04 janeiro 2005

Fim de linha

Fiz há oito dias a minha última intervenção na Assembleia Municipal de Marco de Canaveses, anunciando a renúncia ao mandato de deputado municipal. Disse na ocasião que renunciava ao mandato porque não me revia de todo no comportamento político dos dirigentes concelhios e distritais do PSD e porque não podia estar a caucionar, com a minha presença na Assembleia Municipal, uma estratégia errática, sem rumo, sem valores e sem propostas concretas para os reais problemas dos cidadãos. Quando aceitei integrar, como independente, as listas do PSD nas eleições autárquicas de 2001, fi-lo por entender que era meu dever contribuir para elevar o nível do debate político e ajudar a construir um novo modelo de desenvolvimento para o Marco mas, fundamentalmente, porque me identificava com os fundamentos do projecto político protagonizado por Coutinho Ribeiro, uma candidatura que surgiu desalinhada das lógicas estritamente partidárias e que, apesar dos escassos recursos, foi capaz de mobilizar muitos marcoenses e de atrair eleitores daquele concelho que se têm mantido afastados da vida política.

A recente renúncia ao mandato de vereador por parte de Coutinho Ribeiro, que exerceu o seu mandato sem o apoio e a colaboração dos dirigentes locais do PSD, veio colocar um ponto final no trajecto iniciado há cerca de três anos. Não é possível continuar a mover uma oposição forte e decidida nos órgãos autárquicos quando, simultaneamente, os dirigentes do PSD e do CDS-PP admitem encetar conversações para promover uma candidatura conjunta às próximas eleições autárquicas. A escassos meses do final do presente mandato, não quero ficar vinculado à estratégia que o PSD vier a seguir ou aos candidatos que vier a designar.

Durante estes três anos de mandato, fiz o melhor que podia e sabia para corresponder à confiança que em nós depositaram tantos eleitores. E houve sessões bem difíceis, como podem imaginar aqueles que conhecem a idiossincrasia política marcoense. Procurei contribuir para um melhor funcionamento da Assembleia Municipal e para uma maior dignificação deste órgão, designadamente no seu relacionamento com a Câmara Municipal.

Gostaria de poder ter feito mais nesta minha primeira experiência autárquica. Gostaria que todos colocassem sempre os interesses dos munícipes à frente da pequena política. Gostaria que houvesse condições para que mais público participasse nas sessões, pois essa seria uma forma de aproximarmos a política dos cidadãos. São desafios que ficam para o futuro.

1 comentário:

Mocho Atento disse...

Assim se demonstra que pode e deve haver gente séria e empenhada na Política. Só não percebo porque quem assim age, e pensa, acaba sempre por ter de desistir da intervenção política, ou por se convencer da inutilidade da sua acção ou por a sua acção ser inutilizada.
Na verdade, a Política é uma actividade nobre e dever de todo e qualquer cidadão. A Política não é para técnicos nem para profissionais da política. Temos de correr com esses "jotas" e quejandos. Uma hipótese é fixar nas Universidades a obrigatoriedade de frequência das aulas e a proibição de repetição de disciplina mais do que uma vez! Muitos doutores da "política" tinham-se feito gente em devido tempo.
Há dias assisti no PSD de Alfena a uma conferência pelo Professor Barbosa de Melo. O ilustre catedrático ensinou que os cargos autárquicos devem ser exercidos por quem tem uma ideia para a sua autarquia e que, esgotado esse programa, devia imediatamente sair. Se não saísse, o partido devia correr com ele.
Mas a verdade está bem longe do ideal democrático.