Aproveitando a boleia de um texto sobre o Dr Rio Presidente da Câmara do Porto, tomo a liberdade de republicar aqui um texto de 2002 que enviei para um jornal (de que por mero pudor nem o nome quero citar) exprobando ao inábil (???) autarca um insólito pedido por ele feito ao Sr Presidente da República.
Pedindo aos leitores uma antecipada desculpa pelo uso de tão requentado tema aqui vai:
Carta sincera ao Sr. Dr. Rui Rio
com um aviso por causa do provincianismo
Exº Sr. Dr. Rui Rio
Porventura saberá (ou dir-lhe-á alguém) que o título desta crónica é um descarado plágio. De facto, há já longos anos, cerca de cinquenta, Luís Pacheco entendeu escrever uma “carta sincera a José Gomes Ferreira”. O texto, magnífico como quase todos os que se devem ao autor de “Comunidade”, ficou famoso e a 1ª edição do panfleto custa, em qualquer alfarrabista, os olhos da cara. Ao copiar o título rendo uma homenagem ao Luís e, indirectamente, a V. .
Mesmo assim, poderá V., e com toda a razão, dizer que eu, escriba desconhecido e pouco inspirado, estou a milhas do fulgor de Pacheco. É verdade. Permita-me, todavia, e muito compungidamente, recordar-lhe que também o Sr Dr Rio não estará muito próximo do autor de “Poeta Militante” podendo, mesmo, dar-se o caso de o não ler ou sequer de não o conhecer. Não seria o primeiro e não é por isso que me atrevo a traçar estas pobres regras.
De facto o que me leva a usar o Seu nome como viático para esta crónica é o saber que V. escreveu ao Senhor Presidente da República, uma carta na qual solicita uma intervenção discreta mas eficaz sobre o jornal “Público” que V considera ser o Seu principal adversário político.
Sr Dr Rui Rio, permita-me que, sendo um pouco mais velho que V. utilize este espaço para lhe deixar um punhado de considerações.
O Dr Jorge Sampaio exerce, neste momento, de Presidente da República e não de censor, de juiz ou de Alta Autoridade para a Comunicação Social. A Sua carta, para além de patética, roça os limites do bom senso que não da grosseria. O Senhor Presidente da República não é uma caixa de reclamações nacional e, muito menos, um censor do antigamente. Ou julgará V. que o corajoso oposicionista Jorge Sampaio pode ser tomado por um desses majores tarimbeiros que, de lápis azul na mão ignara, retalhava peças jornalísticas que desagradavam ao poder?
Ou caberá nas funções constitucionais do Presidente da República chamar a palácio o director do “Público” e os redactores do “local Porto” para um sermão, quiçá um puxãozinho de orelhas? Ou, até, quem sabe, um safanão dado a tempo? É o que me ocorre com aqueles adjectivos discreto e eficaz, ainda que eficácia a sério seria coisa sempre mais definitiva, se é que V me compreende.
Sr Dr Rui Rio: apesar de calcular que V já não teve de aprender latim, sempre lhe deixo aqui, uma máxima, que eventualmente o Senhor Presidente da República invocará, implícita ou explicitamente, numa eventual e desnecessária resposta: De minibus non curat praetor. Ou seja: o juiz não trata de ninharias.
Sr Dr Rui Rio: V é presidente da Câmara da 2ª cidade do país, não é regedor duma perdida freguesia de Paródia de Baixo, tão pouco é soba dum kraal perdido nos cafundós da selva, pelo que a ignorância do que deve à função e aos seus munícipes me parece indesculpável.
Começa a ser pungente ler, seja em que jornal for, relatos da sua actividade, do que diz, do que faz ou não. Sobretudo do que não faz ( por exemplo não avisar o “Público” dos actos da câmara). Ainda há dias se noticiava que V declarou que “pela primeira vez o Porto tem um presidente de que o país gosta” (mesmo que não seja essa a opinião dos portuenses e eventualmente do resto da população lusa). Sr Dr, pelas almas, contenha-se. O silêncio pode não ser sempre de ouro mas o auto elogio nunca é, sequer, de latão. O país ou não o conhece ou se ri. Ri-se do provincianismo, do autismo, do autoritarismo e da criancice. E rindo-se, ri-se de nós todos, munícipes do Porto, que, tendo ou não votado em si, o vamos ter durante quatro anos ( felizmente só mais três e meio...) aí no alto dos Aliados.
Sr Dr Rui Rio: Pela parte que me toca não tenho morrido de amores pela esmagadora maioria dos presidentes de câmara que me vão cabendo em sorte. Cada um que parte poucas saudades me deixa. Todavia, para surpresa e gáudio de amigos meus, começo quase a sentir a falta do seu antecessor de quem relembro a invenção de um fim de ano a oito de Janeiro, com fogo de artifício e tudo.
Convenhamos que já é azar.
Marcelo Correia Ribeiro
11.Jul.02
08 março 2005
A proposito de Rui Rio
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