Ao iniciar a leitura de "Eu Hei-de Amar Uma Pedra", de António Lobo Antunes, que foi buscar este título a uma moda velha de Redondo - "Eu hei-he amar uma pedra / beijar o teu coração" - voltei ao moçambicano Rui Nogar e ao livro "Silêncio Escancarado" (Edições 70, 1982). Porque também ele tratou
"se fores capaz(extracto)
de amar uma pedra
se conseguires amar uma pedra
dessas a que chamam calhaus
vulgaríssimas na sua textura
inconsequentes nas intenções
e que rolam no leito dos rios
desgastando-se até ao absurdo
uma pedra que julgamos inútil
sem outra beleza que não seja
a que só tu lhe podes emprestar
se fores capaz de amar essa pedra
ama-a
acarinha o seu silêncio
responde ao seu mutismo
iletrado irreflexo
ama essa pedra
mesmo que te chamem louco
e que se riam na cara que hasteaste
no mastro da tua irreverência"
E destas coincidências em
"quando aconteço me dando em poemas(extracto)
julgo-me adúltero já doutros poetas
as mesmas palavras com que me venço
são aquelas que a qualquer se rendem
e o ritmo em que me sego e me colho
vem já do berço da comum sementeira
sei lá quantos outros em mim respiram
quantos eus por aí germinam"
3 comentários:
Gostei de ler os poemas. Especialmente do segundo. Obrigada.
Silvia Chueire
poema belo belo belo,sem arestas aprentes, como um calhau duro na essência mas macio de tão rolado. Gosto de seixos.
Gosto da sua individualidade.
Mas poderão as pedras amar quem ama a sua árida individualidade? Poderão as pedras amar? Loucas...
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