Frauenkirche. Salvo melhor opinião isto quer dizer “igreja das mulheres” coisa que, desde o século III, é bastante discutível. De facto os “padres da Igreja” não tinham a gens feminina nos seus piedosos corações. Houve mesmo um que disse a respeito da criação de Eva: “Se Adão precisasse de alguém para conversar, Deus poderia ter criado outro homem”. Não sei como é que este pio devoto resolvia o problema da sobrevivência do género humano, mas isso é ponto teológico a que me não atrevo. Frauenkirche, dizia eu. Ou uma das mais belas igrejas alemãs, barroca até dizer chega, e que o estúpido bombardeamento de Dresden não poupou. Esteve en ruínas mais de cinquenta anos. Está de novo de pé, graças á mobilização de muitos milhares de vontades. Muitos ingleses mandaram o seu óbolo o que é bem bonito. Ah se nós europeus quiséssemos…
Rosa Parks: ou a costureira negra que um dia disse não. Alem do mais, disse não em Montgomery. no Sul profundo e racista… Alguém disse que ela foi um exemplo para a América e para o mundo. Sobretudo para o mundo. Se calhar para nós que agora temos os imigrantes negros dentro de portas. Se calhar para os senhores presidentes de câmara da cintura de Paris. Foi bonito ver os autocarros de Montgomery todos com uma só direcção: Rosa Parks. E uma enorme coroa de flores no capot. Foi bonito ver essa América de que, tantas vezes, iradamente discordamos, homenageá-la no Congresso. E ouvir um spiritual cantado por Aretha Franklin, a mulher cuja voz foi considerada monumento natural do estado de Michigan.
Quem tem tv cabo e power box pôde ver na semana passada Adriano Celentano e Roberto Benigni ( o tal de A vida é bela…esse mesmo) fazer humor sobre Berlusconi. O visado sente-se alvo de um linchamento mediático!!! Ontem Celentano repetiu a dose no seu programa Rock politic. É na RAI 1 às quintas-feiras. Apressem-se porque na próxima acaba.
Neste mesmo programa, apareceu um grupo de bailarinos presumivelmente eslavos a dançar o Kalinka: de repente voltei quarenta anos atrás aos tempos da faculdade e ao que cantávamos então. Kalinka nunca falhava. Claro que só sabíamos dois versos mas o entusiasmo cobria o resto. Felizes tempos esses em que o mundo era a preto e branco e tínhamos esperança num mundo outro. Depois foi o que se viu e o que dolorosamente fomos sabendo. Os amanhãs deixaram subitamente de cantar e do temps des cerises perdeu-se o rasto.
Foi há quarenta anos, ou um pouco mais: No cancioneiro Vértice saía mais um livro. E nesse livro um poema dedicado ao Fernando Assis Pacheco. E nesse poema isto:
E agora?/ Agora uma nação. Abrir janelas / caminhar sobre espadas.
Quarenta anos depois, alguns blogers do incursões assistiram ao lançamento do livro da Sílvia. Do belo livro da “nossa” Sílvia.
O coração lavado na surpresa
Inventa uma parede para o amor
O homem caminha
O peso dos seus passos.
Não se recusa amor ao próprio amor.
Falo-te em voz baixa…
Um blues, senhores.
Por favor um blues
Tudo o que digo é um sentido.
Sílvia não se zangue; mas eu apanhei uma mão cheia de versos seus, misturei-os e aqui lhos devolvo como se fora um ramo de rosas bravas que atravessem o mar e lhe digam da nossa alegria e…porque não? Do nosso orgulho em a termos como companheira de aventura bloguista.
Digo nosso porque suponho que os restantes assistentes ao lançamento concordam comigo.
Rosa Parks: ou a costureira negra que um dia disse não. Alem do mais, disse não em Montgomery. no Sul profundo e racista… Alguém disse que ela foi um exemplo para a América e para o mundo. Sobretudo para o mundo. Se calhar para nós que agora temos os imigrantes negros dentro de portas. Se calhar para os senhores presidentes de câmara da cintura de Paris. Foi bonito ver os autocarros de Montgomery todos com uma só direcção: Rosa Parks. E uma enorme coroa de flores no capot. Foi bonito ver essa América de que, tantas vezes, iradamente discordamos, homenageá-la no Congresso. E ouvir um spiritual cantado por Aretha Franklin, a mulher cuja voz foi considerada monumento natural do estado de Michigan.
Quem tem tv cabo e power box pôde ver na semana passada Adriano Celentano e Roberto Benigni ( o tal de A vida é bela…esse mesmo) fazer humor sobre Berlusconi. O visado sente-se alvo de um linchamento mediático!!! Ontem Celentano repetiu a dose no seu programa Rock politic. É na RAI 1 às quintas-feiras. Apressem-se porque na próxima acaba.
Neste mesmo programa, apareceu um grupo de bailarinos presumivelmente eslavos a dançar o Kalinka: de repente voltei quarenta anos atrás aos tempos da faculdade e ao que cantávamos então. Kalinka nunca falhava. Claro que só sabíamos dois versos mas o entusiasmo cobria o resto. Felizes tempos esses em que o mundo era a preto e branco e tínhamos esperança num mundo outro. Depois foi o que se viu e o que dolorosamente fomos sabendo. Os amanhãs deixaram subitamente de cantar e do temps des cerises perdeu-se o rasto.
Foi há quarenta anos, ou um pouco mais: No cancioneiro Vértice saía mais um livro. E nesse livro um poema dedicado ao Fernando Assis Pacheco. E nesse poema isto:
E agora?/ Agora uma nação. Abrir janelas / caminhar sobre espadas.
Quarenta anos depois, alguns blogers do incursões assistiram ao lançamento do livro da Sílvia. Do belo livro da “nossa” Sílvia.
O coração lavado na surpresa
Inventa uma parede para o amor
O homem caminha
O peso dos seus passos.
Não se recusa amor ao próprio amor.
Falo-te em voz baixa…
Um blues, senhores.
Por favor um blues
Tudo o que digo é um sentido.
Sílvia não se zangue; mas eu apanhei uma mão cheia de versos seus, misturei-os e aqui lhos devolvo como se fora um ramo de rosas bravas que atravessem o mar e lhe digam da nossa alegria e…porque não? Do nosso orgulho em a termos como companheira de aventura bloguista.
Digo nosso porque suponho que os restantes assistentes ao lançamento concordam comigo.
6 comentários:
Quem me dera ter lá estado também! Beijos a todos e á Sílvia, em particular
MCR,
Obrigada. Pelas palavras, pela presença. Pelo ramo de rosas. Para mim são também uma alegria. E a amizade que se vai construindo, uma nova alegria.
Um grande abraço,
Silvia
Amélia,
Também eu gostaria de ter estado lá. : )
Um beijo, querida.
Silvia
A grande parte anto berlusconi foi na sessão anterior com a cumplicidade do Begnini. Nesta também houve mas foi menor, muito menor. Infelizmente não verei a de quinta porque estarei na capital do império e cheira-me que na casa de minha mãe não há power box.
Os bloguistas que não têm o livro da sílvia podem pedi-lo para a Livraria Lello, rua dos Carmelitas Porto. A editora chama-se Cosmorama mas não teve o cuidado de pôr a direcção no livro . O preço é de €12,60 se não estou em erro.
Concordo totalmente consigo MCR. È um orgulho ter a companhia da Sílvia nestas caminhadas.
Sílvia, parabéns pelo seu belo livro!
Eu tinha escrito um texto para ser lido no dia do lançamento. Soube agora, que no meio de tantos afazeres, de tantos contratempos o texto não foi lido. Dirigia-se aos amigos, como vocês, que lá estariam . Gostaria de colocá-lo aqui mesmo nos comentários, hoje. Porque só hoje tive certeza de que não souberam dele, porque gostaria que soubessem e porque o tempo já se passou e não cabe, penso colocá-lo num post.O tempo passa e destitui de importância as coisas a não ser para aquelas pessoas que de fato se importam com elas.
Assim, aqui está, com uma pequena edição:
Amigos
É quase quatro de novembro e não saberei dos vossos olhares . Minhas palavras viajaram longe, suas pernas e braços não se cansaram.
Não são eu mesma, são as muitas de mim e nenhuma delas . Esta é a minha liberdade. São minha procura, meu afeto. São minha esperança e minha desesperança depositadas na linguagem . Numa linguagem que quer pensar o mundo, olhá-lo, atravessá-lo, refleti-lo. Desprezar as categorias lógicas da linguagem. Elevar o significante à altura da viagem, da melodia. Buscar forma e música , conteúdo e visão de mundo, a minha, a vossa. Sim, vossa. Sempre há esta transição quando lemos.
Proponho que o poema pense, provoque, viva, toque. Toque a pele, a alma, os músculos, a vossa vida, mesmo que por um átimo. E que acima de tudo, subverta. Nada é mais subversivo do que o contato conosco mesmos. Este impacto. Esta possibilidade de (re)criar espaços de pensamento, de emocionalidade, de verdade pessoal.
Meus poemas hoje vos recebem, nus. E é aí que a minha presença é dispensável.
É aí que eu não importo aos poemas, ou à (vossa) leitura deles. É aí que atravessada pelas palavras, desapareço . Sem deixar de existir.
Ainda que eu gostasse de receber os amigos, de agora e futuros. Ainda que eu gostasse de os abraçar. De os conhecer.
(...)
Estes são poemas de uma mulher que nunca publicou antes, que não é portuguesa, e que começou a escrever tarde (demorei a encontrar minimamente as palavras que buscava, na verdade ainda as procuro). Um conjunto de contra-sensos. Editá-los seria o cúmulo da loucura, do atrevimento? Talvez seja isto : é preciso que as pessoas enlouqueçam, se atrevam, para que a vida se mova.
(...)
Agora amigos, Por Favor, Um Blues, deixa de ser meu, é vosso.
Sejam muitíssimo bem-vindos !
Meu grande abraço com a promessa de uma visita próxima,
Silvia Nogueira da Gama Chueire
Rio de Janeiro , 03 de Novembro de 2005
citando o almirante Américo Tomaz: só tenho um adjectivo: gostei.
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