12 julho 2005

Considerações sobre a consciência


Segundo Hegel, a consciência está cheia de contradições, dividida entre o puro dever e o fazer impuro. A única via da resolução das suas contradições é reconciliar-se consigo própria, pelo reconhecimento dos erros. Só o reconhecimento dos erros pode redimir a acção das imperfeições.
Nietzsche viu na consciência a “voz do rebanho” e fez notar que muitas vezes a consciência não é outra coisa senão a “voz da vizinha”. Freud lembrou que há um inconsciente que fala em nome da razão. E Karl Marx fez saber que a consciência não é pura, uma vez que reflecte os interesses da cultura dominante.
Identificar, como fez Aristóteles, a consciência à “recta razão” também já não faz sentido. As geometrias não-euclidianas, como as de Lobatchevsky, Rieman e outras vieram demonstrar que há vários modelos lógicos e, assim, desmoronou-se a ideia de uma única racionalidade depositária dos primeiros princípios fundamentadores não só do conhecimento como da própria moral. Não há mais a razão (singular e unívoca) mas as razões (plural e segundo determinado modelo). Max Planck demonstrou que não se pode observar a natureza sem a perturbar, como, por exemplo, no caso do fotão.
O sonho de transformar o mundo pela técnica e pela ciência submeteu o homo sapiens ao homo faber e isso teve como consequência a desvalorização da solidariedade antropocósmica.
Max Weber, por volta de 1917, numa conferência na Universidade de Munique, defendeu que a ética da convicção e a ética da responsabilidade são inseparáveis. No seu entender, a natureza e a história humana são mais complexas do que pensavam os Yuppies, os profetas ou os revolucionários. Há situações, nomeadamente as técnico-científicas, que não podem ser resolvidas sem uma avaliação das consequências previsíveis.
Karl-Otto Apel e Jurgen Habermas substituem, então, a relação indivíduo-consciência pela relação da comunidade-diálogo e consideram que são as regras que legitimam a função normativa da linguagem. Na ética comunicativa não se privilegia o sujeito que conhece, mas a razão comunicativa, onde os argumentos se impõem pela universalidade de critérios. A ética torna-se, então, num procedimento que procura uma justificação por consenso respeitando uma regra fundamental: todo o falante que aplicar um predicado “F” a um objecto “a” tem que estar disposto a aplicar “F” a qualquer outro objecto que se assemelhe a “a” sob todos os aspectos.

5 comentários:

josé disse...

Obrigado pela atenção, caro compadre.
Antes de dormir queira deixar também o meu contributo sobre a consciência:

Essa coisa intangível e fugitiva, poderia muito bem representar-se por uma fábula:

ESTA

josé disse...

Refiro-me ao Pepe...o grilo falante. Tomara que todos o tivéssemos e para tal, precisamos de lhe dar alface de vez em quando.

Primo de Amarante disse...

O meu avô tinha uma gata chamada "consciência". Roubaram-lha e ele dizia. "diabos leve quem ma roubou".
A vida tem dessas coisas!... Por isso, é melhor não justifivar tudo.

josé disse...

Compadre:
Nem lhe agradeci o breve estudo que é sempre de utilidade para quem gosta de ler sobre as filosofias.
Já agora, qual o conceito que lhe parece mais consentâneo com a realidade das coisas que passam?
Olhe que o conceito do grilo do pinóquio tem muito que se lhe diga...e a religião católica menciona a existência de anjos da guarda.

Primo de Amarante disse...

Gosto do grilo do pinóquio.
Um abraço.