Como é sabido, tenho andado fugidio nos últimos tempos. Por falta de tempo e, também, porque há momentos em que é preciso parar para concentrar energias nas questões mais relevantes ou, pelo menos, naquelas que nos ocupam o espírito. Durante este tempo de abstenção, fui resolvendo algumas coisas. Outras não. Outras, por cá ficarão a provocar noites mal dormidas e alguns pesadelos que do dia fazem noite.
Uma das questões que resolvi, foi ter deixado de ser autarca. Desde segunda-feira passada. Demorou. Custou. Demorou. Foi um acto solitário que apenas o compadre esteves foi acompanhando, com os seus conselhos de amigo e a lucidez de quem sabe que há ainda quem se paute por princípios. Decidi mais: nas eleições autárquicas de 2005 não estarei na corrida.
Não fugi. Não claudiquei. Não me furtei às lutas. Concluí, apenas, que não tenho jeito para o lodaçal em que se transformou a política. Nem tenho jeito para me mover nas linhas em que se tece a política, na lógica da "mercearia", no esquema daqueles para quem o poder é um fim e não um meio para exercer a cidadania.
Eu era vereador da Câmara do Marco eleito pelo PSD, com o PSD contra. Sem confiança política dos responsáveis locais do PSD. Sem que, alguma vez, alguma voz do PSD de outros palcos se tivessem levantado para pôr na linha os indigentes políticos que lideram o PSD do Marco. Percebo: talvez a indigência política não se confine ao Marco. Talvez o Marco seja apenas a versão provinciana da indigência política que varre o país.
Na segunda-feira passada vim embora. O PSD local ficou contente - libertou-se do (pasme-se!) do seu principal adversário. A maioria CDS-PP também ficou contente. O PS também. Mas há diferenças: os vereadores do PS, fizeram questão de deixar expresso que, mesmo percebendo as minhas razões, a minha saída era uma perda. E manifestaram-me confiança política! Da maioria CDS-PP - que tanto combati ao longo de três anos - saiu uma declaração interessante: fui um verdadeiro massacre, mas muitas das minhas posições críticas ajudaram a melhorar o funcionamento do órgão e obriguei a rever muitas soluções para o Concelho.
Saí tranquilo. Afinal, para mim, a política é isso mesmo, é contribuir para que as coisas funcionem melhor. Quanto ao resto, quanto ao PSD do Marco, paciência, não posso obrigá-los a mudar. Nem a perceber o que é mais básico.
19 novembro 2004
Olá
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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4 comentários:
Carissimo Carteiro,
desde os tempos de Coimbra que se via que eras político de rija têmpera. Pelos vistos, assim continuas, não obstante todos este anos que já passaram.
Um abraço de Estrasburgo
Aristótele definiu o homem como "animal político", porque não pode viver fora da sociedade. Quer queiramos ou não, não podemos fugir a esta condição. Convém aos politiqueiros que digamos que nada percebemos de política. É que assim fica-lhes o caminho aberto para a impunidade de que gozam.
E não esqueça que esta (este e outros blogs e todas as envolvidas participações) presente - e de muito futuro - de participação política no sentido mais nobre do termo.
Bem regressado sejas. Parabéns pela decisão.
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