Há dias, a comunicação social noticiava que no ano transacto Portugal criou mais 400 novos milionários, explicando o critério adoptado e o volume de riqueza necessário para se adquirir esse estatuto. Mais 400 milionários em 2004.
Ora, como se sabe e sente, o ano de 2004 foi um ano péssimo. O PIB não cresceu, o défice é a desgraça que nos proclamam. Então, como surgiram esses novos 400 milionários? Em que sectores de actividade económica acumularam essa riqueza? Como parece que a única actividade de sucesso, em 2004, foi o EURO, será que a maior parte está nos negócios correlacionados com o futebol?
Os sinais contraditórios da nossa economia não deixam de surpreender. A crise económica espalha-se a todos os sectores. As associações empresariais, os sindicatos, todas as organizações profissionais vêm à praça pública apresentar as suas razões de queixa contra o estado da nossa economia, que de ano para ano se agrava. No entanto, o que é que nos mostra a evolução da Bolsa? Depois dos avultados lucros que as empresas do PSI 20 apresentaram em 2004, o lucro das maiores empresas cotadas na bolsa subiu 37% no primeiro trimestre deste ano.
Mas… mais 400 milionários…, lucros avultados para as empresas… isso é bom para o país, dirão uns. Pois é, pode-se responder e perguntar: mas se é assim, porque é que o País está tão mal?
Ainda ontem, no programa “Prós e Contras”, ex-ministros das finanças explicavam o que se devia fazer para sair da crise (todos os ex-ministros sabem sempre como resolver os problemas…). A solução passava por cortar nas prestações sociais, cortar no volume das aposentações (“plafonar" o valor da pensão), cortar no subsídio de desemprego, cortar nos “subsídios que o Estado dá desde que se nasce até que se morre”, cortar nos salários na função pública, reduzir o número de funcionários, aumentar a idade da reforma, etc., etc. Até concordo com algumas das medidas que anunciaram. Mas porque é que todas as medidas tinham por alvo o mesmo sector da população? Os que já pagam IRS?
Porque é que se deve baixar as pensões dos funcionários públicos para as aproximar das pensões pagas pelo regime geral, como defendiam, em vez de se definir um plano plurianual para aproximar as do regime geral às da função pública?
Porque é que nenhum dos especialistas que intervêm nesses programas se lembra da evolução dos lucros das empresas cotadas na Bolsa; do lado bom da economia que permite gerar 400 novos milionários, num só ano. Ou seja, avaliar o contributo que pode ser obtido desse lado sadio da economia para a saída da crise?
Tanto quanto sei o governo não mexeu na taxa do IRC dos bancos, não mexeu nos lucros sobre transacções na bolsa, não acabou com o sigilo bancário, ainda não mexeu na contagem do tempo de reforma dos políticos.
O sentido de justiça de muitas das medidas efectuadas passa também por aquelas medidas. Só assim sentiremos, como dizia um comentador brasileiro, que o esforço para sair da crise quando nasce é para todos.
28 junho 2005
O PORTUGAL MILIONÁRIO E A… CRISE
Marcadores: O meu olhar
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1 comentário:
Pertinentes observações,"meu olhar". Quanto às questões que deixa no ar... parece-me que começa a haver cada vez menos espaço de manobra para os políticos protelarem as respostas.
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