28 setembro 2005

Com licença de Vossas Senhorias

Quem chega há-de por força dizer ao que vem, que é essa uma boa regra entre gens du monde. Por isso, permitirão que me apresente: d'Oliveira. d'Oliveira como a árvore milenária e sofrida, mãe desse azeite antiquíssimo que nos distingue, mediterrânicos, dos homens do norte, sérios e convictos do valor da manteiga e similares. Hão-de vossas Senhorias reparar que a fronteira da oliveira é quase a mesma da vide e corresponde na europa à mancha romana e romanizada.
Dessa herança me reclamo, mesmo sem desdenhar da cerveja, bebida de pobres no Império dos césares. A verdade é que em havendo dinheiro os sequiosos mediterrânicos nem hesitavam: venha vinho para os nossos copos, como diz a canção.
d'Oliveira é ainda uma modesta e sentida homenagem ao Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de seu nome, nado em Lisboa em 1702, filho do contador dos contos José de Oliveira e Sousa. Aliás FX sucede ao pai nesse pingue cargo como dirá a uma dama (ah as damas e FX...) "na minha pátria era contador dos Contos, aqui estou às ordens de V.M. como contador de histórias".
O Cavaleiro, pois era detentor desse grau na Ordem de Cristo, cedo se expatriou e faz parte desse pequeno grupo de ilustres emigrados que deixou mais nome e influência nas cortes europeias de Viena a S. Petersburgo do que na pátria madrasta. Conhecem-se dele livros indigestos e deliciosas cartas, em seu tempo publicadas e prefaciadas por Aquilino Ribeiro que lhe também escreveu exaltada biografia.
Para terminar convém dizer que referindo-se o Cavaleiro ao facto de ter sido queimado em efígie, em pleno reinado de D. José, disse: Nunca senti tanto frio na minha vida como naquele dia.
Como norma de vida deixou esta sentença que bem merece ser recordada: há que dar força à razão para que o acaso não governe as nossas vidas.
Voltaire não diria melhor.
Em segundo lugar, permitam-me que me sinta igualmente afilhado de Carlos de Oliveira, com quem brevemente privei e que tenho por um dos grandes autores da 2ª metade do nosso século XX. Atribui-se-lhe a bela canção heróica musicada por Lopes Graça - Terra pátria serás nossa:

Terra pátria serás nossa
mailo sol que nos cobre
terra pátria serás nossa
mãe pobre de gente pobre

Terra pátria serás nossa
mailos vinhedos e os milhos
Terra pátria serás nossa
mãe que não esquece os filhos
.................................................
E se a loucura da sorte
assim nos quiser perder
abre-nos teus braços de morte
e deixa-nos adormecer.

Tudo isto para ir publicando excertos de um diário escrito nos últimos 10/12 anos sobre este amor impossível e infeliz que se chama Portugal, feito mais de lágrimas do que de mar, naufragado entre índias imaginárias e ásperas europas. Para bilhete de identidade, creio que basta.

4 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

Bem vindo a esta tertúlia retemperadora, caro d'Oliveira!
Por este post de apresentação, estou certa que os nossos colaboradores e mailos leitores estão já afiambrados para atentar nas prometidas prosas mailas azeitonas com que não nos há-de faltar.
Viva o azeite , abaixo a margarina! E avante camarada... :)

O meu olhar disse...

Muito bem-vindo e parabéns pela brilhante entrada!

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Seja bem-vindo, caro dOliveira!

Silvia Chueire disse...

Por várias razões tenho apreço às oliveiras. Seja bem-vindo Sr. d'Oliveira !

Silvia Chueire