20 março 2005

Farmácia de serviço nº 2

Ognuno sta solo sull cuore della terra
trafitto da un raggio di sole:
ed è subito sera.
(cada um de nós está só sobre coração da terra/ varado por um raio de sol:/ e subitamente é noite.)

A farmácia, hoje, salda poesia e abre com um poema de Salvatore Quasímodo, prémio Nobel em 1959. Quem o quiser ler terá de pesquisar no mercado brasileiro ou, enchendo-se de coragem, ir ler em italiano: só fica a ganhar.

Cidadãos: em vez duma aspirina, um poema! Menos química e mais sol!

Proponho-vos dois excelentes poetas, editados in illo tempore pela excelente Centelha. Os livrinhos andam por aí á venda a rastos de barato. Em Lisboa, e aos Sábados de manhã, há uma espécie de feira de livros, na Rª Anchieta, ao Chiado: pés ao caminho e arejem uns trocos que estes livro são baratuchos.

De Luís Guerreiro: Guia de Salto

Levíssimo no ar
um pano seco tenso
luminoso

saia rasgada ou blusa
contamina o vento
da mancha viva
de tijolo e sangue

(poema V do capítulo mensageiros das calendas vermelhas)

De António Manuel Lopes Dias: País Ignorado

Às vezes uma
carta: “vou ficar por aqui
mais uns anos acumulando
neve debulhando
cisco histórico” e a tristeza
dentro da ironia o peso
dos nomes suas rugas
Às vezes uma
carta: diospiro aberto
na mão raiz de casa ou pátria
amigo para quem
já não tenho tabaco nem
palavras
(poema III de 6 cartas para amigos em viagem)

PS: o “Le Monde” com data de 18 de Março traz um suplemento especial de livros (8 páginas!!!) sobre Júlio Verne que, há dias, inaugurou esta farmácia.
O El Pais, com data de 20 repete a dose com seis páginas no seu suplemento Babelia
No dia 23, o “Público” oferece “Cinco Semanas em Balão”.

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