08 agosto 2005

UM POEMA

Quisemos romper
o caminho do futuro sentimos
o borbulhar da mudança até
que abraçámos a vertigem
estonteante de cegamente querer
agarrar o fumo correndo
à toa.


Tropeçámos na teia
que ajudámos a tecer com a nossa seda
ainda áspera.
Caímos dentro de nós
em cheio.


Fomos então a lassidão e o devaneio
fluindo e refluindo com a cadência das marés
consolou-nos
o fascínio entorpecente
da memória fóssil do tempo
em que nos vivemos.


Hoje não somos mais
um destino plural.


Cadernos de Literatura nº25 - 1986
Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra

2 comentários:

Primo de Amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Primo de Amarante disse...

O poema toca no nosso tempo, tempo marcado pelo devaneio entorpecedor.
É preciso lutar contra a corrente.