04 março 2005

mais um verão



a noite de lua encoberta
a manhã a refletir-se
no asfalto molhado
a acácia curvada de chuva
a rua deserta
a casa vazia
o canto calado

mais um verão que se vai



silvia chueire

9 comentários:

Amélia disse...

EU GOSTO DE CONVERSAR E DEBATER SOBRE POESIA.MAS GOSTO MESMO MUITO MAIS DA BOA POESIA -COMO A TUA...BELO POEMA!

Primo de Amarante disse...

A boa poesia é aquela que para mim (e suponho que para toda a gente)diz alguma coisa de fundamental.O bom gosto também resulta do debate, pois até a sensibilidade estética é educável. Dentro do meu conceito de belo, gosto deste poema.

Há uma questão sobre a qual não tive o prazer de uma resposta e se calhar não a vou ter. De qualquer forma, retomo-a: a poesia considerada como poesia gráfica ou concreta enquadrar-se-á no conceito de poesia anteriormente definido?!... Eu penso que não, mas talvez não seja por lhe faltar sentido estético.

Silvia Chueire disse...

Amélia,minha amiga, de novo sua atenção comigo.... Obrigada,
Beijos

Compadre,
Pessoalmente não acho que o que se chama poesia concreta seja poesia. Para mim é algo que tem engenho mas não tem arte (ou o contrário, talvez?). Tenho sempre a sensação de que nela falta algo.
Porém, a verdade é que é uma categoria literária, consta dos livros de literatura, do ponto de vista acadêmico é estudada, etc.
E muitas pessos sérias a respeitam.

Abraços,

Silvia

Amélia disse...

Em Portugal a chamada poesia concreta ou concretismo designou-se de poesia «experimental».E é o que ela é, de facto -um exercício de estilo - que, entre nós, durou pouco.Nalguns - raros, na minha opinião - houve poesia; na maio-
ria, houve isso mesmo, exercício académico, cedo abandonado -como foi, por exemplo, o caso de Salette Tavares ou Ana Hatherly
Curiosamente o concretismo continua a ter adeptos e «fazedores» sobretudo no Brasil,penso eu - do que me é dado ver.
No entanto gosto de alguns grafismos de Mário de Sá Carneiro e, sobretudo, de muitos dos caligramas de Apollinaire, acontecidos muito antes do advento dos poetas «experimentais» ou «concretistas».
E já agora:porquê a designação de poesia «concreta»?

Silvia Chueire disse...

Suponho que, porque na sua composição há elementos visuais, gráficos,plásticos, que têm tanta importância quanto as palavras.

Primo de Amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Primo de Amarante disse...

A Eugénia já define, como eu sempre entendi, a poesia concreta. Veja-se o grafismo (ondulante)do poema de Sá Carneiro-- "É no ar que ondeia tudo! É lá que tudo existe!..."
Em tempos coloquei em post um poema do meu sobrinho André que, na sua "ingenuidade poética" traduzia um pouco isso e lembro-me que a Eugénia fez um comentário que espelhava o que agora diz.
O mais interessante dos blogs é o debate (naturalmente com aquilo que Habermas chama a ética da comunicação). Sem debate, o blog é um jornal de parede siplesmente, com pouco interesse!

Amélia disse...

Entendi -mas porquê concreta e não apenas visual?
Eu gosto de um bom debate,
claro.
Ainda não fiz praticamente outra coisa desde que aqui estou...-:)

A aliança grafismo/palavras só é poesia graças à palavra, em meu entender.Esse é o crácter específico da arte literária - arte que se faz com palavras portadoras de sentidos e portas de acesso a realidades outras (a música faz-se com sons, a pintura com a cor e o traço,a dança com o movimento, a escultura com a forma,a arquitectura com a inserção e harmonizaçaode formas no espaço,etc...- o que distingue as artes são os meios de que se servem, a forma e matérias primas com que se fazem)Tal como Sá-Carneiro e Apollinaire, por mim também evocados,ambos do 1º e mais vanguardista Modernismo europeu, também na pintura se começou, pela mesma época-década 1910-1920- a usar colagens, caracteres tipogáficos, etc.No entanto ninguém lhes chamou pintores literários...Ou estarei errada?

Portanto para mim há poesia nesse verso que citou de Sá-Carneiro - mas aí há uma perfeita harmonia e equilíbrio entre forma e fundo...o que nem sempre - eu diria que raramente - sucede copm os chamados concretistas- dando estes
«poetas» maior relevância aos aspectos visuais que às palavras(um pouco como aconteceu em muitos poemas do barroco -no fundo há sempre um regresso...não confundir com retrocesso, que não é a mesma coisa - eu gosto do Barroco, principalmente na música e na escultura).
Um abraço a ambos, Sílvia e Compadre

Primo de Amarante disse...

Suponho que a utilização do termo "visual" daria uma conceptualização pouco precisa: todos nós, uns mais do que outros, conforme os gostos, mudamos de visual muitas vezes, por vezes no mesmo dia, enquanto que a "concretibilidade" (gráfica) dos nossos traços fisionómicos é mais vinculativa (concreta). O "jogo de linguagem" a que pertence o conceito "visual" é diferente daquele a que pertence o conceito "concreto".

O debate no blog tem uma vantagem: "ouvimos" o outro, tomamos sobre o que ele diz uma posição e nas trocas de pontos de vista avançamos para novos conhecimentos, de forma interactiva. Se apenas colocamos um texto em post e em seguida se faz silêncio, nunca se sabe se o silêncio é de ouro (como, p.ex., o que provoca os poemas de uma maneira geral e em especial no blog de Amélia!)ou é de indiferença ou repulsa. Além disso, na "geometria" dos "actos de fala" o diálogo é horizontal e o monólogo é vertical. Também aqui a conotação com a concreticidade é mais significativa pela geometria do que pela visualidade. A grafia geométrica diz respeito a um experimentalismo:pela grafia geométrica "visualizamos" melhor e à posteriori poderemos avaliar as consequências da aplicabilidade do diálogo ou do monólogo. Se ficassemos só pelo "visual" poderíamos não ter a intenção de avaliar consequências experimentais, de saber se a grafia aprova ou não o que queremos dizer.