O trabalho
“Os deuses haviam condenado Sisifo a rodar uma rocha até ao cimo de uma montanha e uma vez atingido o cimo, a rocha regressava pelo seu próprio peso ao sopé da montanha, obrigando Sisifo a recomeçar o seu trabalho, sem cessar.
Haviam pensado (os deuses), com algum fundamento, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança. (...) Se o mito é trágico é, porque o homem, seu protagonista, tem consciência de que a esperança de atingir o propósito do seu trabalho é frustrada. Muitos trabalhadores do nosso tempo trabalham nas mesmas condições e o seu destino não é menos absurdo. Mas esta situação só é trágica nos momentos em que se tem consciência dela”.
A Camus, El mito de Sisifo, Losada, Hay ed. En Alianza.
A profissão.
A palavra «profissão» evoca a capacidade de dar fé pública, de testemunhar: professa-se um modo estável de vida, manifestam-se umas capacidades de serviço dignas de confiança. É como que o rosto - persona - com que aparecemos em sociedade. Mas, se a profissão perde a sua inserção vital, converte-se numa máscara suscitadora de suspeitas acerca dos interesses que realmente esconde. (...)
Antes de ser produção exterior, poesis, o trabalho é praxis: conhecimento interior do que se faz e decisão acerca do que se pretende.
A produção objectiva pressupõe a acção subjectiva. Este primado da dimensão subjectiva do trabalho sobre a sua dimensão objectiva deve traduzir-se na precedência valorativa da acção produtiva sobre os meios e resultados da produção. De tal maneira que saber trabalhar antecede a materialidade do próprio trabalho. Saber trabalhar é conhecer o bom uso dos meios, em vista de fins preferidos.”
Maria José Cantista, Racionalismo em crise, Livraria Civilização Editora, Porto.
11 março 2005
O trabalho e a profissão
Marcadores: Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM)
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