20 fevereiro 2005

Devotos

Imagino que o Dr. Santana, zangado consigo e com os seus, vá votar no Partido Humanista. O segredo do voto serve para isso. Cada um pode votar em quem não seria de presumir que votasse. Não deixa de ser enigmático que a liberdade da democracia se sustente de opções socialmente não transparentes. O que disse para o Dr. Santana, poderia escrevê-lo para o Dr. Monteiro. Se este tivesse sentido de humor. É óbvio que o Dr. Sócrates irá votar em si. Ainda que o faça, tal atitude nunca será de uma certeza certa. Incomoda-me que só saiba, ou possa saber, do meu voto. E do voto do Sr. Jerónimo. No que tange aos restantes, é improvável que votem nos outros. Mas pode acontecer. O segredo é vital para a democracia. E para a não discriminação. Para que ninguém possa ser discriminado por causa do seu voto, é que se torna necessário que ninguém saiba do sentido do voto de quem quer que seja. Cada um de nós gostaria de saber em que vai votar a vizinha do 6º Esquerdo. Ou o juiz da 1.ª Vara Mista. As eleições estimulam uma curiosidade mórbida. O Julião, meu colega de escritório, passou a semana a anunciar que já não acreditava nessa coisa dos votos (expressão dele). O que não quer dizer que não vá votar. Na segunda-feira de manhã, haverá mais rostos de vencedor do que os votos contados para o Partido Socialista. O Julião será um desses rostos. Numa sociedade sem medos nem preconceitos, as cruzes não seriam necessárias. Os braços no ar seriam suficientes.

1 comentário:

Kamikaze (L.P.) disse...

Volto a subscrever o Gastão.. de quem, aliás, também se sente a falta :)