19 abril 2005

A limitação de mandatos

Os “dinossauros” das nossas autarquias, de todos os partidos, começam a dar sinais de inquietação e de inconformismo perante a iniciativa do Governo de propor a limitação de 12 anos aos mandatos de cariz executivo. Já aqui escrevi sobre esta matéria, incluindo as alterações à lei eleitoral das autarquias, baseando-me num artigo de opinião escrito há alguns anos para o jornal “A Indústria do Norte”, um suplemento da AEP publicado com o “Diário Económico”, onde defendia uma posição favorável à limitação de mandatos.
É evidente que se pode sempre questionar a abrangência e os limites da lei em preparação – devem estar incluídos os deputados, apesar da sua acção não ser predominantemente executiva? E os ministros e membros dos governos regionais? E os vereadores em regime de permanência, que muitas vezes dominam por completo o aparelho das Câmaras Municipais? O limite deve ser doze anos ou oito anos?
Parece-me, no entanto, que a bondade daquilo que é proposto ultrapassa largamente as eventuais lacunas. Com efeito, há muito que era necessário legislar sobre a limitação de mandatos, pondo cobro a situações despudoradas de políticos que se perpetuam no poder, criando clientelas e gerindo interesses, e que só contribuem para desacreditar os fundamentos da democracia. É tempo de acabar com os longos “reinados” de Narciso Miranda, Mário de Almeida, Mesquita Machado, Ferreira Torres, Alberto João Jardim e outros pequenos “príncipes” do nosso Portugal profundo.
Estou certo de que, com a saída destes responsáveis, abrir-se-á espaço para uma nova geração de autarcas, que trarão consigo novas ideias e novas formas de fazer política. E, a partir de agora, teremos sempre um horizonte temporal fixado para terminar com certos desvios de poder, com a demagogia e o populismo desenfreado. A bem da nação…

3 comentários:

Mocho Atento disse...

A democracia faz-se com cidadãos. Os profissionais da política são a negação da democracia e do espírito de serviço público que o exercício de cargos electivos pressupõe.
Tudo a favor da limitação de mandatos! Não há insubstituíveis.
A lógica do serviço tem de sobrepor-se ao à do poder. E o poder corrompe. Ao fim de algum tempo, o eleito apenas se preocupa em obter a reeleição.

M.C.R. disse...

Também eu estou de acordo com a limitação dos mandatos ainda que isto me deixe um certo mau gosto na boca. É que se nos ficarmos só por aqui não resolvemos o problema principal: a "mainmise" dos partidos. Eu não creio que este governo se atreva a propor os círculos uninominais, o que talvez desse aos cidadãos mais possibilidades de castigar os deputados que não cumprem as promessas, que só estão no parlamento para levantar o rabo da cadeira nas votações e voltar a sentá-lo logo a seguir. A "classe política" precisa de ser confrontada com a realidade. Mas se isto for para a frente cairemos num 2º problema: vão para o lixo os bons e maus deputados ao fim de dois ou três mandatos. O problema central da boa democracia não está no tempo em que um político está no activo. Está no aparelhismo, na manipulação de nomeações a candidato, na falta de educação cívica e finalmente na inércia de todos quantos deviam protestar e não o fazem. Julgo que valia a pena continuar esta discussão.
mcr

M.C.R. disse...

vale a pena ler o comentário de Vasco Pulido Valente hoje, sábado, no Público.