02 dezembro 2005

As presidenciais

Vai pobre a pré-campanha para as eleições presidenciais. Muita saída à rua, muitos abraços, muita entrevista, mas poucas ideias e pouca clarificação sobre o exercício da função. Já aqui referi qual é o meu campo e quais têm sido as minhas opções, mas confesso que nunca vivi umas eleições presidenciais com tanto distanciamento.
Cavaco é…Cavaco. Representa aquilo que não é (magnífica a crónica de Joaquim Fidalgo no “Público” de terça-feira!) e faz campanha como se estivesse a concorrer para primeiro-ministro. Impante, não sei se ele perdoaria ao país uma nova derrota!
Jerónimo e Louçã representam o lado folclórico da política, numa corrida em que não têm quaisquer hipóteses de vitória, sendo que a sua única preocupação é segurar o eleitorado dos respectivos partidos.
Alegre tem-me desiludido bastante. Juntou à sua veia aristocrática e à sua altivez (afirmam os que com ele trabalham…) uma enorme insensatez. Não acerta o seu discurso, a mágoa tolhe a lucidez de análise e o episódio da (não) votação do Orçamento de Estado é revelador da teia de incoerências em que está enredado.
Mário Soares tem feito o seu percurso, vai à luta, não teme os confrontos e normalmente solta-se nas entrevistas. Aqui e ali excede-se, mas tem qualidades notáveis que não se apagam com o passar dos anos. Não sou um apaixonado pela sua candidatura, o que até me levou a declinar um convite para assumir um lugar na estrutura de campanha, porque entendo que, depois de dizer o que disse e nesta fase da sua vida, Soares devia dar um outro testemunho e um outro exemplo, evidenciando desapego pelo poder e promovendo a renovação da classe política. Ainda assim, creio que Soares acabará por recolher a maioria dos votos da esquerda, o que pode ou não ser suficiente para provocar uma segunda volta e, aí, derrotar Cavaco e os partidos que o apoiam.

1 comentário:

M.C.R. disse...

Na 2ª volta voto em qualuer um dos candidatos á esquerda. apesar de apoiar Alegre, entendo que ele não tem sabido sempre evitar as escorregadelas. Pessoalmente teria ido ao parlamento e votaria com declaração de voto.
todavia acho que o seu texto programático é bem conseguido e atrevo-me a dizer superior ao de Soares, que seria o meu candidato como já foi,
Também não estou de acordo com o termo folclórico para os dois outros candidatos. Jerónimo não o é claramente e está a aproveitar o espaço da campanha para difundir a mensagem do pcp. Já Louça é mais dificil embora me pareça que também veio aproveitar a tribuna assim aberta e gratuita.
Cavaco diz o que sempre disse. Aí está um político que engoliu uma cassete. convinha que lhe dissessem que a campanha não é legislativa mas isso também não parece descoroçoar as multidões que o recebem em festa. Tem graça que sempre o achei homem de tentação plebiscitária. E pelos vistos...
Mas que a campanha vai fraquinha... ai isso não sofre discussão, não senhor.
Um abraço