Toda a gente acumula pensões com rendimentos do trabalho. Só porque é Ministro, uma pessoa não tem direito ao que lhe é devido nos termos da Lei? Porque é que há-de renunciar ao rendimento a que tem direito? Alguém prescinde do que quer que seja dos seus direitos?
Se o Ministro vai propor legislação de restrição dos rendimentos da classe política, só tem de aplicar a si a lei quando for aprovada! Não é preciso tanto alarido da esquerda alucinada e da direita tacticista. É preciso ter pudor e bom senso. Que aconteceria se aplicassemos a mesma regra a outros sectores, por exemplo, se os senhores Professores deixassem de acumular rendimentos pelas aulas e pelas explicações, seminários, estudos orientados, etc.? É que estão dentro da mesma actividade e as explicações só são precisas porque quem devia ensinar não ensina. E não lhes acontece nada... Porque aos incompetentes e irresponsáveis, nada acontece em nome dos seus sagrados direitos adquiridos. Seria sempre perseguição ao trabalhador intelectual. E se em mil e uma actividades, deixasse de ser possível a acumulação de rendimentos?
Um político não pode ser prejudicado por o ser. Ou alguém acha que o Ministro é bem remunerado?
É falso, perigoso e assassino da liberdade dos povos o fomentar a ideia da desonestidade geral. Porque é muito fácil criar suspeitas onde nem sequer há fumo. Aos políticos não se pode exigir uma moral que não seja a do comum cidadão, que se torna político apenas porque assume função pública de serviço à Comunidade, serviço esse que deve ser temporário e submetido a um projecto definido.
As regras são para todos! Mas não há mais regras para uns do que outros. As regras dos políticos são as mesmas dos cidadãos.
O principal problema deste país não são os políticos! Eles representam efectivamente o povo. O problema deste país é a mediocridade do Ensino (já não há ensino; porque não se ensina; apenas resta preocupação com a "educação sexual", "educação desportiva", "educação artística", "cidadania", etc... tudo menos o que a escola devia fazer em primeiro lugar, que era ensinar e instruir!). E criamos uma geração de incompetentes, ignorantes, apáticos e incapazes de projectos de desenvolvimento pessoal e comunitário.
Este país não tem intelectuais (os que pensem e saibam o que dizem), nem empresários, nem operários qualificados. E por isso vive tudo à custa do Orçamento de Estado, defendendo os seus "direitos adquiridos", sem que nunca adquiriram quaisquer deveres. Porque os deveres são para os outros e os direitos são meus!... E cada um trabalha demais para o que ganha! Os outros é que fazem menos do que o que ganham!
Por isso, já tenho dito que a principal reforma é a extinção da Função Pública. A identidade com o regime dos demais trabalhadores seria fundamental para aumentar a produtividade e eficácia dos recursos afectos à Comunidade.
Discutamos o que é importante e não percamos muito tempo com as notícias de ontem e de hoje. Amanhã ninguém se lembrará delas.
04 junho 2005
Ministro, Salários e Reformas ...
Marcadores: mocho atento
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12 comentários:
Segundo Rawls, o princípio da justiça deve ter em conta o seguinte:"As desigualdades económicas e sociais devem ser distribuídas por forma a que, simultâneamente:
a)- Se possa razoavelmente esperar que elas sejam em benefício de todos;
b)- Decorram de posições e funções abertas a todos;
c)- As vantagens dos mais favorecidos sejam compensadas por uma diminuição das desvantagens dos menos favorecidos.
Rawls, como se sabe, é um teórico do estado liberal.
Caro mocho: sobre a medicridade do ensino, levanta-se uma questão: como foi possível chegar a esse seu saber?!...
Só li metade do post do Mocho e metade dos comentários. Não preciso de mais: o ministro não tem, do ponto de vista moral, qualquer razão.
Pensava que a pensão era paga pelo Banco de Portugal !
Alguém já perguntou pelo sistema remuneratório e de benefícios dos funcionários do Banco de Portugal ?
Teríamos muitas surpresas.
E já agora alguém conhece a lista dos pensionistas do Banco de Portugal ?
Seria interessante saber ....
Caro Compadre,
A qualidade do ensino está à vista de toda a gente.
Veja os tesultados dos exames nacionais (e compare-os com as classificações anteriormente obtidas).
Veja os textos manuscritos por estudantes universitários nos seus exames. São assustadores ...
"A culpa nunca é minha, é sempre deles" !... deles ? de quem ?
Mocho atento: no que diz há uma contradição. se o ensino fosse assim tão mau, toda a gente passava.
Digo-lhe que o ensino está em crise, como estão todos os outros sistemas e os próprios escuteiros. Posso lhe dar exemplos e, se Você quiser, também podem ser generalizados.
Cao Mocho atento: não veja a questão só pelo lado monetário, veja pela dimensão social.E repare,o seu ponto de vista já foi ultrapassado pelo governo e pelos próprios ministros em causa. Todos consideram injusta essa situação e, por isso, vão alterá-la (e suponho que não foi com espírito de escuteiro!).
E já, agora, em relação à questão que lhe coloquei -- "como foi possível chegar a esse seu saber?!..." --, induzia-a do meu amigo ser muito novo e demonstrar tanto saber. Fiquei, por isso, perplexo que não soubesse reconhecer o papel dos professores que teve nas qualidades que tem. È que Você é muito novo e nenhuma degradação é abrupta.
Depois da leitura do post e dos diferentes comentários a conclusão a que chego é que as opiniões se complementam. De facto, os ministros receberem a pensão em acumulação pode ser vista como uma falha moral dados os sacrifícios que pediram a todos nós. Mas é legal, e penso que ninguém, na mesma situação, optaria por não receber a pensão. Logo, o que é preciso é mudar as leis e as regras que na Administração Pública e seus derivados permitem este tipo de situações, verdadeiramente insustentáveis e fonte de desperdício dos dinheiros públicos. Seis anos para obter uma reforma é absolutamente inacreditável. Mudar as leis e pagar salários adequados, que obriguem verdadeiramente à exclusividade parece-me fundamental.
Quanto aos políticos e as suas motivações, resta-nos sonhar…
Lido na Grande Loja do queijo Limiano:
"A silly season chegou mais cedo. Há uns dias, no deserto, bradei contra esta pseudo vaga moralizadora que visa tirar regalias aos titulares de cargos políticos. Infelizmente a moda veio para ficar. É triste, para não dizer patético, ver e ouvir José Sócrates afirmar querer equiparar o regime e a filosofia de remuneração da classe política aos dos funcionários públicos. Sejamos francos - a classe política, em Portugal é formalmente, mal paga. E tanto o é, que por o ser se criaram todo o tipo de esquemas para, à portuguesa, dar a volta à coisa. O drama maior - e isso ninguém o diz - não é o que se ganha - quando no universo da política - à custa do Estado, é antes o que se ganha no/do sector privado, por se ter estado na política. É verdade que a maioria dos políticos é má, é verdade que é incompetente, mas os poucos incentivos que poderiam ainda existir para seduzir a boa moeda a ir para a política, nomeadamente para a política de topo, estão todos, um a um, a ser destruídos, em nome da mais soez demagogia. Pretender confundir moralidade com vencimentos em cargos públicos de responsabilidade extrema ao mesmo tempo em que não se soletra uma sílaba que seja sobre uma verdadeira política de imoralidades (será moral um autarca poder acumular o seu vencimento base com as mordomias de N empresas para-municipais ?), dos luxos estratosféricos que começam nos parques automóveis, de (in)compatibilidades, ao mesmo tempo que se nomeiam hordas de boys e super-boys, seria curioso dissertar sobre muitos regimes remuneratórios..., é no mínimo uma refinada hipocrisia."
Continua aqui.
Caro Compadre,
Tive alguns bons professores, que nunca esquecerei.
A minha professora de Matemática que nunca se cansava de explicar até que se compreendesse. O meu professor de Físico-Químicas, "Seisdedos", que nos obrigava a fazer experiências no Laboratório e a fazer o esquema de todas as reacções.
E muitos outros ...
Do 7º ano, lembro-me do "Rapa", ou Dr. Gaspar da Costa, se não me engano, o melhor professor de Latim e Português que alguma vez conheci. Não havia muita gente que gostasse dele, porque era muito exigente. Mas que ensinava, ensinava!...Não havia autor que não se entendesse e não se ficasse com o gosto de reler, fossem os clássicos, fossem os neo-realistas.
O meu professor de História, Barreira, segundo julgo,"forreta" nas notas, mas muito bom na capacidade de nos obrigar a estudar.
A minha professora de Filosofia, cujo nome não se recordo, mas que era simplesmente brilhante na condução das aulas e da reflexão.
Havia, como ainda há, muitos bons professores.E eu conheço alguns.
Mas as andorinhas não fazem a Primavera...
Pois não!...
Transcrição de um post de V.M no seu blog, "causa-nossa", com o titulo "turbopensões":
«Só pode merecer aplauso a notícia dada pelo primeiro-ministro sobre a preparação de uma lei a limitar a acumulação de pensões e de remunerações pelo exercício de cargos públicos. Mas o problema deve ser regulado também a jusante, no que respeita aos regimes de pensões "ad hoc" dos administradores de certas instituições públicas, muitas vezes sem base legal e criados por opacas comissões de remunerações (com intervenção dos próprios interessados) ou por esconsos despachos ministeriais.
Não é simplesmente aceitável que meia dúzia de anos de exercício de tais funções, já de si muito bem remuneradas, ainda confiram direito a uma pensão de elevado montante, acumulável tanto com a pensão normal como com a remuneração de eventuais cargos públicos futuros. É demais!»
Inserido por VM
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