"Vista daqui, a «Feira do Livro» parece um local onde apetece ir. Mas depois imagina-se o sol inclemente que a flagela e a vontade vacila; só que hoje, dia fusco, está a choviscar. Esgotado o argumento climatérico, fica o facto de, plantada que está numa encosta, ser um caminho a subir, esgotando as pernas e cansando as costas; claro que, pois nem tudo é mau, há metade do percurso a descer. Como se encontrasse, enfim, melhores pretextos, lembro-me do peso dos sacos, atulhados de livros, as asas aceradas a vincarem-me, feriando-as, as mãos. E se eu não fosse? E se eu fruisse o que tenho, em vez de acumular mais ilusões? Foi ao pensar nisto que me decidi a ir. Gele ou sue, dilacerem-se as mãos ou quebrem-se-me as costas, eu vou. Não por causa dos livros, mas precisamente por causa das ilusões."
O Mundo em Gavetas
27 maio 2005
A feira das ilusões
Marcadores: kamikaze (L.P.)
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2 comentários:
O perigo não é o exercício físico mas sim a quantidade de livros que se nos "colam" durante o caminho.
As feiras do livro não destruirão a termo as livrarias?
se durante todo o ano as pessoas se guardarem ( e guardarem os morabitinos...) para esta ocasião, quem é que irá ás livrarias? Se ninguém for às livrarias haverá ainda livros, todos os livros, ou só a não sei quê rebelo pinto? E se não houver livros, iremos todos para o sistema farenheit 451? Não servirão as feiras, apenas, o interesse obscuro do editor ansioso que se quer desfazer dos mamarrachos que estupidamente publicou?
quem é que já leu "A feira das vaidades"? estará na feira? Só se for na séima feira!
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