alegam sempre os terroristas ?
Complicado, demasiado complicado ou Humano, demasiado humano...
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