22 setembro 2005

Já estou por tudo...

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Que Deus me proteja e que nenhum magistrado excessivamente zeloso se lembre de me mandar deter por alegado atentado contra o Estado de Direito Democrático. Mas já não consigo calar mais o que penso. E o que penso não é bom: dia após dia, vou-me sentindo cada vez menos democrata, vou sentindo que esta democracia conquistada acaba por ser uma fraude.

Eu sei quem faz as leis. E também sei quem as aplica. E sei que há maus fazedores de leis. E maus aplicadores de leis. E sei que entre uns e outros há um muro que os separa, mas que não passa de um tabique que cai ao primeiro encontrão.

Já estou por tudo. Já não quero saber se Fátima Felgueiras vai ser a próxima presidente da Câmara de Felgueiras ou se Avelino FT vai ser o próximo presidente da Câmara de Amarante. Se forem, paciência, é a democracia a funcionar. Foi para isso que se fez o 25 de Abril, não foi?, para se respeitar a vontade da maioria. A maioria marcha ao contrário? Não!! Eu é que marcho ao contrário, segundo a democracia.

Há muitos meses atrás, eu escrevi por aqui que confiava no que considerava serem os pilares fundamentais da democracia. Falava dos juízes e até dos militares (destes por gratidão, em nome do 25 de Abril). Agora já não sei em quem confie, sobretudo a partir do momento em que neste país todos acham que é melhor serem funcionários públicos privilegiados, do que titulares de órgão de soberania com responsabilidades.

Fátima Felgueiras clamou, do Brasil, que Portugal tem uma justiça do 3º mundo. Sabe, certamente, do que fala. A partir de Portugal, Avelino FT goza com a justiça, diz que as prisões não são para ele, que os seus recursos serão resolvidos lá para as calendas. E sabe, certamente, do que fala.

Hoje, são as câmaras municipais. Amanhã, será a presidência da República. Por este caminho, tudo é possível. Pelo menos, enquanto os pilares do regime andarem preocupados com as questões sindicais em detrimento do que interessa ao país. Rebelem-se, meus caros, mas por coisas que os portugueses percebam e achem bem. Assumam as suas responsabilidades e ficarão, por certo, menos vulneráveis.

PS: agradeço que não me mandem deter até ao princípio da próxima semana, porque tenho coisas importantes para fazer daqui até lá. Se não puder ser, agradeço que alguém bem colocado me telefone a tempo de poder comprar bilhete de avião para o Brasil ou para me internar numa qualquer clínica.

6 comentários:

JTR disse...

Infelizmente não tenho o poder de adiar a sua detenção, ou estou em posição de o precaver de eminente detenção. Mas em tudo o resto, aceite os meus préstimos, pois não poderia estar mais de acordo consigo. Permita-me que divulgue o seu escrito, talvez consiga angariar melhor posicionado.

Kamikaze (L.P.) disse...

Talvez esteja numa dessas duas hipóteses o remédio para as suas eternas insónias... mas como é de presumir que deixaria de nos brindar com a sua sempre gostosa (mesmo quando não animadora) escrita, aí fica o telefone - a postos para qualquer eventualidade!

xavier ieri disse...

Deixo já aqui a confissão de que a autoria do post é minha, ou se não é bem poderia ser.
Milhares e milhares, certamente, de outros portugueses são igualmente os potenciais autores do post.
Serve isto, não para a usurpação da autoria, mas para o ilibar em julgamento.
in dubio pro reu.
(problema é que o estilo, brilhante, o denunciará, todavia).

o sibilo da serpente disse...

Agradeço a solidariedade. E uns cigarritos quando for caso disso...

Silvia Chueire disse...

Comprar um bilhete para o Brasil certamente deve ser uma melhor solução (solução?) do que internar-se numa clínica qualquer. : )

Abraços,
Silvia

Amélia disse...

Será mesmo verdade que a Fátima Felgueiras não foi obrigada a entregar o passaporte brasileiro?Então como pensam garantir que ela não sairá do país?Só se não sair até às eleições e as perder...