22 março 2005

Outro céu - I



É de outro céu que escrevo,
outras estrelas.
E de um mar imenso,
que desejo atravessar.
É da travessia que digo,
do sonho à realidade.

São outros rumos que procuro,
da minha verdade.
Outros caminhos,
suspiros,
mãos nervosas.

É de um certo escuro que dizia,
a lua clareando tudo.
Da ausência.
De um não estar
e querer ser.

Do desejo derramado
sobre todas as distâncias.



Silvia Chueire

9 comentários:

Primo de Amarante disse...

Hoje lembrei-me de si. Não leve a mal a circunstância. Fui com uns amigos (dos bons, que ainda os há!) a uma lampreiada no restaurante "Boa Viagem", no Porto da Raiva, em Oliveira do Mondego. Fazemos isso uma vez por ano. Quase sempre nesta data.Estava um regalo o arroz de lampreia e acompanhada por um vinho divinal constituiu um tónico divinal para a descontração de infindáveis memórias de transgressões. Estórias ampliadas de peripécias passadas.Saimos do restaurante e já estavam a colocar toalhas para o jantar. O sol do tamanho de um poeta atirava os seus raios entre o arvoredo do rio mondego sobre todos nós que, em silêncio, ficamos junto aos carros a fruír aquele azul de entardecer. Sentia, numa doce paz, que ali havia um poema sem rimas.E confidenciei a mim próprio:só gostava que esta paz de azul quase nostálgico fosse por esta inocente brisa levada à eugénia. Podia ser que fizesse um poema sereno sobre a memória num cair da tarde sem asas de morcego. Excluo só os morcegos, porque nunca os associo aos sonhos. Sugerem-me traição nos seus voos rasgantes e solidão num bosque de pesadelos.
Se calhar vai pensar que estou com os copos e talvez não seja de todo mentira. Nunca ninguém nessa circunstância sabe se fala por si ou pelos vapores do álcool. Cheguei, li o seu poema e fui compelido a destilar o que trazia na memória, sem ter tempo de repensar o que fui dizendo em tom de comentário. E já agora fica assim!

Primo de Amarante disse...

Compadre carteiro: não se trata de destravar a língua; trata-se -- isso sim!-- de apanhar a espiritualidade dos vapores para fazer um poema em prosa. Foi isso que aconteceu. Vai ver como a eugénia me compreende!

Silvia Chueire disse...

Caro compadre,

Se compreendo... Só me resta fazer votos para que os vapores do álcool libertem sempre esta sua prosa poética.Que depois se libertará sem eles.
Lida a sua descrição sobre o momento, fui ao Google pesquisar a região, para ter uma idéia de como seria aí, o rio. E encontrei belas fotografias, se é que acertei:

http://www.cm-penacova.pt/Os%20meus%20Web%20sites/index.htm

Aí está o endereço. : )

No mais, fico feliz que tenha se lembrado de mim. E para não fazer (muito) feio, diria:

o sol a deitar-se
entre o arvoredo
a fazer sombra luz
nas águas do mondego

com o espanto da primeira
ou da última vez
olhamos encantados
o céu a transformar-se

azul vespertino
a se tornar noturno
debruado na água
ensombrecido o rio

silvia chueire

ps: não conseguia comentar antes.

Primo de Amarante disse...

Sei que havia de me compreender. Gostava de ser um pássaro incolor a fugir pelo grande mar com um ramo que despetelasse contelações de amores perfeitos para lhe dizer obrigado. Não sei se há amores perfeitos, mas de alguém que compreende uma tarde inolvidável, digerida com uma lampreiada regada com um vinho divinal e, a propósito,faz um lido poema, pode-se dizer que é um Perfeito Amor.
Obrigado pelo seu poema. E obrigado por não me incluir nos "alcoólicos anónimos" para onde o compadre carteiro quase me atirou.
O vinho tem uma função terapeutica e a minha amiga sabe bem isso. O vinho propõe-nos uma nova infância, torna-nos lúcidos meninos. Já diziam os gregos."in vinnus veritas" (será que escreve bem este latinório!?...)

Primo de Amarante disse...

Já confundo gregos com romanos. Reparo que não fiquei muito bem dessa lampreiada!

Silvia Chueire disse...

: )

Primo de Amarante disse...

Querida amiga Eugénia: será que há algo de esotérico apelo aos deuses no signo que me deixou?!...

Silvia Chueire disse...

Era um sorriso, compadre, um sorriso em símbolos da escrita. Como se deve fazer nestes novos tempos informáticos. Um sorriso como lhe deixara o carteiro e mesmo eu nos comentários anteriores. Este agora pelo seu comentário quanto a não ter ficado bem da lampreiada. : )

Abraços,

Silvia

Primo de Amarante disse...

Eu que eu quero é que sejam felizes! Com muitos :) :) etc.