23 janeiro 2005

Crónica de um fim de semana incompleto (e os afectos que se geram)

Deixei os meus companheiros de fim-de-semana demasiado cedo. Passava pouco da 1 hora. Num lampejo de responsabilidade, decidi vir para casa, convencido de que conseguiria dormir a horas decentes para amanhã ir ver o JP no torneio de futebol. Li pedaços de livros, vi filmes salteados, li notícias inteiras do saco de jornais e aqui estou eu, passa das 6 horas, sem dormir, esvoaçando sobre a noite, insone, irritado, perto de ver nascer o dia reflectido no rio, uma imagem bonita mas tantas vezes repetida que me aflige e me cansa, que me entristece e me deprime.
Mas, custe o que custar, por mais que as olheiras me afundem os olhos, vou ver o pequeno JP no seu afã de golos, ele, que hoje estranhou a minha falta no treino e me telefonou a lembrar a hora do jogo deste Domingo.
Foi um fim-de-semana diferente. Um grupo curto, uns do Porto, outros que vieram de Lisboa em turismo cultural. Eu fiquei pelo programa gastronómico, esqueci Serralves e a Paula Rêgo. Na sexta à noite, passamos pelo incontornável Triplex, cedo ainda, a tempo de evitar a avalanche e acabámos a noite no Act, um dos espaços inegavelmente mais bonitos do Porto. O Manuel Serrão, com quem já não estava há muito tempo, recebeu-nos muito bem, encontrei por lá o Rogério G., o F. Rocha (também não via este há muito tempo) e voltei a sentir vontade de saír mais vezes, eu, que ando tão arredado dos sítios, como, aliás, me fizeram sentir no Triplex e no Act.
Os turistas culturais passaram o dia em Serralves. Os outros, os de cá, "passaram". Eu fiquei por casa e pelas imediações de casa, para não romper as rotinas que não sei se me fazem bem ou mal.
Fomos jantar ao Sheraton, um hotel bonito onde ainda não tinha estado, serviço irrepreensível, comida bonita, digestivos quase invisíveis, mas, pronto, valeu a pena, porque conversámos sobre as coisas mais interessantes, da política à justiça. Um sítio onde vale a pena voltar.
Uma das turistas culturais quis, afincadamente, ver a Casa de Chá da Boa Nova, de Siza Vieira, coisa que não me entusiasmou particularmente porque já vi demasiadas vezes e não tenho de lá as melhores recordações, por nada de especial - apenas porque sempre achei que, para além da arquitectura, nada mais recomenda o sítio. E tinha razão: para lá chegarmos foi uma epopeia, tal vai a confusão de acessos com as obras de requalificação da marginal de Leça.
Tanto afinco merecia melhor recepção. O bar da Casa de Chá estava inoperacional, transformado em restaurante de recurso, uma vez que a sala de jantar estava ocupada por um casamento ou qualquer coisa parecida. Não pudemos sentar-nos a ver o mar. Mais: fomos tão mal recebidos pelos empregados que, nas próximas décadas, não tenciono pôr lá os pés, tal a pressa com que nos empurraram pela porta fora e a forma como seguiram os nosso passos dentro do estabelecimento, como se fôssemos um bando terrorista. Incompreensível!
Nós éramos todos pessoas ligadas ao direito, todos tínhamos bom aspecto e, além disso, apenas eu - único advogado do grupo - poderia ser considerado suspeito, atenta a imagem que o cidadão comum - empregados da Casa de Chá incluídos - tem dos advogados. Juro que não roubei nada! E juro que fui o primeiro a sugerir uma saída rápida
Enfim. Tudo correu bem na recepção aos turistas culturais. Excepto a Boa Nova.

(Claro que o mais importante de tudo, são os afectos que se geram nestas incursões ao vivo...)

1 comentário:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

A simpatia, de facto, nunca foi o forte daqueles empregados. Apesar de tudo, tempos houve em que era possível aliar a belíssima arquitectura a um bom peixe no restaurante ou a uma bebida agradável no bar de vistas resplandecentes. Pelos vistos, agora devemos evitar...