Minha Querida Kamikase,
Eu já tenho poucas coisas realmente interessantes em que acreditar ou, como dizia o outro, sou macaco de rabo pelado. Contudo, por estouvamento consubstancial, por ingenuidade suicidária ou por burrice congénita sempre acreditei nalgumas máximas que o nosso povo, linguareiro e facilitador, usa e abusa. Uma delas será: quem está vivo sempre aparece ou estoutra: não há mal que sempre dure...
Tudo isto para Lhe dizer, aqui e não em comentário ao seu texto (está cheio de caracteres horríveis e inidentificáveis...) da grande alegria em vê-la regressar, triunfal e acutilante, mais "vento divino" do que nunca, e a arrear a giga comme il faut! Já telefonei (logo eu tão inimigo desse objecto fatal...) a não sei quantas pessoas para acudirem a este jovial ajuntamento e lerem com os próprios olhos como se destila meio quilo de cicuta em estado puro.
Eu nunca fui muito de Pai Natal, esse patusco avermelhado em honra da coca-cola. Mesmo que agora mo queiram impingir como S. Nicolau, seja o de Mira, padroeiro da Lorena e da Grécia, o de Tolentino (onde é que eu já ouvi este nome?), o de Flue, inimigo de Carlos o Temerário (filho da nossa Isabel de Avis...), ou os outros trinta onde se destaca o papa Nicolau I (o nosso Delfim há-de estar abananado com este conhecimento do Flos Sanctorum por parte de um leigo tão radical e soixante-huitard!!!)...
Em contra-partida sempre gostei dos reis magos. Os do ouro, mirra e incenso, navegando pelos desertos escaldantes das arábias felizes e infelizes, movidos por uma estrela longínqua e anunciadora. Na minha terra ou, melhor dizendo, na terra que adoptei como minha, há neste dia sempre um grande Auto de Reis a que, noutros tempos, ninguém faltava. Agora, sei lá... De todo o modo, os Reis: aí vinham eles com prendas singelas, numa cavalgata muito bonita por ruas e becos, pela praia, pelas matas circundantes que a cobiça dos empreiteiros converteu num deserto medonho de cimento (in)habitável no verão e em raros fins de semana. Ah que tempos: os Reis, os autos da Páscoa, o dia da Espiga, a noite de São João e a Senhora da Encarnação. Onde vai isso tudo?
Voltando à vaca fria: os Reis vieram mais uma vez, hoje guiados por Si. Bem haja por isso. E bom Dia de Reis aos restantes confrades: dêem-lhe no bolo rei, nas passas de figo, nas últimas rabanadas e no vinho fino.
E para os que tiverem a benção dum filho pequeno toca a ensinar-lhes:
Linda barquinha
que lá la vem
É uma barquinha
que vem de Belem.
Daqui a cinquenta anos ainda se lembrarão... garanto-vos.
06 janeiro 2006
Ah que belo Dia de Reis!
Marcadores: mcr
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7 comentários:
Caro amigo, como sabe eu não sou de fugir a esses compromissos. Por isso, ontem lá se começou com a noite de Reis - só não apareceu ninguém à porta a cantar os Reis, males urbanos!
Um bacalhau com todos, um queijo da serra, rabanadas e o último bolo-rei, acompanhados por um tinto do Dão, porto e whisky. Ao meu lado direito estava o amigo carteiro...e lá acabamos na minha varanda a ver chuva, a conversar e a fumar.
Como tenho um filho pequeno, vou ensinar-lhe a da barquinha.
Abraço
Sincero obrigada mcr, pelo seu ouro, incenso e mirra, em forma de post (3 em 1), que sinto me foram (também a mim) ofertados. E eu que nem me lembrava que era Dia de Reis!
Quanto aos intragáveis caracteres, no que seja da minha responsabilidade, designadamente a falta de acentos, as minhas desculpas...cá estou a tentar superar essa falha do meu portátil, com sucesso... e vou corrigir no post, que os incursionistas merecem!
PS 1- não há quem aceite o desafio do "nosso" Delfim (Lourenço) quanto à elaboração de um certo post? Se o próprio quiiser enviar, pode fazê-lo para o email do Incursões! Mais dia menos hora cá estaremos para o recepcionar!
Ps 2 - está atrasada a partida para Amarante. Será inconsciente receio das preofecias do jcp? :)
Ah, só mais uma coisinha que isto, como sabiamente me dizia o Carteiro há não mais que dois dias, é como andar de bicicleta:
Eu, que comungo com o mcr o radicalismo leigo (ainda que pos soixante-huitard), assinalo sempre a época natalícia "armando um presépio" (na minha terra diz-se assim), muito minimalista, é certo, mas que ainda dá para incluir os celebrados Reis Magos! "Desarmei-o" ontem... dá para acreditar?
Se fosse espanhola, para além de viver num pais em que o salário mínimo ronda os 550 € e é quase tudo mais barato que em Portugal, só hoje se teriam trocado as natalícios presentes! E ainda há quem não goste dos nuestros hermanos!
Quanto às demais datas que o mcr relembra, recordo o Dia da Espiga, que passava, miúda, em piqueniques familiares em Alte e, na juventude, a fugir da polícia (nem sempre com sucesso) e do dia de São Pedro, a saltar à fogueira... passatempos singelos numa singela terra de província.
E lá vou eu para Amarante, que já não era sem tempo!
Bom fim de semana (sem abreviatura, para não melindrar o mcr...:)
Meu caro JCP: aqui vai a segunda estrofe:
vou pedir ao senhoe barqueiro
que me deixe passar
Tenho filhos pequeninos
que não posso alimentar.
A pequenada vinha em comboio e ao passar pelos dois barqueiros estes perguntavam; laranja ou limão e consoante a resposta eram agrupados atrás de um dos adultos perguntadores.
Que o bacalhau e restantes petiscos lhe tenham dado prazer. Aliás tenho a certeza: que há de melhor que um amigo com boa conversa. E logo o Carteiro que está que ferve.
À vossa
É verdade, caro MCR, estou que fervo. E deve ter sido por isso que ontem senti mais o frio. O nosso amigo JCP e mais a sua Olga e mais o seu José Pedro, convidaram-me eu fui, ontem, Noite Reis, comer um bom bacalhauzinho a casa deles. Depois foi a coisa que se sabe, cigarrinhos na varanda- ele charuto, claro, e ele dizia que gostava daquelas noite em que chove e eu dizia que sim, que também gostava, o sobretudo vestido e a gola levantada, e ele dizia que não estava muito frio, e eu dizia que não, que estava uma noite bem boa.
Claro eu hoje senti uma pontada nas costas, reminiscências de uma peneumonia há uns 3 ou 4 anos e tive que me acamar durante uma horas, que é a única forma de a coisa me passar.
Claro que tudo isto é por respeito à Olga e ao Zé Pedro, que se fosse por ele, mandava-o áquela parte e tratava da minha saúde e fumava mesmo na sala...
Caro Carteiro: lembre-se do brocardo latino: Amicus certus in re incerta certitur!
Ou em lusitano barato : é nas ocasiões que se conhecem os amigos. Espero que a sua maleita já esteja passada.
Eu sei bem a verdade que diz, caro MCR., em relação aos amigos.
E além disso a pontada nas costas também não foi nada de especial.
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