27 outubro 2005

Um pouco mais de...azul

Sim, eu sei que está escuro lá fora e que as nuvens andam carregadas. O tom deste blog anda, também ele, carregadíssimo. A má vontade contra este Governo, e em especial contra o ministro da Justiça, faz-se sentir a olhos vistos.
Não sou operador da justiça e confesso que tenho muitas dificuldades em entender a greve dos magistrados sob outro prisma que não seja a defesa do seu estatuto e das suas regalias. Há, de todo o modo, um claríssimo défice de comunicação dos magistrados que faz com que o (tão) desprotegido cidadão comum não consiga entender esta greve.
Por isso, no meio desta turbulência, resta-me desejar um pouco mais de... azul. Um reflexo de acalmia, de tranquilidade e de ponderação antes da acção que se exige, na justiça e em tudo o mais.

6 comentários:

M.C.R. disse...

Meu caro JCP
Tem v. carradas e carradas de razão. Os magistrados conseguem fazer passar a má imagem quando, basta ir a um tribunal, para ver as condições em que trabalham. Eu que não sou magistrado nem operador (boa descoberta esta do operador) de direito, tive há pouco a confrangedora prova de que suam bem suado o dinheirinho que empacham. de facto fui administrador judicial de uma (pouco) Santa Casa de misericórdia ereuni um par de vezes com o procurador que me pareceu ser bom profissional e sério. O homem tinha o escasso gabinete carregado de pilhas de processos, não havia hipotese de o contactar via e-mail: a internet tina dado o bafo enfim aquilo era uma tristura.
isto eles não vconseguem passar cá para fora. O procuradores e demais operadores façam uma semana de portas abertas, gente, não estejam para aí alapados na vossa indignação a pensar qu o pagode vos vai dar razão assim sem mais nem menos. usem a imaginação, criaturas de Deus! A imaginaçãozinha, as pequenas células cinzentas de que falava Poirot, esse mesmo o da AgathaChristie...
a propósito, JCP p seu um pouco mais de azul fica muito bem com os blues da nossa querida sílvia e co, o 2um pouco mais de verdade2 da não menos Kamikase: este blogue está que ferve, não acha ó impretérrito fumador de MonteCristos nº 5?
um abraço do seu
mcr.

Primo de Amarante disse...

O que é estranho, é que as questões ligadas às condições de trabalho são antigas e foi preciso que surgisse a ameça de limitação de férias para que se despoletasse esta "guera"

E parece que vale tudo! A propósito, fiz o comentário 45 de um post mais abaixo.

Entretanto, o que mais prejudica a imagem da Justiça está em muitas decisões que nada têm a ver com as condições de trabalho, os vencimentos, as carreiras, as férias ou o sistema de saúde. São as decisões, que levam a opinião pública a interrogar-se: será que um "pilha galinhas" seria assim tratado pela Justiça?!...

Mocho Atento disse...

Toda esta problemática está fora dos eixos e da verdade.

1º Não é verdade que os magistrados sejam todos trabalhadores abnegados, sacrificados, preocupados com a Lei e a Justiça.
Na verdade, há de tudo na profissão (sim, trata-se de uma profissão muito honrosa, mas não é um cargo de mérito, honra ou privilégio).

2º Os magistrados optaram por ser funcionários (por isso fizeram greve).
Assim sendo, não se podem admirar de passarem a ser tratados como funcionários (e lá se foi a independência!)

3º Nem todos os magistrados são muito bons e excelentes.
Na verdade, não parece que haja grande avaliação de mérito, nem discriminação positiva a favor dos que realmente merecem reconhecimento pelo alto valor do seu trabalho em prol da sociedade.

4º Não é verdade que todos tenham pésssimas condições de trabalho.
Na verdade têm as que são possíveis e às vezes as que são "impossíveis".
Na verdade, há que fazer o levantamento sério das necessidades e resolvê-las com calendarização e orçamentação devidas.

5º Não é verdade que todos tenham uma eficiência total.
Na verdade, nos últimos anos, cada vez se fazem menos julgamentos por dia. Onde antes se faziam 4 ou 5 nujma manhã,; hoje, com sorte, faz-se 1 cada dois dias. E a culpa não é das garantias!è da falta de vontade generalizada em todos os agentes processuais de irem adiando as soluções (até porque os advogados são taxistas, ganham ao metro percorrido e minuto decorrido! A Ordem, o Instituto do Consumidor e outras venerandas instituições proibem a fixação de honorários baseados no acto praticado e no resultado; dizem que é contra os consumidores!!!)

6º Na verdade, o problema da Justiça não é culpa do Governo (deste e dos outros).
Na verdade, este ministro é deajeitado, mas a anterior foi um total desastre. Tem é de se publicar quem são os "patetas" (para não usar outra expressão mais adequada) que redigem as propostas de lei; quem são os professores que publicam estudos e pareceres absolutamente anedóticos,a que se presta vassalagem por aboluta subserviência feudal (sim, o feudalismo persiste neste país nas UNiversidades)sem que ninguém lhes diga que a falta de senso impede qulauqer boa solução para vosmproblemas sociais. Muita coisa pretensamente "científica" não passa de palermice de arrogante superioridade intelectual.

7º Na verdade, a greve teve motivações sindicais e não vale a pena disfarçar com outras conversas.
Na verdade, há problemas graves na Justiça, mas ninguém quer resolvê-las, porque o diálogo entre os diferentes operadores não é franco, não é verdadeiro, nãp é sincero; apenas é correcto,cordial e institucional.
Nenhum diálogo é possível quando cada sector declara e proclama que a culpa dos outros (nunca dos senhores magistrados, porque todos deles dependem).

Kamikaze (L.P.) disse...

JCP, venha mais vezes por aqui, traga o Carteiro, a "um pouco mais de azul" que há muito anda desaparecida desta instância, e talvez o ambiente desanuvie mais facilmente...

Posso meter uma cunha para uma sinecurazita como assessor sindical, jovial m.c.r.?

Oportuno reaparecimento, caro Mocho!

Magnolia, a sua flor faz falta neste canteiro... faça-se ouvir mais vezes!

Na mouche, compadre...

Bem haja pelo momento de bom humor, Mano Pedro!

Obrigada por partilhares conosco as peripécias do teu árduo dia a dia, Francisco. O Mano Pedro já fica a saber que, pelo menos tu, não reivindicarás gabinete, pese embora a despesa acrescida no teu orçamento familiar - afinal poder ir ao limiano a qualquer hora também dá jeito, não dá? :)

M.C.R. disse...

JCP, dá-me boleia para responder à nossa Kami?
Muito obrigado.
Kami: como sabe tenho amigos magistrados. Cada vez que os visito nem acredito no que vejo. Aquilo não são gabinetes, são armazens de adeleiro para não usar uma metáfora mais contudente.
É por isso que, sem propriamente tomar a defesa dos "desgraçadinhos", entendo dever pôr alguns pontos nos ii.
Os juizes e os procuradores ganham muito mais do que eu. Nem por isso lhes peço mais trabalho mas trabalho bem feito.
O nosso amável mocho disse algumas violentas verdades mas, cá para mim, entendo que com a "não celeridade" da justiça muito folgam os advogados. As vítimas penam ? Ah isso é com elas...
O respeito por uma profissão (e por todas falo dos professores primários) passa por ser conhecida a sua acção, os valores que defende, a necessidade dela e ...os resultados que a sua NÃO EXISTÊNCIA acarretaria.
É isso que o pagode desconhece e não é a defender o verãozinho ou o subsistema de saúde que os operosos operadores dos tribunais lá vão.
A segunda regra de ouro é fazer-me perceber a mim que até sou licenciado em direito que tudo têm feito para fazer a justiça re-entrar nos eixos (onde não anda).
É preciso que se explique (ao pagode) porque é que a D Fátima Felgueiras se pira do pais, volta sem a incomodarem, anula prova e julgamento e tudo o mais.
Olhe, Kami, era preciso ue houvesse uma Procuradoria Geral que mantivesse com os media uma relação aberta que permitisse fazer chegar ao pagador de impostos o porquê das coisas, os "ratés" da máquina judicial.
Contatem o homenzinho dos farmaceuticos, Kami! Esse explica porque é que a viramina B tem o preço que tem. E arreia nos ministros. E a malta vai à mesma à farmácia. Pudera!
Estou todavia disponível para assssor sindical: E não preciso de gabinete de trabalho...
Basta que me paguem o mesmo que o inócuo serviço onde vou sobrevivendo. Mal!
Os meus estimáveis interlocutores farão o favor de me perdoar as gralhas infames com que carrego os meus comentários. É de propósito: assim percebem melhor porque é que ás vezes não percebemos os senhores magistrados. Só que eles não gralham os textos: tornam-nos confusos! E esta, hem?

O meu olhar disse...

Concordo com muito do que li nos comentários. Com o Mocho Atento
oncordo em pleno com a sua reflexão.

Relativamente ao testemunho de Francisco Bruno das Costa, para além do bom humor que transmitiu, desencadeou em mim uma reflexão, o que também é positivo.
Como sabem, a moda do teletrabalho chegou há alguns anos a Portugal. Teve um êxito inicial, que rapidamente abrandou e agora ouve-se falar esporadicamente. No caso dos juízes que trabalham em casa, é uma versão um pouco diferenciada deste modelo. Várias razões estão na origem do desencanto para as empresas: a mistura do trabalho profissional com a vida caseira traz um decréscimo acentuado da produção (veja-se o referido testemunho); dificulta muito a formatação e cumprimento de um horário (veja-se o referido testemunho); reduz substancialmente a possibilidade de partilha e reflexão em equipa; subtrai a possibilidade do estabelecimento e laços com outros elementos ao nível organizacional e com a própria organização, enquanto tal. Resultado: as condições são boas para o próprio, apesar de as pagar, mas são más para quem lhes paga, desde que o pagamento não seja feito à peça, o que não é o caso dos juízes.
Assim, a produção em casa, salvo raras excepções, funciona em desfavor da organização. Por isso, não compreendo que o Ministério da Justiça não invista em condições de trabalho adequadas e também que exija uma produção adequada. Só ganhava com isso; os juízes e todos nós também.

Claro que para mim é difícil compreender a razão pela qual os juízes aceitaram e aceitam trabalhar nestas condições. As opções são sempre, sempre, do nosso lado. Se optaram por deixar correr… sofrem o resultado da vossa decisão. Estranho pois, que quando são cortados benefícios expludam protestos pelas condições de trabalho.