Porque hoje é dia de África e afinal (também) sou africano, aí vai a minha contribuição para a efeméride:
o azul arde
e no entanto a cidade de cal
abandonada
fere no silêncio da sua ruína
o lívido ar
ouço as crianças - um quase nada -
com suas missangas de mar
morro com o sol
no sorriso da menina de capulana
e nas suas mãos se fecha a tarde
só o bronze de camões
virado ao índico
perpetua esta sina esta chama
Ilha de Moçambique, Junho 1995
Luanda - III
onde está
o machimbombo barulhento
o que ficou parado
no rosto da infância onde
está o abacate caído com o vento
o que ficou enterrado
na areia da distância onde
está o gosto da goiaba vermelha
que entrou na memória
do menino e a preta velha onde está
com a história do musseque
de todos os encontros
ali na estrada de catete onde
os mortos repousam nos meus ombros
Setembro 1991
25 maio 2005
Dia de África
Marcadores: Poesia
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2 comentários:
Belíssimos os poemas. Obrigada pelo assinalar da data!
Plagiando Yourcenar, o poema é o grande escultor do tempo e o tempo, o nosso tempo, são pedaços de ternura, de sofrimento e, por vezes, de revolta, vividos num silêncio de saudade.
Um abraço, ANTO.
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