16 março 2005

provincianos,diz ele...

No “Público” de 13 de Março, o principal responsável pelo “Metro” do Porto vem a terreiro defender a sua dama e desancar as pessoas que se opõem à construção de uma linha de metro de superfície na Av. da Boavista.
Recordemos resumidamente um par de argumentos dos contestatários cidadãos que tanto escandalizam o Sr. Eng. Marques. O metro com a obrigatoriedade de via dedicada ocupará a faixa central da Avenida, impedindo o transito de autocarros e táxis por essa via. Identicamente impedirá os automóveis de utilizarem alguns pequenos troços da via central para efectuar viragens á esquerda. Remeterá assim todos quantos pretendam virar á esquerda para o miolo dos quarteirões adjacentes cujas ruas são normalmente estreitas e estão já saturadas. Impedirá finalmente que se concretize a ligação da marginal do Douro a Matosinhos-sul por eléctrico e a instalação de uma linha de eléctrico entre o castelo do Queijo e a rotunda da Boavista onde se estabeleceria o interface com a estação de metro “Casa da Música”. Note-se que de Matosinhos-sul ao Castelo do Queijo já existe via dupla e ainda não estreada de eléctrico e que a linha da marginal está pronta até à foz do Douro faltando apenas completá-la durante a marginal marítima da cidade (Rª do Passeio Alegre e avenidas do Brasil e Montevideu). Falta igualmente a linha da Avenida da Boavista. Entendem os ingénuos e mal avisados contestatários do metro que só assim terão coerência os investimentos já feitos na eventual rede de tracção eléctrica e no viaduto entretanto lançado por sobre o parque da cidade. Tanto mais que a instalação do metro obriga a novo viaduto (mais um!) e implica, segundo informação pública e publicitada, um investimento cinco vezes superior ao do eléctrico ligeiro. (Quem quiser melhores informações terá de entrar no blogue “a baixa do Porto”).
E que vem então dizer o Sr. Engenheiro?
Vem dizer a) que está “ansioso” por poder debater o projecto da linha na Assembleia Municipal visto que esta (ao contrário daquele grupelho de cidadãos) é uma instituição legitimada para este debate; b) que o metro é um “problema metropolitano” e não apenas da cidade; c) que este abaixo assinado (que “lhe parece bem para mostrar uma disposição”) com “o tom com que é lançado, [ é] uma espécie de sucedâneo de referendo”, lhe parece ”provinciano” (!!!); d) que “aquilo é o início duma linha Nascente-Poente que não existe e que mais cedo ou mais tarde vai ter de existir” e) que uma discussão destas merece “uma reflexão cuidada e nos órgãos legitimados”; f) que se a sociedade civil não der “suporte ao projecto ...marcante...estratégico essa linha não vai ser construída porque aparecerá junto do Governo como uma proposta débil”
Ora vejamos. Vamos piedosamente acreditar que terá havido apesar de isso não ser visível, um resumo do que o Sr. engenheiro Marques quis dizer. É que nem a redacção é brilhante, sequer mediana, como também tão depressa ele fala da Assembleia Municipal do Porto como dum projecto metropolitano (onde entram ao que consta outros vários e mais populosos concelhos (Matosinhos, Maia, Gondomar e Gaia só para citar os mais próximos). Eu sei bem que um engenheiro não tem que saber demasiada geografia nem, muito menos, qual a competência dum órgão autárquico mas enfim... est modus in rebus.
Alguém de mau carácter poderia vir dizer que é a primeira vez que se fala de uma linha poente nascente e que isso é uma batota pouco digna numa discussão já aberta.
Fico encantado com a afirmação de que a Assembleia Municipal é um viveiro de pessoas que a tornam num órgão legitimado e preparado para esta discussão que o Sr. Engenheiro proclama técnica e estratégica. Também acho que há que dignificar esse areópago político que por vezes se perde em discussões um tanto ou quanto mesquinhas. Diria porém, pedindo desculpas ao novel politólogo e engenheiro, que a AM discute fundamentalmente política. E por aqui me fico.
Abismou-me a opinião contundente, mas seguramente esclarecida e digna de ser passada à posteridade, sobre os abaixo assinados. Bons para mostrar uma disposição mas péssimos quando se parecem com referendos. Alguém com má vontade poderia pensar que o Sr. engenheiro Marques não sabe o que é (e quais são os limites de) um abaixo assinado. E nesta maldosa onda de cavilações impróprias de uma pessoa de bem, também se poderia pensar que o referido Sr. engenheiro não tem qualquer noção do que seja ser “provinciano”. Claro que em defesa deste estrénuo profissional sempre se poderá dizer que o cosmopolitismo que se lhe reconhece (quanto mais não seja no corte de cabelo) lhe possibilitará enxergar com rotunda clareza o provincianismo com que brinda os que ele, no seu douto parecer, julga serem seus adversários. Não se pede ao Sr. engenheiro Marques um qualquer exercício de pensamento quanto ao que, à falta de melhor, chamaríamos uso das mais elementares regras de discussão democrática (oh horrível e malfadada palavra!). Sª Ex.ª entende que um inocente abaixo assinado que não cumpra a sacrossanta meta de mostrar “uma disposição” ( e por aí se fique...) é um abuso sobretudo se pretender substituir-se a um referendo!!! Eu não sei se não será de propor ao Professor Canotilho um doutoramento honoris causa para um constitucionalista do jaez do nosso querido engenheiro. Um talento com tal robustez não devia sequer ter de aturar a maçada de, numa entrevista, ter de rebater esta horda de provincianos ineptos que tentam por meios tão gravosos convencer a “sociedade civil” a debilitar a proposta a fazer ao Governo.
Um outro Oliveira, o falecido Dr. António de Oliveira Salazar não era engenheiro mas quanto a argumentos também não pedia meças a ninguém. Dizia ele que “se os portugueses soubessem quanto custa mandar prefeririam obedecer toda a vida” . Traduzindo no actual tecno-português à moda do Porto: cidadãos caluda que disto percebemos nós.
Foi com argumentos assim que se fizeram o Cachão, Sines e o Alqueva para só citar três aberrações. O dinheiro (dos contribuintes) é para gastar. O papel deles é calarem-se para não passarem por lorpas ou por...provincianos.
Já agora: porque não propor em vez duma ponte, uma nova travessia do Douro por submarino? Caramba! Isso nem os gajos de Lisboa têm!...
m.c.r.

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