23 março 2005

A Pedra de Toque

Isto que se pensa
isto que se diz
é o toque da pedra
o milagre do giz.

É o deslumbramento
de se poder gravar
na ardósia do momento
o grifo do mal estar.

É o pressentimento
de se poder somar
o riso com o risco
o rictus com o mar.

É possuir-se o lento
tempo de calar
(mui leal conselheiro
dos que sabem cantar).

É esperar-se por dentro
o que nos vem de fora
e atirar a pedra
nos homens e na hora.

José Carlos Ary dos Santos

1 comentário:

Primo de Amarante disse...

Gosto do poema. Vem da sensibilidade de um mocho atento que viveu as mesmas esperanças, sonhos e vontades que eu vivi. É o nosso denominador comum. Conheci o Ary por intermédio do Moreira das Neves (sobrinho de um cónego muito conhecido) que foi director do TEP e tocava excelentemente bem viola. Penso que ainda toca. Hoje é médico e raramente o vejo. Sei que só mudou de estatuto cívico: casou-se.
Recordar Ary é lembrar um turbilhão de acontecimentos que fizeram o nosso entusiasmo e deram um forte sentido à nossa presença no mundo. O Ary era um poeta militante, daqueles que assumem inteiramente a sua responsabilidade civica, política e social. Dizia-se que o PC nunca aceitou a sua filiação. Como já vão distantes os tempos, as crenças e preconceitos e a forma de entender a poesia?!...