Ontem à noite, segunda-feira, e depois de várias tentativas falhadas, acabei por ir à Tertúlia do Comercial, um espaço de debate quinzenal organizado por O Comércio do Porto e a Associação Comercial do Porto, no Palácio da Bolsa (desculpe Compadre, mas quando me lembrei de ir já era tarde e não tive tempo de o avisar).
O tema era actual: crise política, governabilidade, estabilidade, eleições antecipadas, etc.. Convidados especiais: Luís Filipe Menezes e Francisco Assis. Painel de comentadores: Alcino Soutinho, Pedro Burmester, Rogério Gomes e Sílvio Cervan. Por lá estiveram também Carlos Lage, Manuel Monteiro (e julgo que todo o PND...), Poças Martins, Pedro Baptista e outras personalidades da vida pública, para além dos anónimos, como eu, que também podiam intervir, o que deu ensejo para colocar uma pergunta confessadamente provocatória e politicamente incorrecta. Uma questão que não logrou - como previa - acordo, mas que acabou por condicionar o debate: a necessidade de um "bloco central" durante uns anos, como sustentação de um governo com uma base política e social suficientemente forte que possa garantir a realização de reformas estruturais de que o país urgentemente necessita.
Pedro Baptista aproveitou a sugestão para lançar a ideia de um "bloco central" que, a partir do Porto, recolocasse a questão da regionalização no agenda política. Outros aproveitaram a ideia para afirmar que é necessária a concertação entre os dois maiores partidos para estabelecer pactos de regime que permitam levar avante reformas estruturais no domínio da justiça, educação, saúde...
O que poucos parecem ter entendido, é que tais pactos não possíveis quando um dos maiores partidos está no Governo e o outro na Oposição. Aliás, Menezes - que, agora, defende a regionalização - foi claro ao afirmar que, aquando do referendo sobre regionalização, o PSD se fartou de mentir sobre as desvantagens de regionalizar o país. E que o PSD esteve contra a regionalização por uma estrita questão de interesse partidário.
Ora, partindo do princípio de que os socialistas não são menos mentiorosos do que os social-democratas, é de presumir que, se em vez de ter sido um Governo PS, tivesse sido um Governo do PSD a pugnar pela regionalização, o PS teria estado contra. Por uma questão de cálculo partidário...
A minha defesa do "bloco central" não é uma opção de fundo - é a constatação de uma necessidade conjuntural, de modo a ultrapassar os bloqueios que o país enfrenta.
Não deixou, contudo, de ser curiosa a troca de elogios entre Menezes e Assis. E mais do que isso: em determinada altura, Menezes disse que tem a certeza de que Assis está ideologicamente mais próximo de si (Menezes), do que que de Manuel Alegre. Assis ouviu impávido. Mais tarde, contra-atacou: disse que Menezes está mais perto ideologicamente do líder Distrital do PS-Porto (ele, Assis), do que do líder do PSD do Porto (Marco António Costa). Menezes, sorriu. Não confirmou nem desmentiu.
Um serão interessante. No fim até estive com um ex-amigo que já não via há muito. Disse-me que estou gordo. Traste: Tu estás mais gordo do que eu!
14 dezembro 2004
Tertúlia
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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2 comentários:
A propósito da troca de elogios entre Assis e Meneses, recordo-me de uma crónica que fiz, sob o título. "Todos diferentes e todos iguais". Já nessa altura previa a sintese dessa tertúlia
Parece-me um espaço de debate interessante a Tertúlia do Comercial, que vou acompanhando pel' "O Comércio do Porto".
Quanto à ideia do bloco central, fui um adepto dessa solução, ainda muito novo, quando se formou o governo de Mário Soares e Mota Pinto. Julgo que os portugueses não têm a noção de quanto devem a esse governo, nomeadamente em termos de adesão à Europa e de recuperação económica do país. Um governo que incluia personalidades como Almeida Santos, Ernâni Lopes, Jaime Gama, Álvaro Barreto, Veiga Simão, Rui Machete, José Augusto Seabra, Rosado Correia, António Capucho ou Coimbra Martins.
Seria possível, hoje, constituir um governo assim, preocupado mais com o país do que com os aparelhos partidários e capaz de fazer as reformas estruturais de que o país necessita? Francamente, julgo que não.
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