21 maio 2005

Lenta


Frio,
o dia arrasta-se lento em gotas que caem.
Perco-me em pensamentos
como se descesse lentamente
a vidraça.

Não é inútil o dia assim
-como se os dias devessem ter utilidade
não sendo eles apenas sinal do tempo.
Prestam-se a perscrutar recantos.
a olhar distraidamente em volta
cismando a razão das coisas,
a saber quem somos,
ou quem não fomos.
Serviriam para disfarçar as lágrimas,
se lágrimas houvessem.
Ou para perdermo-nos na memória.


Ao longe, muito ao longe,
ouço minha mãe chamar
-vem, menina distraída -
e ainda o ruído do livro que cai
na pressa desastrada de atendê-la.
É tarde, é tarde...


Silvia Chueire

4 comentários:

Primo de Amarante disse...

Suponho que foi Nietzsche que disse. "o solitário devora-se a si mesmo no afeto". O poema é lindo e a "press" é, na verdade, quase sempre "tarde".

Amélia disse...

Belíssimo, Sílvia!

L.P. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Silvia Chueire disse...

Caros Amélia e compadre,

Não tenho podido estar por aqui conectada. Mas fiquei feliz com as suas palavras.

Um abraço grande,
Silvia